SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A lista de países que suspenderam financiamento à UNRWA cresceu neste sábado (27), um dia depois de a agência da ONU para refugiados palestinos afirmar ter demitido funcionários suspeitos de envolvimento na ofensiva lançada pelo Hamas contra Israel no dia 7 de outubro.
Ao anunciar a interrupção temporária da transferência de recursos, o Reino Unido disse estar "consternado com as alegações". A Itália seguiu o mesmo caminho, embora o chanceler do país, Antonio Tajani, não tenha citado as suspeitas ao anunciar a suspensão do auxílio financeiro.
A Finlândia foi mais clara ao afirmar ter sido motivada pelas acusações. "Temos de garantir que nem um único euro da Finlândia vai para o Hamas ou outros terroristas", afirmou. O país nórdico tem um acordo até 2026 com a UNRWA para transferir 5 milhões de euros por ano para a agência. A Austrália tomou a mesma medida.
Para o secretário-geral da Organização para a Libertação da Palestina, Hussein al-Sheikh, a decisão terá grandes riscos políticos e de ajuda humanitária. "Apelamos aos países que anunciaram a interrupção do seu apoio à UNRWA para reverterem imediatamente a decisão", afirmou ele.
Na sexta, o Canadá e os EUA já haviam pausado temporariamente o financiamento para revisar as alegações. Com a decisão, Washington deixa novamente de enviar fundos para a agência --antes, a ligação com a agência havia sido rompida por Donald Trump, cujo mandato foi marcado pela aproximação com Israel.
O financiamento foi retomado com a eleição de Joe Biden, e, em 2022, o país foi um dos que mais contribuíram individualmente com doações para a organização --ao lado de Washington, União Europeia, Alemanha e Suécia foram responsáveis por 61,4% do total de US$ 1,17 bilhões (cerca de R$ 5,75 bilhões na conversão atual) do orçamento da agência naquele ano.
As informações sobre a suposta conexão entre os trabalhadores e o grupo terrorista foram fornecidas à UNRWA por autoridades israelenses, e uma investigação sobre o caso foi aberta, disse Philippe Lazzarini, Comissário-Geral da agência.
"Para proteger a capacidade da agência de fornecer assistência humanitária, tomei a decisão de rescindir imediatamente os contratos desses funcionários e iniciar uma investigação para estabelecer a verdade sem demora. Qualquer funcionário da UNRWA envolvido em atos de terrorismo será responsabilizado, inclusive por meio de processo criminal", afirmou Lazzarini.
A agência não divulgou quem são os suspeitos, ou mesmo quantos são. O Departamento de Estado dos Estados Unidos afirmou, porém, que trata-se de 12 funcionários.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, foi informado sobre as acusações e "está horrorizado com a notícia", disse seu porta-voz, Stéphane Dujarric.
Dujarric acrescentou que o chefe da ONU pediu a Lazzarini que conduzisse uma investigação para garantir que qualquer funcionário da UNRWA que tenha participado ou sido cúmplice dos ataques de 7 de outubro seja demitido imediatamente e encaminhado para possível processo criminal. "Será realizada uma revisão independente e abrangente da UNRWA", afirmou.
Em janeiro, a UN Watch, que monitora as ações da ONU, divulgou um relatório no qual dizia que professores da agência celebraram o ataque em um grupo de 3.000 pessoas no Telegram. "Este é o núcleo de todas as incitações dos professores da UNRWA ao terrorismo jihadista", afirmou na ocasião Hillel Neuer, diretor-executivo da ONG.
Estabelecida em 1949, após a primeira guerra árabe-israelense, a UNRWA oferece ajuda humanitária a palestinos na Faixa de Gaza, Cisjordânia, Jordânia, Síria e Líbano. Autoridades israelenses, incluindo o primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu, acusam a agência de fomentar sentimentos anti-Israel, o que a organização nega.
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