WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - O ex-presidente Donald Trump afirmou que não seria um ditador exceto pelo primeiro dia de sua Presidência, caso seja eleito na disputa no ano que vem. A declaração se dá em meio a uma preocupação crescente de analistas com a possibilidade da volta do republicano à Casa Branca e seu significado para a democracia americana.
Trump participou na noite desta terça (5) de entrevista a um programa do canal conservador Fox News. Questionado se prometeria não abusar de seu poder em retaliação a ninguém, o empresário respondeu que não tem intenções de fazer isso "exceto pelo dia 1". "Eu quero fechar a fronteira e perfurar, perfurar, perfurar [petróleo]."
Em seguida, o jornalista Sean Hannity, que entrevistava Trump, disse que isso não seria uma retaliação. "Eu amo esse cara, ele diz, 'você não vai ser um ditador, vai?' Eu disse: 'Não, não, não, a não ser pelo dia 1", retorquiu o pré-candidato.
Trump enfrenta quatro processos criminais, dois deles relacionados à sua tentativa de reverter a derrota para Joe Biden em 2020, alegando que houve fraude eleitoral. A recusa do ex-presidente em aceitar seu revés nas urnas foi, segundo acusadores, um dos combustíveis para a invasão do Capitólio por seus apoiadores em 6 de janeiro de 2021.
Caso o republicano seja condenado em âmbito federal, como presidente ele poderia em teoria se perdoar, o que faz soar o alarme sobre arroubos autoritários, junto com outras afirmações recentes do que pretende fazer em um eventual novo mandato.
Apesar dos problemas na Justiça, Trump segue como líder absoluto nas pesquisas de intenção de voto nas primárias republicanas, processo por meio do qual o partido escolhe seu candidato na disputa. Nesta quarta (6), um novo debate, mais uma vez sem a presença do empresário, ocorre entre os outros candidatos republicanos pela vaga --mas, conforme o início das votações se aproxima, no próximo mês, a nomeação de Trump é dada praticamente como certa.
Na entrevista, o republicano disse ainda que não acredita que Biden vá ser o seu adversário. "Eu pessoalmente não acredito que ele vai conseguir, ok?", afirmou.
"Eu pessoalmente não acredito que ele vai conseguir fisicamente. Eu o vi na praia. Ele não foi capaz de levantar uma cadeira de praia, que é feita para que crianças consigam levantar. E mentalmente eu diria que ele possivelmente está tão mal quanto, e talvez até pior", disse.
A opinião visa a ressaltar a principal fraqueza do atual presidente diante do eleitorado, que o vê como velho demais para exercer um segundo mandato, temendo pela sua capacidade física e mental. Relatos de falas confusas de Biden e tropeços --literais-- reforçam essa percepção e motivaram até uma operação da Casa Branca para diminuir os riscos de novas gafes e quedas em público.
O cuidado, no entanto, não foi suficiente para impedir que o democrata cometesse um sincericídio na noite desta terça. Enquanto Trump era entrevistado, Biden participava de um evento com doadores de campanha perto de Boston, onde admitiu que talvez não concorresse à reeleição caso o candidato republicano não fosse o empresário.
"Se Trump não estivesse concorrendo, eu não tenho certeza se eu estaria concorrendo. Mas nós não podemos deixá-lo vencer", afirmou o democrata em um evento na casa do ex-embaixador americano na Espanha Alan Solomont. O presidente discutia os riscos que seu predecessor no cargo oferece à democracia.
Biden disse que o adversário está "determinado a destruir a democracia americana" e que não está "nem escondendo mais o jogo". "Ele está nos dizendo exatamente o que ele pretende fazer."
A disputa entre os dois no próximo ano deve ser apertada. Pesquisas de intenção de voto até agora mostram o atual presidente ora empatado, ora atrás de Trump. Isso não significa, no entanto, uma mobilização grande do eleitorado pelos dois nomes, mas sim uma rejeição expressiva a ambos.
Pesquisas de intenção com eleitores democratas mostram que a preferência do partido seria por um outro nome que não Biden. Do lado republicano, a corrente majoritária do partido -inclusive doadores- tenta uma última aposta na ex-embaixadora nas Nações Unidas Nikki Haley como alternativa ao empresário, depois do derretimento da pré-candidatura do governador da Flórida, Ron DeSantis.
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