BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) - Um dia depois de ganhar as eleições na Argentina, o presidente eleito Javier Milei começou a formar sua equipe, mas evitou anunciar um ministro para a Economia sob a justificativa de que o atual governo vai "sabotá-lo" antes que assuma. É a principal pasta num país em crise econômica crônica e 143% de inflação anual, e será a responsável por sua promessa de dolarização.

Em uma rodada de entrevistas a rádios locais na manhã desta segunda (20), o ultraliberal confirmou que, além de privatizar "tudo o que possa estar nas mãos do setor privado", cortará os atuais 18 ministérios para apenas 8, extinguindo pastas como Cultura, Mulheres e Ciência e Tecnologia.

Ele também indicou que visitará antes da posse, em 10 de dezembro, os Estados Unidos e Israel, que tratou durante toda a campanha como "mundo livre".

A maioria dos nomes anunciados até aqui é de seu núcleo duro, mas Milei afirmou que "vai surpreender": "Estamos integrando especialistas de diversas áreas [...]. Os mais talentosos estarão dentro, não importa de onde venham. O que importa é resolver os problemas dos argentinos, e não fazer testes de liberalismo no sangue", disse à Rádio Mitre.

Uma das pastas que fica é a da Justiça, a ser comandada pelo advogado de perfil midiático Mariano Cúneo Libarona, confirmou ele. Os dois se conhecem há cerca de dez anos, quando trabalharam juntos no conglomerado América do empresário milionário Eduardo Eurnekian, e hoje Libarona chefia um dos escritórios mais conhecidos de Buenos Aires.

Outro nome recém-anunciado é o de Carolina Píparo, rosto comum em seus atos de campanha e candidata derrotada pelo peronismo na província de Buenos Aires ?que é separada da capital. Ela ficará com a Anses (Administração Nacional da Segurança Social), um dos cargos estatais mais importantes, que controla aposentadorias e pensões e já foi de seu rival Sergio Massa de 2002 a 2007.

Mais uma pessoa tida como certa em seu governo, mas que ainda sem confirmação após as eleições, é Guillermo Francos como ministro do Interior. Ele era representante da Argentina no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) até dois meses atrás e também já foi presidente do banco público Província em gestões peronistas.

A segunda delas é o chefe de gabinete Nicolás Posse, que segundo Milei já se comunicou com seu equivalente no governo de Alberto Fernández, Agustín Rossi, para iniciar a transição. Posse é outra figura que o ultraliberal conheceu em seu passado no grupo de Eurnekian, que é responsável pelos principais aeroportos argentinos.

Para o Brasil, um nome importante é o de Diana Mondino, há meses cotada como ministra das Relações Exteriores. Na manhã desta segunda ela publicou uma foto nas redes sociais com Milei e outros aliados no hotel Libertador, no centro de Buenos Aires, que virou bunker da campanha nos últimos meses. "Trabalhando para reduzir o Estado e eliminar impostos", escreveu.

Se confirmada, a economista, que não é diplomata de carreira, terá a difícil tarefa de moderar as declarações do chefe sobre Brasil e China, por exemplo, com quem o ultraliberal já afirmou que não vai se reunir por serem comunistas. Em entrevista à Folha em outubro, ela disse que é preciso "separar governo, Estado e iniciativa privada".

"O governo Milei não quer ter relações próximas com alguns países, mas não vai colocar nenhum empecilho para que as partes privadas dos países façam comércio entre elas", rebateu. Sobre o Mercosul, bloco do qual Milei disse querer se afastar, Mondino relativizou dizendo que a ruptura não seria tão brusca.

"Uma união aduaneira de 30 anos tem de ser revista, e queremos participar dessa revisão. Quando o Mercosul começou, Uruguai e Paraguai eram países pequenos. Hoje são economias maiores, merecem outro tratamento", defendeu, acrescentando que a Argentina tentaria firmar o máximo de acordos de livre comércio com outros países, ainda que isso vá contra o estatuto do bloco.

Sobre seu plano para lidar com as ditaduras da América Latina, ela respondeu que sua diplomacia seria feita "por meio do exemplo". "Se somos uma democracia liberal e se nosso modelo nos trouxer prosperidade, então os demais países vão preferir nos imitar em vez de seguir com seus modelos comunistas falidos", disse.

O economista Emilio Ocampo é mais um nome anunciado há tempos por Milei. Autor do livro "Dolarização", escolhido pelo libertário como guia para seu projeto de dolarizar a Argentina, Ocampo assumiria o Banco Central com uma tarefa inusual: fechá-lo.


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