BOA VISTA, RR (FOLHAPRESS) - O Talibã anunciou nesta quinta-feira (4) que mulheres foram presas nesta semana em Cabul por supostamente usar o véu islâmico de forma incorreta, de acordo com o porta-voz do Ministério da Propagação da Virtude e da Prevenção do Vício, Abdul Ghafar Farooq.

As detenções são a primeira confirmação oficial da repressão do regime fundamentalista quanto ao estrito código de conduta e vestimenta que impõe desde que retomou a capital e o controle do país, após a atribulada retirada das forças militares americanas em agosto de 2021.

O porta-voz, no entanto, não detalhou quantas mulheres foram presas e em que consistia a forma incorreta de uso do véu que justificaria as detenções segundo a norma do Talibã.

Em maio de 2022, o regime lançou decreto segundo o qual mulheres deveriam cobrir rosto e corpo, podendo deixar apenas os olhos à mostra em público, além de recomendar o uso da burca, véu que cobre da cabeça aos pés, inclusive os olhos, e já foi obrigatório na primeira passagem do grupo islâmico pelo poder, de 1996 a 2001.

"Estas são as poucas mulheres limitadas que propagam o mau uso do hijab na sociedade islâmica", disse o porta-voz do ministério à agência Associated Press. "Elas violaram os valores e rituais islâmicos e encorajaram a sociedade e outras irmãs respeitadas a adotarem o mau uso do hijab."

Newsletter Lá fora Receba no seu email uma seleção semanal com o que de mais importante aconteceu no mundo *** As prisões ocorrem menos de uma semana depois que o Conselho de Segurança das Nações Unidas requereu um enviado especial para se envolver com o Talibã, especialmente em assuntos relacionados a gênero e direitos humanos.

O regime, porém, criticou a ideia, dizendo que os enviados especiais da ONU têm "complicado ainda mais as situações por meio da imposição de soluções externas".

As medidas do regime islâmico afegão ecoam ainda práticas do vizinho Irã, que há décadas impõe código de vestimenta para mulheres, com atuação de uma força policial específica para o assunto, resultante de interpretação radical do Islã.

A iraniana de origem curda Mahsa Amini, de 22 anos, morreu após detenção pela chamada "polícia moral", responsável pela imposição das regras. Agentes alegaram que ela sofreu um ataque cardíaco após ser detida para que fosse "convencida e educada" e negaram agressões. Entretanto, ativistas afirmaram à época que as abordagens do tipo eram violentas, muitas vezes com espancamentos.

A morte de Amini foi a faísca para imensos protestos pelo Irã, cuja repressão levou a mortes e, posteriormente, a condenações à pena capital a manifestantes.

O regime de Teerã recrudesceu a perseguição a opositores da sociedade civil e à imprensa, com detenções de jornalistas, muitas, mulheres.


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