BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de não telefonar ou enviar uma mensagem pessoal parabenizando o vencedor nas eleições presidenciais argentinas, o ultraliberal Javier Milei, lembra postura adotada há quatro anos por seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL).
No entanto, há diferenças entre os dois comportamentos.
Apesar de não fazer contato direto, Lula escreveu em sua rede social, pouco após a vitória de Milei, uma mensagem parabenizando as instituições argentinas pela eleição e desejou "sorte e êxito ao novo governo" --sem citar o nome do eleito.
"A democracia é a voz do povo, e ela deve ser sempre respeitada. Meus parabéns às instituições argentinas pela condução do processo eleitoral e ao povo argentino que participou da jornada eleitoral de forma ordeira e pacífica", escreveu o presidente.
Bolsonaro, no momento da vitória de Alberto Fernández em 2019, disse publicamente que lamentava a eleição do peronista e que não pretendia parabenizá-lo pela vitória nas urnas.
Em comum, há o fato de que Lula não pretende ir à posse de Milei. Bolsonaro enviou seu então vice, Hamilton Mourão, para a cerimônia que empossou Fernández.
Milei, 53, foi eleito presidente da Argentina no domingo (19), superando o candidato governista e atual ministro da Economia, Sergio Massa.
O resultado desagradou o governo do presidente Lula e o Partido dos Trabalhadores, que buscaram nos bastidores apoiar a candidatura de Massa. Na reta final da eleição, o próprio presidente usou parte de uma live para mandar um recado velado ao povo argentino.
Afirmou, na ocasião, que era necessário um presidente argentino que "goste de democracia" e que "goste do Mercosul". Milei atacou diversas vezes o bloco sul-americano. Ameaçou deixá-lo, mas seus auxiliares têm moderado o discurso desde o resultado do pleito.
O ultraliberal, por sua vez, desferiu uma série de ataques ao Brasil e também diretamente a Lula. Disse que Lula era um "comunista", um "corrupto" e que não pretendia negociar com ele.
Lula também falou sobre a eleição no país vizinho durante a formatura da nova classe de diplomatas do Itamaraty. Afirmou que não precisa "gostar do presidente do Chile, da Argentina, da Venezuela" e que haverá "problemas políticos" no futuro da região. "Acho que estamos numa fase melhor do que quando eu deixei a Presidência. Se bem que estamos vivendo algumas confusões na América do Sul. Não é a mais a mesma de 2002, 2004 e 2006. Vamos ter problemas políticos", disse.
Integrantes do governo avaliam que a manifestação do chefe do Executivo foi calculada. De um lado, reconheceu o resultado do pleito, mas manteve distância dos ataques feitos por Milei durante a campanha.
Em 2019, quando Fernández tomou posse, Lula tinha deixado a prisão havia pouco tempo e tinha sido convidado a comparecer. Achou melhor não ir. Bolsonaro, por sua vez, fez questão de fazer referência a Fernández. Não o parabenizou e deixou claro que a relação seria complicada.
O peronista já havia participado de live com Lula e era um defensor da sua libertação. No dia em que foi eleito, fez menção a Lula e compartilhou nas redes uma foto fazendo dois Ls, o símbolo usado por apoiadores para a campanha "Lula Livre".
A primeira interação direta entre Bolsonaro e Fernández aconteceu apenas em julho do ano seguinte, quase nove meses após a eleição, quando ambos participaram da Cúpula do Mercosul. O evento aconteceu de maneira virtual devido à pandemia da Covid-19.
Os presidentes brasileiro e argentino só tiveram uma reunião bilateral, também virtual, quase um ano após a posse de Fernández, em novembro de 2020.
VICES NA POSSE
Assim como Jair Bolsonaro, o presidente Lula não planeja ir à posse do desafeto argentino e pretende enviar um representante. O ex-presidente brasileiro enviou o seu vice Hamilton Mourão em seu lugar.
O petista ainda não oficializou a sua decisão de não comparecer, mas seus interlocutores afirmam que Lula também tende a enviar o seu vice, Geraldo Alckmin (PSB).
Há uma avaliação entre auxiliares palacianos que a ida de Lula só traria mais desgastes, uma vez que o ambiente será hostil a ele. Bolsonaro prepara uma caravana de cerca de 40 pessoas para a posse do aliado, com parlamentares e até governadores.
Devem ir, por exemplo, os governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Romeu Zema (Novo-MG) e Ratinho Jr. (PSD-PR). O ex-presidente também vai levar sua esposa, Michelle, e o filho e deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
Numa aparente atenuação da retórica, o presidente eleito da Argentina disse que Lula "será bem-vindo" caso decida comparecer à posse, no dia 10 de dezembro. "Ele é o presidente do Brasil", afirmou Milei.
Apesar dos discursos inflamados durante a campanha, interlocutores dele já fizeram chegar recados ao governo brasileiro de que as relações com o país são importantes, numa tentativa de reduzir atritos.
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