SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A mulher de um dos mais poderosos integrantes do governo da Ucrânia, o chefe de espionagem militar Kirilo Budanov, foi envenenada e está internada. A informação foi veiculada pelo canal público Suspilne e por diversos veículos privados do país.
Não houve comentário oficial do órgão chefiado por Budanov, o GRU (Diretoria Principal de Inteligência, na sigla ucraniana). Maria Budanova, segundo a mídia local disse citando informantes anônimos, teve intoxicação aguda por metais pesados.
É a primeira vez que alguém da família de um integrante do alto escalão ucraniano é envenenado desde o início da guerra, com a invasão russa de 24 de fevereiro do ano passado. No começo do mês, um assessor do principal general do país, Valeri Zalujni, morreu ao receber um presente-bomba.
Segundo o jornal Ukrainska Pravda, o envenenamento de Budanova ocorreu por meio de alimentos, e outros membros da direção da GRU também teriam sido afetados.
Como não houve comentários oficiais, ninguém apontou um culpado: Budanov é temido dentro e fora do país, e tem diversos adversários internos. Mas a seta, até pelo contexto da guerra, vai sempre apontar para Moscou.
É longa a lista de adversários do Kremlin que acabaram envenenados nos últimos anos, ainda que não necessariamente eles tenham sido atacados diretamente pelo governo --rivalidades internas que acabam mal para um lado são uma tradição local.
Isso dito, notórios críticos do governo de Vladimir Putin ou morreram, como o ex-espião Alexander Litvinenko em 2006 ao tomar chá com o elemento radioativo polônio-210, ou quase, como o ex-espião Serguei Skripal em 2018 e o ativista oposicionista Alexei Navalni, em 2020, esses dois pelo agente neurotóxico soviético novitchok.
Budanov é especialmente odiado na Rússia porque a GRU é responsável por diversos ataques em território russo ou ocupado, como a Crimeia anexada em 2014. Ele admitiu, em uma entrevista neste ano, estar por trás de ataques feitos por sabotadores infiltrados contra bases aéreas russas com drones.
A GRU também operou incursões para a destruição de baterias antiaéreas na Crimeia e opera parte da frota de drones marítimos contra navios russos no mar Negro. Na conta da agência também estão a morte por atentados da filha de um ideólogo nacionalista russo, Alexander Dugin, e de um blogueiro militar pró-Kremlin.
Budanov teve a prisão decretada "in absentia" por uma corte de Moscou por terrorismo, em abril. Budanov é uma figura conhecida pelo humor ácido, e costuma estrelar memes na internet. Ele disse no começo do ano que "iria continuar matando russos em qualquer lugar na face da Terra até a vitória completa da Ucrânia".
Ucrânia confirma abate de aeronaves na Rússia
Em outro desenvolvimento relativo à guerra, o porta-voz da Força Aérea ucraniana, coronel Iuri Ignat, confirmou algo que vinha sendo especulado há meses: que em maio um sistema de defesa antiaérea americano Patriot derrubou cinco aeronaves dentro do espaço aéreo da Rússia em maio.
O incidente ocorreu, segundo Ignat, em 13 de maio, pouco depois do recebimento da primeira bateria do Patriot, vinda da Alemanha. Ele listou como derrubados três helicópteros de ataque Mi-28, um avião de ataque Su-34 e um caça Su-35S.
Confirmada, será uma das maiores perdas da Força Aérea de Putin em um só dia na guerra, mas a questão é mais complexa: ela ocorreu sobre a região de Briansk, perto da fronteira da Ucrânia.
Um dos limites impostos pelos EUA e pelos países da Otan (aliança militar ocidental) no fornecimento de armas a Kiev é que elas só fossem utilizadas dentro das fronteiras internacionais ucranianas. O temor é de uma escalada em que o Ocidente seja acusado pela Rússia, a maior potência nuclear do mundo ao lado dos EUA, de ataque contra seu território.
O silêncio de todos os lados sugere que foi justamente o temor de uma escalada que manteve o tema sob sigilo oficial, inclusive do lado russo. A fala pública de Ignat ocorre, contudo, em um momento em que a Ucrânia teme perder apoio militar por uma série de fatores: fadiga com a guerra, mudança de ares políticos nos EUA e na Europa, o foco no conflito Israel-Hamas e o fracasso de sua contraofensiva.
Os combates em si continuam pesados, em especial em torno de Avdiivka, cidade do leste ucraniano que os russos parecem decididos a tomar apesar das pesadas baixas relatadas. No restante do país, as frentes seguem estáveis, afetadas também pela continuidade das chuvas e da neve em toda a bacia do mar Negro.
Ao menos duas pessoas morreram na Ucrânia devido a nevascas, e cerca de 100 mil pessoas ainda estão sem eletricidade na Crimeia, cortesia da chegada antecipada em um mês do "general inverno", tão famoso por influenciar o rumo de batalhas na região.
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