SÃO PAULO, SP 9FOLHAPRESS) - O Exército de Israel anunciou na madrugada desta segunda (12) ter libertado dois reféns mantidos em cativeiro na Faixa de Gaza pelo Hamas após conduzir ataques em Rafah, na fronteira com o Egito. As ações ocorreram na iminência de uma operação terrestre em larga escala na região, que abriga metade dos 2,4 milhões de palestinos do território, muitos dos quais forçados a se deslocar nesta guerra.
Segundo os militares, os resgatados são Fernando Simón Marman, 60, e Louis Hare, 70, cunhados que têm também nacionalidade argentina.
Eles haviam sido capturados durante os ataques de 7 de outubro, quando terroristas invadiram Israel e fizeram uma série de atentados. "Ambos estão em boas condições médicas e foram levados ao hospital Sheba Tel Hashomer para avaliação", diz um comunicado.
Antes desta segunda, as forças de Tel Aviv só haviam conseguido resgatar uma refém em suas incursões a Gaza, em 30 de outubro, sem contar os 105 libertados pelo Hamas durante uma trégua de sete dias em novembro ?foram 81 israelenses, 23 tailandeses e um filipino.
Os reféns estavam no segundo andar de um prédio invadido pelos soldados. O tenente-coronel Richard Hecht disse que houve intensa troca de tiros durante a incursão. A ação teve atuação conjunta das Forças Armadas de Israel, da Shin Bet, a agência israelense de segurança interna, e da unidade especial da polícia em Rafah.
"Estávamos trabalhando havia muito tempo nessa operação e esperando as condições certas", declarou o porta-voz militar.
Após a ação, Israel divulgou fotos dos resgatados. As imagens mostram os homens sentados em uma cama no hospital ao lado de familiares. O governo de Javier Milei, que tem mantido proximidade com Israel e recentemente anunciou o plano de mudar a Embaixada da Argentina de Tel Aviv para Jerusalém, agradeceu pela operação.
Um parente dos reféns que não quis se identificar disse à agência de notícias Reuters que os homens estavam "um pouco frágeis, magros, pálidos", mas que em geral tinham boas condições. Três familiares das vítimas também foram sequestrados pelo Hamas, mas já haviam sido soltos na leva de novembro, segundo o jornal argentino La Nacion.
A incursão teve o apoio da Força Aérea de Tel Aviv e, durante a madrugada, canais palestinos relataram intensos ataques em Rafah, atualmente constituída por diversas construções precárias, muitas delas barracas, que abrigam os deslocados em espaços públicos.
Ao confirmar as ações, os militares de Israel afirmaram em nota que todos os alvos eram "terroristas". O Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, declarou que ao menos cem pessoas morreram, muitas das quais civis. Casas e mesquitas teriam sido destruídas nos ataques da madrugada, quando muitos estavam dormindo.
"Só a pressão militar contínua" até a "vitória" permitirá a libertação de todos os reféns em Gaza, disse o premiê Binyamin Netanyahu horas depois da libertação dos dois homens. Cerca de 130 pessoas sequestradas em 7 de outubro ainda estariam em poder do Hamas no território palestino, sendo uma delas o brasileiro Michel Nisenbaum.
Ainda nesta segunda-feira, as Brigadas Al-Qassam, braço armado da facção terrorista, afirmaram que três de oito reféns que estavam feridos devido a bombas lançadas por Israel morreram. Seus nomes não foram revelados, mas as Brigadas disseram que publicarão as identidades ao longo dos próximos dias.
Rafah concentra hoje a maior parte da população do território palestino adjacente a Israel, que se viu obrigada a se deslocar para o sul para fugir dos ataques, por ar e terra, conduzidos pelas forças israelenses nas demais partes da Faixa.
Os Estados Unidos, um dos principais e maiores aliados de Israel, vêm verbalizando preocupação com o anúncio de Tel Aviv de que invadirá a área. Em novo pronunciamento nesta segunda-feira, a Casa Branca disse ter conhecimento de que há membros do Hamas em Rafah, mas voltou a ligar o sinal vermelho sobre a incursão.
"Sem um plano possível [para proteger civis] e que os israelenses possam executar, não apoiaremos uma operação militar em grande escala", afirmou Matthew Miller, do Departamento de Estado.
Bibi (como o primeiro-ministro é conhecido) tem alegado que a operação por terra iria prever alguma passagem segura para os civis de Rafah poderem sair ilesos dos ataques. Há, porém, grande ceticismo quanto a isso por parte de especialistas, que veem como inviável uma ação militar dessa dimensão em uma área tão densamente povoada.
Quem também soou o alarme foi o procurador-geral do TPI (Tribunal Penal Internacional), o advogado britânico Karim Khan, que se disse "extremamente preocupado" com a possibilidade da invasão de Rafah.
"Meu gabinete já tem uma investigação aberta sobre a situação nos territórios palestinos, e isso será levado adiante com a maior urgência para levar a julgamento os responsáveis por crimes de guerra", disse.
Embora evidentemente a maioria das vítimas dos ataques de Israel a Gaza seja palestina, houve episódios em que israelenses também foram alvo. Em dezembro, três deles feitos reféns pelo Hamas foram mortos por engano por soldados de Israel.
Investigações posteriores constataram que eles agitavam bandeiras brancas e pediam ajuda gritando em hebraico quando foram baleados.
Ainda nesta segunda-feira, Israel pediu às agências humanitárias da ONU que ajudem em seus esforços para retirar civis de Rafah. "Não digam que isso não pode ser feito. Trabalhem conosco para encontrar uma maneira", pediu o porta-voz Eylon Levy.
Um tribunal na Holanda anunciou nesta segunda ter bloqueado a exportação de peças de caças F-35 para Israel devido a um "risco claro de violações da lei humanitária internacional" no território palestino.
Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, 28.340 palestinos morreram desde o início da guerra, e quase 68 mil ficaram feridos. Na última semana, o Exército de Israel disse ter comunicado 31 famílias de reféns sobre a morte de seus parentes.
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