TAIPÉ, TAIWAN (FOLHAPRESS) - Dois dias depois da eleição de um novo presidente que rejeita a reunificação com a China, Taiwan perdeu para Pequim um dos poucos países com as quais ainda mantinha relações diplomáticas, a República de Nauru.
A pequena ilha do Pacífico, que já havia reconhecido a China por três anos no início deste século, em lugar de Taiwan, voltou a fazê-lo. A maioria das nações, inclusive Brasil e Estados Unidos, optou pela mudança nas últimas décadas do século 20.
Desde 2000, 20 pequenos países, Nauru incluída, cortaram as relações com Taiwan, que conta agora com apenas 12, entre eles os latino-americanos Paraguai e Guatemala. O ministro do exterior, Joseph Wu, no momento do anúncio da troca, estava na capital guatemalteca para a posse do novo presidente daquele país.
O governo de Taipé foi surpreendido. O vice-chanceler, Tien Chung-kwang, afirmou que "Nauru sucumbiu aos incentivos" que teria recebido. "As autoridades de Pequim optaram por usar esse método para suprimir Taiwan, minando a estabilidade da comunidade internacional", disse ele, em coletiva. "Isso é não apenas uma retaliação contra os valores democráticos, mas um desafio à ordem internacional."
Em Pequim, a porta-voz do Ministério do Exterior, Mao Ning, afirmou que Nauru, "como país soberano, anunciou que reconhece o princípio de uma China, rompe as supostas relações diplomáticas com as autoridades de Taiwan e busca restabelecer os laços com a China". Acrescentou que "não existe mais do que uma China no mundo, Taiwan é parte inalienável do território da China".
Em nota, o ministério taiwanês acrescentou que "rejeita categoricamente a falácia do governo da República de Nauru, alegando que o rompimento é um reconhecimento do chamado princípio de uma China", que descreve como "apenas a posição unilateral da República Popular da China".
No sábado, o atual vice-presidente taiwanês, Lai Ching-te, foi eleito presidente com 40% dos votos, e Pequim reagiu questionando sua representatividade. O Partido Democrático Progressista (PDP), de Lai, perdeu a maioria no legislativo da ilha.
O presidente eleito só tomará posse em maio, mas os parlamentares assumem seus mandatos em fevereiro. As negociações em torno do comando da nova legislatura concentraram as atenções do noticiário taiwanês nesta segunda-feira.
O oposicionista Partido Nacional ou Kuomintang (KMT) ficou com 52 cadeiras e possivelmente mais duas, de independentes próximos da legenda, enquanto o PDP chegou a 51 e o Partido do Povo de Taiwan (PPT) somou 8. Tanto KMT como PDP iniciaram conversas separadamente com o PPT, para a escolha do novo comando do legislativo.
As tratativas podem envolver ainda a formação do próprio gabinete de Lai, inclusive a escolha do primeiro-ministro. No sistema institucional taiwanês, inspirado no francês, o presidente escolhe diretamente os ministros da Defesa e do Exterior e nomeia o primeiro-ministro, que monta os demais cargos em negociação com os parlamentares.
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