SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Após uma semana de trégua na guerra que provoca crise humanitária no Oriente Médio, Israel retomou nesta sexta-feira (1º) os bombardeios contra a Faixa de Gaza para eliminar o grupo terrorista Hamas. As ofensivas recomeçaram, segundo Tel Aviv, após a facção rival violar o cessar-fogo temporário ao disparar em direção ao território israelense.

A pausa de sete dias, que começou em 24 de novembro e foi prorrogada duas vezes, permitiu a troca de reféns mantidos em Gaza por prisioneiros palestinos e facilitou a entrada de ajuda humanitária na faixa costeira devastada. Foi o primeiro alívio desde o começo da guerra nos ataques ao território palestino, em grande parte reduzido a um terreno baldio em resposta aos atentados do dia 7 de outubro.

Durante a semana de cessar-fogo, 105 reféns foram libertados pelo Hamas, sendo 81 israelenses, 23 tailandeses e um filipino. Em troca, Israel libertou 210 mulheres e crianças prisioneiros palestinos.

Na última hora antes do fim da trégua, às 7h no horário local (2h em Brasília), Israel disse ter interceptado ao menos um foguete disparado de Gaza e os alarmes soaram em várias áreas próximas ao território palestino. O ataque foi a gota d'água para o recomeço do conflito, segundo Tel Aviv, embora o Hamas não tenha assumido responsabilidade e nenhum dano tenha sido registrado.

Autoridades palestinas relataram ataques aéreos e de artilharia israelenses em todo o território após o término da trégua. Jornalistas da agência de notícias Reuters em Khan Younis, no sul de Gaza, testemunharam bombardeios intensos. Milhares de moradores correram em busca de abrigo.

Apenas duas horas após o término do cessar-fogo, o ministério da Saúde de Gaza disse que 35 pessoas já haviam sido mortas e dezenas ficaram feridas em ataques aéreos que atingiram pelo menos oito casas.

"Com a retomada dos combates, enfatizamos: o governo israelense está empenhado em atingir os objetivos da guerra ?libertar nossos reféns, eliminar o Hamas e garantir que Gaza nunca mais represente uma ameaça para a população de Israel", disse nota divulgada pelo gabinete do primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu.

Diversas lideranças globais e organizações lamentaram a retomada da ofensiva. Ao criticar a guerra, a ONU afirmou que as pessoas no poder "decidiram que os assassinatos de crianças poderiam recomeçar". "É imprudente pensar que mais ataques contra Gaza levarão a qualquer coisa além de uma carnificina", disse James Elder, porta-voz do Unicef, órgão das Nações Unidas para a infância.

O Hamas acusou Israel de ser responsável por "retomar a guerra e a agressão" contra Gaza depois rejeitar durante a noite várias propostas para mais trocas de reféns por prisioneiros palestinos. Ao mesmo tempo, prometeu oferecer resistência.

"O que Israel não conseguiu durante os cinquenta dias anteriores à trégua, não conseguirá ao continuar sua agressão", disse Ezzat El Rashq, membro do gabinete político do Hamas, no site do grupo.

O Qatar e o Egito, países que atuam como mediadores na guerra, informaram que as negociações por um novo cessar-fogo temporário continuam. Tel Aviv havia estabelecido a libertação de dez reféns por dia como o mínimo que aceitaria para interromper sua operação terrestre e os bombardeios contra Gaza.

Um dos principais negociadores do Qatar, o diplomata Abdullah Al Sulaiti, que ajudou a intermediar a trégua, reconheceu em entrevista à Reuters que a manutenção do cessar-fogo era incerta. "No início, pensei que alcançar um acordo seria o passo mais difícil", disse ele em artigo que detalha os esforços nos bastidores pela primeira vez. "Descobri que sustentar o próprio acordo é igualmente desafiador."

Além da troca de reféns por prisioneiros, a trégua permitiu a entrada de ajuda humanitária em Gaza. Somente nesta quinta (30), 56 caminhões com suprimentos e combustível entraram no território palestino, segundo o Ministério da Defesa de Israel e o Crescente Vermelho Palestino, a Cruz Vermelha local.

Mas as entregas de alimentos, água, suprimentos médicos e combustível ainda estão muito abaixo do necessário, dizem os trabalhadores humanitários. Em reunião de emergência em Amã, o rei Abdullah, da Jordânia, instou autoridades da ONU e grupos internacionais a pressionar Israel a permitir mais ajuda.

Quando o cessar-fogo entrou em vigor pela primeira vez há uma semana, Israel se preparava para direcionar sua operação para o sul de Gaza após sua ofensiva de sete semanas no norte.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, em Israel durante sua terceira visita ao Oriente Médio desde o início da guerra, disse que disse a Netanyahu que Israel não pode repetir no sul de Gaza as enormes baixas civis e o deslocamento de residentes que ocorreram no norte.

"Discutimos os detalhes do planejamento contínuo de Israel e enfatizei a necessidade imperativa para os Estados Unidos de que a perda maciça de vidas civis e o deslocamento em escala que vimos no norte de Gaza não se repitam no sul", disse Blinken a repórteres em Tel Aviv.

"E o governo israelense concordou com essa abordagem", disse ele. Isso incluiria medidas concretas para evitar danos à infraestrutura crítica, como hospitais e instalações de água, e designar claramente zonas seguras, disse ele.

Israel prometeu aniquilar o Hamas, que controla Gaza, em resposta ao ataque do grupo em 7 de outubro, quando terroristas mataram 1.200 pessoas e fizeram aproximadamente 240 reféns, segundo balanço de Tel Aviv. As forças israelenses retaliaram com bombardeios e uma invasão terrestre. Autoridades de Gaza afirmam que mais de 15 mil palestinos morreram no território antes da trégua.


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