BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken, defendeu nesta quarta-feira (21) a criação de um Estado palestino em reunião com o presidente Lula (PT) no Palácio do Planalto, em Brasília. A chamada solução de dois Estados é, historicamente, uma posição defendida pela diplomacia brasileira.
Além disso, o porta-voz do Departamento de Estado americano, Matthew Miller, disse em entrevista coletiva em Washington que Blinken expressou a Lula sua discordância em relação à comparação feita pelo brasileiro entre a ofensiva militar de Israel na Faixa de Gaza e o Holocausto nazista ?mais cedo, fontes do governo brasileiro haviam dito à Folha de S.paulo que o tema não foi tratado na reunião.
A fala desencadeou uma crise com o governo de Israel, que declarou Lula "persona non grata" no país. Como resposta, o Itamaraty convocou o embaixador do Brasil em Tel Aviv para consultas e avalia expulsar o embaixador israelense caso a tensão diplomática se agrave.
"O secretário teve a oportunidade de discutir os comentários com o presidente Lula hoje, no seu encontro, no contexto da discussão ampla sobre o conflito em Gaza, e deixou claro, como eu fiz ontem [terça], que são comentários com os quais não concordamos", disse Miller. Na véspera, o porta-voz havia afirmado a posição da Casa Branca ?"não acreditamos que o que tem ocorrido em Gaza seja genocídio".
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, também já vinha defendendo a chamada solução de dois Estados, mas auxiliares palacianos celebraram o fato de isso ter sido reforçado por Blinken na reunião com Lula, por destacar divergência com Israel e convergência com o Brasil. O encontro durou quase duas horas.
"O secretário agradeceu pela atuação do Brasil pelo diálogo entre Venezuela e Guiana. O presidente Lula reafirmou seu desejo pela paz e fim dos conflitos na Ucrânia e na Faixa de Gaza. Ambos concordaram com a necessidade de criação de um Estado Palestino", diz nota divulgada pelo Planalto após a reunião.
Ao final, o americano falou rapidamente com a imprensa no local. "Foi ótima a reunião. Sou muito grato ao presidente [Lula] pelo seu tempo. Os EUA e o Brasil estão fazendo coisas muito importantes juntos. Estamos trabalhando juntos bilateralmente, regionalmente, mundialmente. É uma parceria muito importante e somos gratos pela amizade", afirmou Blinken.
Em nota, a diplomacia americana disse que o secretário "discutiu o empenho dos EUA em relação ao conflito em Gaza, incluindo o trabalho urgente com parceiros para facilitar a libertação de todos os reféns e para aumentar a assistência humanitária e melhorar a proteção dos civis palestinos".
Lula falou sobre o que considera desproporcionalidade na reação do governo de Binyamin Netanyahu, com mortes de milhares de mulheres e crianças na região, e Blinken lembrou das sanções do governo americano a colonos judeus, coordenadores e participantes de atos ou ameaças de violência contra civis, intimidação, destruição e tomada de propriedades e participação em atividades terroristas na Cisjordânia.
De acordo com o Planalto, Lula defendeu ainda a necessidade de reformar organismos financeiros internacionais e o próprio Conselho de Segurança da ONU, "no que foi apoiado pelo seu interlocutor". Esta também foi a principal pauta do discurso do ministro Mauro Vieira (Relações Exteriores) na reunião de chanceleres do G20, no Rio de Janeiro.
Sobre Venezuela, o texto do Departamento de Estado americano diz que Blinken elogiou o papel de Lula para diminuir as tensões em Essequibo ?o território guianense foi o centro de uma crise diplomática com Caracas, cujo ditador chegou a fazer um referendo para embasar seu objetivo de anexar a região.
A nota também afirma que Blinken reforçou a posição dos Estados Unidos de que" Nicolás Maduro deve retornar à implementação do acordo do roteiro eleitoral de Barbados [firmado entre o ditador e parte de seus opositores em outubro de 2023 na ilha caribenha] para garantir eleições presidenciais competitivas em 2024".
A Guerra da Ucrânia, como esperado, também entrou em discussão. Lula destacou que só com a paz é possível mobilizar recursos para o desenvolvimento e a inclusão social. Já o americano disse que espera "uma paz justa".
Além disso, os dois discutiram sobre meio ambiente e transição energética, direitos de trabalhadores e ações internacionais de combate à fome. Os Estados Unidos disseram que estudam fazer nova remessa de recursos ao Fundo Amazônia, o que depende de aprovação do Congresso americano.
O secretário americano desembarcou em Brasília na noite de terça-feira (20). Depois do encontro com Lula, seguiu para o Rio de Janeiro, onde se juntou à reunião de chanceleres do G20.
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