SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A divulgação de uma nota do Itamaraty com críticas ao impedimento de uma candidatura da oposição, nesta terça-feira (26), marcou um ponto de inflexão do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em sua relação com o regime chavista na Venezuela.

Mesmo diante de seguidos episódios de cerco a opositores no país vizinho, o presidente mantinha, em suas declarações, uma linha de apoio aos processos eleitorais locais. Em 2017, fora da cadeira da Presidência, saudou o pleito sem a participação dos principais nomes antichavistas.

Dois anos depois, criticou o reconhecimento do governo de Jair Bolsonaro (PL) ao então autoproclamado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, disse que não concordava com a política econômica do país vizinho e afirmou: " Deixem o povo da Venezuela [escolher] democraticamente seus dirigentes."

De volta ao Planalto, no ano passado, Lula declarou que havia uma "narrativa da antidemocracia, do autoritarismo" por parte dos opositores de Maduro e que cabia ao regime "mostrar a sua narrativa". Também afirmou, em outra ocasião na qual foi questionado sobre Caracas, que o conceito de democracia era relativo.

Relembre frases do presidente sobre eleições e democracia na Venezuela.

"Queria pedir uma salva de palmas pra Venezuela pelas eleições de domingo."

No X, após eleição no país sem os principais líderes da oposição (16.out.2017)

"Obviamente, eu não concordo com a política econômica da Venezuela, acho que é um equívoco, mas muito menos eu concordo com o Brasil reconhecer o tal do [Juan] Guaidó. (...) Deixem o povo da Venezuela [escolher] democraticamente seus dirigentes. Se o povo quiser ir pra rua pra derrubar que vá pra rua, mas é o povo, não é o Trump que vai derrubar o Governo da Venezuela."

Em entrevista à Folha de S.Paulo e ao El País, após ser questionado sobre a democracia venezuelana (26.abr.2019)

"Eu acho, companheiro Maduro, que é preciso que você saiba a narrativa que se construiu contra a Venezuela. Da antidemocracia, do autoritarismo. Eu acho que cabe à Venezuela mostrar a sua narrativa para que possa efetivamente fazer as pessoas mudarem de opinião. (...) A sua narrativa vai ser infinitamente melhor do que a narrativa que eles têm contado contra você."

Ao ditador Nicolás Maduro, durante sua visita ao Brasil (29.mai.2023)

"Desde que o Chávez tomou posse, foi construída uma narrativa contra o Chávez, e eu tive oportunidade de ver isso. Uma narrativa em que você determina que o cara é um demônio. A partir do momento que você cria a narrativa de que ele é um demônio, a partir daí você começa a jogar todo mundo contra ele."

A jornalistas, após visita de Maduro (30.mai.2023)

"Não é possível que não tenha o mínimo de democracia na Venezuela. Eu brigava com o Chávez porque qualquer coisa ele queria fazer um referendo."

A jornalistas, após visita de Maduro (30.mai.2023)

"[A Venezuela] tem mais eleições do que o Brasil (...) desde que o Chávez tomou posse. O conceito de democracia é relativo para você e para mim."

Em entrevista à Rádio Gaúcha (29.jun.2023)

"Pode dizer assim na Folha de S.Paulo: Lula está muito feliz que finalmente está marcada a data das eleições na Venezuela. Espero que as pessoas que estão disputando eleições não tenham o hábito de ex-presidente deste país, de negar processo eleitoral, as urnas e a respeitabilidade à Suprema Corte."

Após ser questionado pela reportagem (6.mar.2024)

"Eu fui impedido de concorrer nas eleições de 2018 e, em vez de ficar chorando, eu indiquei um outro candidato que disputou as eleições."

Sobre a oposição na Venezuela (6.mar.2024)


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