SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Na primeira cúpula presencial de China e União Europeia em quatro anos, nesta quinta-feira (7), o dirigente do país asiático, Xi Jinping, falou aos principais líderes do bloco para que as duas partes do encontro não se vejam como rivais nem "se envolvam em confronto" por causa de suas diferenças.
Embora ambos tenham saído da reunião em Pequim de acordo com a necessidade de uma relação comercial mais equilibrada, questões primordiais como a Guerra da Ucrânia ?uma das principais fontes de tensão entre China e Europa? ficaram em aberto.
Durante a cúpula, Xi defendeu "uma resposta conjunta aos desafios globais", e insistiu na importância da "confiança política" entre as duas partes. Já a presidente da UE, Ursula von der Leyen, disse que a China é o principal parceiro comercial do bloco. "Temos uma relação complexa com a China, que merece debates francos e abertos para aprofundar o entendimento mútuo", afirmou ela.
China e a UE intensificaram sua aproximação diplomática este ano com a intenção de fortalecer a recuperação pós-pandemia e restabelecer os seus laços. Desde que Pequim suspendeu as restrições relacionadas à crise sanitária, vários comissários do bloco visitaram o país, incluindo os chefes de comércio e clima.
As reuniões desta quinta foram a última chance de os líderes da UE terem contato pessoal com as autoridades chinesas no atual mandato, antes de as eleições para o Parlamento Europeu no próximo ano mudarem a chefia do bloco de 27 nações.
Algumas ações dos últimos dias mostraram a relação dúbia entre China e Europa. Às vésperas do encontro, por exemplo, a Itália informou oficialmente a China que está deixando a Iniciativa do Cinturão e Rota, segundo disseram fontes do governo italiano à agência de notícias Reuters na quarta-feira (6).
O movimento foi visto como um golpe para as relações entre as duas partes. Conhecido como Novas Rotas da Seda, o projeto chinês que já gerou US$ 2 trilhões em contratos tenta melhorar suas relações comerciais por meio de investimento em infraestrutura no exterior.
Um dos principais focos da UE na visita foi convencer Xi a impedir que empresas privadas chinesas exportem itens europeus com potenciais de uso no setor militar, como drones, para a Rússia enquanto o país estiver em guerra com a Ucrânia. Inicialmente, Bruxelas deixou essas empresas chinesas de fora de seu último pacote de sanções à Rússia.
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, instou a China a "se envolver construtivamente" nas propostas de paz de Kiev, mas autoridades da UE não indicaram novidades em relação às reexportações. "Gostaríamos que a China fosse muito clara em seu apoio à Carta da ONU e condenasse essa guerra causada pela Rússia contra a Ucrânia", disse ele.
Embora a China não tenha fornecido ajuda militar a Moscou, o país reforçou seus laços econômicos com a Rússia, enquanto o Ocidente tenta isolar o país. Em outubro, por exemplo, o presidente russo, Vladimir Putin, foi recebido em Pequim, onde Xi exaltou a "profunda amizade" entre as duas nações.
Esse nível de proximidade não foi demonstrado nas negociações com as autoridades europeias. Wang Lutong, diretor-geral do departamento europeu do Ministério das Relações Exteriores chinês, afirmou à imprensa na tarde desta quinta que Pequim não poderia influenciar Moscou. Segundo ele, a Rússia "é uma nação soberana muito independente".
Durante a cúpula, Michel disse também que a UE está preocupada com as crescentes tensões em torno de Taiwan, ilha próxima a China, com governo autônomo e regime democrático, mas que Pequim considera uma província rebelde e prometeu tomar um dia. "Nos opomos a qualquer (...) tentativa de mudar o status quo", afirmou ele.
Na economia, a China reagiu a uma investigação antidumping da UE a respeito de veículos elétricos chineses. He Yadong, porta-voz do Ministério do Comércio de Pequim, disse que a investigação "interrompe e distorce seriamente a cadeia global da indústria automobilística (...) e terá um impacto negativo nas relações econômicas e comerciais entre China e UE".
A União Europeia também se manifestou sobre a relação econômica com Pequim. "Politicamente, os líderes europeus não serão capazes de tolerar que nossa base industrial seja minada pela concorrência desleal", disse von der Leyen. A UE afirma que o déficit comercial de quase 400 bilhões de euros (R$ 2,1 trilhões) com a China reflete as restrições às empresas do bloco que operam no país.
Noah Barkin, pesquisador visitante do German Marshall Fund, disse que a cúpula foi, em grande parte, sobre "gerenciar diferenças e evitar uma queda no confronto". "O lado da UE alcançou seu principal objetivo, que era transmitir a seriedade de suas preocupações sobre os desequilíbrios na relação comercial e o apoio da China à Rússia", disse ele. "Mas seria errado esperar de Xi Jinping as mudanças econômicas e políticas fundamentais que a UE está buscando."
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