WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - Menos de três meses após sua última visita, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, veio mais uma vez a Washington pressionar o Congresso americano a liberar uma nova rodada de ajuda dos EUA ao país em guerra com a Rússia.

Em um último esforço para superar o impasse antes que congressistas entrem em recesso, na próxima semana, a Casa Branca coordenou a nova visita à capital americana. Na manhã desta terça (12), o ucraniano teve reuniões com deputados e senadores. Durante a tarde, Biden o recebeu para uma reunião fechada, seguida por uma entrevista conjunta à imprensa. Na véspera, Zelenski teve reuniões no FMI e no Banco Mundial.

Em conversas com congressistas, o ucraniano afirmou que, sem o apoio americano, o país se veria na posição de lutar uma "guerra de guerrilha" contra Vladimir Putin. Apesar dos apelos, o lobby de Zelenski não deve ter um grande impacto sobre o impasse no Congresso.

Reflexo desse cenário, muito diferente da primeira visita do ucraniano a Washington depois da eclosão da guerra, ele nem sequer foi recebido por Biden na entrada da Casa Branca. Em visitas anteriores, o americano, ao lado da primeira-dama, Jill, cumprimentou o líder ucraniano e sua mulher assim que saíram do carro, respeitando o cerimonial tradicional de uma visita de um chefe de Estado.

Antes do início da reunião, Biden disse a Zelenski que se o Congresso fracassar em aprovar o envio de mais recursos, isso será um "presente de Natal" para Putin.

Falando em seguida, Zelenski reforçou que acredita que as forças do país estão caminhando "na direção certa". "Eu quero discutir com o presidente Biden como fortalecer isso. Sobretudo, aprimorar nossa defesa aérea e nossa habilidade de destruir o logística da Rússia. Nossos objetivos para 2024 estão claros: acabar com a superioridade aérea russa e destruir suas operações ofensivas", disse.

Falando a jornalistas depois do encontro, ele reforçou que "quem controla os céus, controla a duração da guerra".

Biden, por sua vez, minimizou em entrevista a jornalistas a resistência da oposição, atribuindo a uma ala minoritária dos republicanos. Ele reforçou o apoio americano a Ucrânia, e fez um novo apelo para que o Congresso aprove seu pedido de recursos adicionais, afirmando mais uma vez que está disposto a fazer concessões na política imigratória em troca disso.

"Concessões são como a democracia funciona", disse. "O mundo está vendo o que estamos fazendo, e vai ser uma mensagem terrível a nossos aliados se dermos as costas à Ucrânia, e isso vai prejudicar nossos interesses de segurança nacional", completou o americano.

Questionado se estaria disposto a fazer um acordo com os russos, cedendo território em troca do fim da guerra, Zelenski disse que a ideia é "insana". "Pedir para ceder território é pedir para ceder o nosso povo. Eu não sei de quem é essa ideia, mas tenho uma pergunta para essas pessoas: elas estão dispostas a ceder suas crianças a terroristas? A resposta é não."

O ucraniano também foi perguntado sobre o que espera que aconteça caso o republicano Donald Trump seja eleito no ano que vem. "Eu conversei [hoje] com pessoas dos dois partidos, que reforçaram seu apoio à Ucrânia. Vamos considerar que esse apoio vai continuar e que a Ucrânia não vai ser deixada sozinha", respondeu.

Mais cedo, o Tesouro dos EUA anunciou novas sanções a mais de 150 organizações e indivíduos por supostamente colaborarem com a Rússia.

A maior resistência vem dos republicanos, que se opõem a gastar mais dinheiro com uma guerra no Leste Europeu, alegando que os EUA deveriam direcionar esses recursos para os seus próprios problemas -a fronteira com o México. Até agora, Washington já repassou mais de US$ 111 bilhões ao aliado.

A Casa Branca e o Departamento de Estado, por sua vez, alertaram que os recursos já autorizados estão próximos do fim e, caso um novo pacote não seja aprovado, o financiamento vai se esgotar até o fim do ano. O presidente americano, Joe Biden, vem afirmando que, se isso ocorrer, será um presente de Natal para o líder russo.

Em troca de liberar o pedido de financiamento suplementar, a oposição cobra da Casa Branca uma mudança na política migratória para reduzir a entrada ilegal de pessoas pela fronteira sul.

O governo sinalizou que aceita negociar, mas democratas no Congresso têm acusado essas concessões de radicais. Algumas propostas são a exigência de que solicitantes de asilo aguardem no México a análise de seus processos, e a instalação de mais centros de detenção.

O presidente da Câmara, Mike Johnson, afirmou depois de seu encontro com Zelenski que apoia o ucraniano em sua batalha contra a Rússia, mas que "a nossa primeira condição em qualquer pacote de segurança nacional suplementar é sobre a nossa própria segurança nacional".

Em outubro, Biden enviou ao Congresso um pedido de financiamento suplementar de US$ 106 bilhões, abrangendo repasses para Ucrânia, Israel, ajuda humanitária a Gaza, reforço das operações no Indo-Pacífico e nas fronteiras americanas. Desde então, o valor subiu para US$ 110 bilhões. Desse montante, US$ 61 bilhões são para Kiev e US$ 14,3 bilhões para Tel Aviv.

O pacote, no entanto, está parado no Senado, por falta de acordo na Casa. Na semana passada, republicanos bloquearam uma tentativa de avançar a tramitação. Eram necessários 60 votos favoráveis para que o pedido avançasse, mas foram alcançados apenas 49.

Depois de passar pelo Senado, o pacote ainda precisa ser aprovado na Câmara, onde deve enfrentar uma resistência ainda maior da ala mais à direita do Partido Republicano.


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