SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, fez um pronunciamento neste domingo (31) para responder aos protestos que tomaram o país na noite da véspera, os maiores desde a eclosão da guerra Israel-Hamas segundo os veículos locais.

Na ocasião, dezenas de milhares de pessoas reuniram-se em cidades como Tel Aviv, Jerusalém, Haifa, Be'er Sheva e Cesareia para demandar novas eleições e a devolução dos aproximadamente cem sequestrados no atentado de 7 de Outubro que continuam nas mãos do grupo terrorista de acordo com cálculos das forças israelenses - cerca de outros 110 foram libertados como parte de um acordo de cessar-fogo em novembro, e mais ou menos 20 teriam morrido em cativeiro.Em seu discurso, Netanyahu disse estar comprometido com o retorno dos reféns; defendeu a continuidade da guerra na Faixa de Gaza; e reafirmou que pretende invadir Rafah, cidade na fronteira com o Egito que hoje abriga mais da metade do total de cerca de 2,3 milhões dos habitantes do território.

"Como primeiro-ministro de Israel, estou fazendo e farei de tudo para trazer nossos entes queridos para casa", disse ele, acrescentando que a melhor forma de resgatá-los é combinando pressão militar e negociações.

Bibi, como o premiê é conhecido, ainda tentou se proteger politicamente ao afirmar que a convocação de eleições agora, como pediam alguns manifestantes, paralisaria as negociações para a libertação dos reféns. "O primeiro a celebrar isso seria o Hamas."

As declarações, feitas pouco antes do líder se submeter a uma cirurgia de correção de hérnia, aparentemente não foram suficientes para aquiescer a população. Depois do pronunciamento televisionado, uma multidão ainda protestava em Jerusalém exigindo um novo pleito.

Nesta semana, os representantes do Knesset, o Parlamento israelense, votaram a favor da manutenção do recesso anual de seis semanas entre abril e maio a despeito da guerra em curso, o que provocou consternação em parte da sociedade local.

"Este governo é um desastre completo e absoluto", disse à agência de notícias Reuters Nurit Robinson, 74, durante a manifestação. "Eles vão nos levar ao fundo do poço."

Os manifestantes também se queixam da isenção do serviço militar, obrigatório para homens e mulheres do país, para os judeus ultraortodoxos. Netanyahu a princípio tinha até este domingo para apresentar uma legislação para resolver o impasse de décadas sobre o assunto, mas na semana passada, submeteu um pedido de mais 30 dias de prazo à Suprema Corte.

A Justiça concordou e deu ao governo até 30 de abril para submeter argumentos adicionais. Em uma decisão provisória, porém, ordenou a suspensão do financiamento público para alunos de seminários ultraortodoxos que seriam passíveis de recrutamento, válida a partir da segunda (1º).

"As luzes do gabinete de Netanyahu estão acesas há uma semana [...] para garantir que os ultraortodoxos possam continuar fugindo do recrutamento apesar da guerra", afirmou o líder da oposição, Yair Lapid, em frente ao prédio do Legislativo, em Jerusalém, segundo o jornal Times of Israel.

"Se um centésimo, um milésimo, dessa eficiência tivesse sido dedicada aos reféns, aos refugiados, à gestão da guerra ou à economia, nossa situação seria completamente diferente. Mas só há uma coisa importante para Netanyahu; permanecer no cargo", completou. Os ultraortodoxos são uma importante base da coalizão do governo de Bibi, a mais à direita da história israelense.

Para o porta-voz do Fórum de Reféns e Famílias Desaparecidas, Haim Rubinstein, os protestos do sábado representaram um ponto de virada. "Esta noite é nada menos do que um divisor de águas na luta para devolver os 134 sequestrados e sequestradas que estão morrendo nos túneis do Hamas. As famílias estão fartas", afirmou ele no X. "Tudo explodiu numa noite, quando todos juntos deram uma mensagem clara a Netanyahu: não permitiremos que você impeça um acordo!"

Bibi afirma que Tel Aviv está mostrando flexibilidade nas negociações com o Hamas, retomadas há alguns dias. "Estou comprometido a trazer todos os reféns para casa, homens e mulheres, civis e soldados, vivos e os que foram mortos. Não deixaremos ninguém para trás", declarou no pronunciamento.

Já no que se refere à invasão terrestre de Rafah, Bibi não tentou demonstrar maleabilidade. A comunidade internacional tem expressado apreensão com a perspectiva de combates na cidade densamente populada, mas Netanyahu reafirmou que pretende adentrá-la. "Leva tempo, mas será feito. Não há vitória sem isso", afirmou ele.

Ao mesmo tempo, o líder citou planos para a retirada da população civil e a distribuição de ajuda humanitária antes dos combates. Tel Aviv mantém Gaza sob cerco total desde o início do conflito, em 7 de outubro, restringindo a entrega de carregamentos sob a alegação de que parte dos materiais pode representar um risco à sua própria segurança. À medida que a insegurança alimentar se alastra por Gaza devido aos bloqueios, contudo, o Estado judeu passou a ser acusado de usar a fome como uma arma de guerra.

Bibi também cumprimentou o Exército e a Agência de Inteligência de Israel por sua incursão ao hospital Al-Shifa, um dos principais no norte de Gaza, iniciada há cerca de duas semanas. De acordo com ele, as forças de segurança mataram mais de 200 terroristas no centro médico e suas adjacências, além de terem encontrado armamentos e componentes usados para lançar mísseis anti-tanque no local.

"Nenhum hospital do mundo é assim. Isso como um lar de terroristas se parece", disse o premiê. Funcionários do Shifa, que já tinha sido invadido anteriormente, afirmam que as vítimas incluíram pacientes do local e refugiados palestinos que se abrigavam em seu entorno.

Tel Aviv ainda ocupa vários outros hospitais na faixa, sendo dois deles em Khan Yunis, no sul, e o Al-Aqsa, em Deir Al-Balah, no centro. Neste domingo, quatro pessoas morreram em combates no Aqsa e diversas outras ficaram feridas, incluindo cinco jornalistas, disseram autoridades palestinas ?o Exército israelense informou apenas que um combatente sênior do Jihad Islâmica, facção aliada do Hamas, veio a óbito.

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