BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) - A principal força de oposição ao ditador Nicolás Maduro na Venezuela vive momentos de indefinição e enfrenta o risco de ver seus votos divididos nas eleições previstas para 28 de julho no país, após o regime impedir que a coalizão inscrevesse suas duas candidatas mais fortes na disputa.
A primeira delas, a ex-deputada María Corina Machado, 56, vencedora das primárias e favorita nas pesquisas, foi inabilitada a concorrer a cargos públicos por 15 anos. Ela então indicou a professora universitária Corina Yoris, 80, que denunciou não ter conseguido acesso ao sistema eleitoral até o fim do prazo para as candidaturas, na segunda-feira (25).
Ambas fazem parte da aliança Plataforma Unitária Democrática (PUD), que tem como principais partidos o Vente Venezuela e Un Novo Tiempo. Diante do impedimento do regime, o líder dessa segunda legenda, Manuel Rosales, 71, decidiu se postular nos últimos minutos antes que as inscrições fechassem.
"Deixar a Venezuela sem uma opção de voto seria muito grave, muito triste", argumentou.
Já no dia seguinte, a coalizão informou que conseguiu uma prorrogação do prazo eleitoral e registrou um candidato "tampão", o ex-embaixador Edmundo Gonzalez, 67, apenas para garantir a vaga. A força opositora que deveria estar concentrada em uma única figura contra Maduro, então, se dividiu em dois nomes.
Agora, os partidos têm até 20 de abril para negociar internamente e decidir se apoiam um dos postulantes registrados ou escolhem outra alternativa --no total, 13 pessoas se inscreveram, mas o restante é considerado ligado ao chavismo ou sem força eleitoral.
Há um consenso de que qualquer um dos opositores que for às urnas precisará do apoio de María Corina Machado, que vem liderando o movimento anti-Maduro há meses em carreatas pelo país.
"Minha candidata segue sendo Corina Yoris", repetiu a ex-deputada diversas vezes durante uma entrevista coletiva nesta terça (26), quando questionada se apoiaria algum dos dois candidatos inscritos. Ela e Rosales, que é personagem antigo da política venezuelana, não têm uma boa relação.
O governador do estado petroleiro de Zulia e ex-adversário de Hugo Chávez é visto como "traidor" por parte do eleitorado opositor, por ter tentado impedir o avance de María Corina e suspender as primárias nas quais ela teve vitória majoritária. Yoris chegou a chamá-lo de "Judas" durante entrevista a uma rádio da Colômbia após sua candidatura.
Ele, então, foi a público para se defender nesta quarta (27): "Desataram uma guerra contra mim pelas redes, estão gastando milhões de dólares inventando, caluniando, difamando, que eu sou o candidato de Maduro, que negociei com Maduro", disse Rosales durante um comício que organizou em Maracaibo, capital do seu estado.
"Tive que tomar uma decisão e tomei, era um gesto de responsabilidade: ou deixava o barco à deriva e permitia mais seis anos de Maduro, ou diria à Venezuela que vamos retirar Maduro em 28 de julho pelo voto", disse o político a centenas de seguidores, acrescentando que disposto a ceder seu lugar para um eventual candidato de unidade.
"Busquem uma negociação, busquem um candidato ou uma candidata que supere as barreiras e obstáculos do governo. Busquem-no, e eu entrego a candidatura a quem quiser, mas não difamem, [...] não deixem o povo da Venezuela sem saída", discursou, em tom confrontativo.
Especialistas ouvidos pela agência AFP acreditam que a candidatura de Yoris agora é improvável, e que a fragmentação da oposição deve favorecer Maduro. "Os acordos internos entre a oposição devem ser regidos pela manutenção da unidade como melhor estratégia possível", ressalta o analista político Yoel Lugo.
"As restrições deste processo eleitoral deixam apenas uma brecha pela qual passar", ressaltou o cientista político e consultor Piero Trepiccione. "Isso força ainda mais a oposição a conversar e chegar a um acordo. Que não caia na armadilha da fragmentação que o governo deseja."
A oposição terá que superar ainda outro obstáculo: venezuelanos que moram no exterior denunciam que seus consulados estão dificultando seu registro para votar em julho, fazendo protestos diários em Buenos Aires e até greve de fome em Madri, na Espanha, e Quito, no Equador.
Funcionários diplomáticos explicam aos manifestantes que não receberam as máquinas para tomar as impressões digitais ou optam por ignorá-los, enquanto as autoridades na Venezuela atribuem as dificuldades para enviar os aparelhos às sanções internacionais, segundo a imprensa local.
A ONU estima que quase 8 milhões de venezuelanos tenham emigrado desde 2014, fugindo da crise econômica e política no país. Cerca de 5,2 milhões devem atualizar seu registro no exterior ou se inscreverem para votar pela primeira vez, segundo a ONG Súmate.
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