FOLHAPRESS - No final de "Sexta-Feira 13", quando tudo parece resolvido, a mocinha na canoa observa a natureza e molha os dedos nas águas tranquilas do lago --até que um menino deformado salta das profundezas para agarrá-la. De Frankenstein a Jason Voorhees, criaturas grotescas são comuns no gênero do terror.
O monstro de Frankenstein, no entanto, não é assustador pela pele esverdeada ou pelos parafusos no pescoço, mas por representar uma abominação da ciência, algo que deveria estar morto. Da mesma forma, Jason não dá medo por ser feio, mas por continuar retornando mesmo depois de ter sido afogado, enforcado, fatiado, eletrocutado e queimado.
Em "X - A Marca da Morte", que estreia nos cinemas, a criatura assustadora é uma idosa libidinosa chamada Pearl, interpretada pela jovem atriz Mia Goth, mas coberta de prostéticos exagerados. Logo no início, Pearl é acompanhada por uma música sombria e uma câmera que se refastela com a decrepitude da maquiagem.
Como espectadores, somos convocados a sentir repulsa por suas rugas, pelos cabelos brancos afinados --mas, principalmente, pelo seu interesse em um grupo de jovens bonitos e saudáveis que estão gravando um filme pornô em sua propriedade. Como ousa uma velha caindo aos pedaços sentir atração sexual?
O grupo é composto pelo diretor Wayne, vivido por Martin Henderson, Owen Campbell e Jenna Ortega nos papéis do estudante RJ e sua namorada Lorraine, além dos atores pornográficos Jackson, Bobby-Lynne e Maxine -- na ordem, Kid Cudi, Brittany Snow e uma Mia Goth sem a caracterização de anciã moribunda.
Maxine é apresentada cheirando cocaína no camarim de uma boate de strip-tease. "Você é um ícone sexual", ela diz para o espelho antes de partir rumo ao interior do Texas para gravar o sugestivo "As Filhas do Fazendeiro". Ambiciosa, ela quer ser conhecida no mundo todo e viver a vida que ela acha que merece.
Dirigido por Ti West, que participou das coletâneas "V/H/S" e "O ABC da Morte", além de dirigir "Hotel da Morte" e "A Casa do Diabo", "X - A Marca da Morte" faz escolhas visualmente interessantes, como a tela dividida ao meio, típica de Brian De Palma, para contrastar o viço da juventude com a decadência da velhice.
Ambientado em 1979, "X - A Marca da Morte" mistura a estética dos slashers do período ao cinema pornográfico de baixo orçamento --universos que não eram tão distantes nas décadas de 1970 e 1980. Afinal, sexo e violência se confundem no cinema americano desde que Norman Bates atacou Marion Crane no chuveiro de um motel de estrada.
Em obras como "Halloween" ou "A Hora do Pesadelo", qualquer jovem que beba, use drogas ou faça sexo é punido com uma morte violenta. Maxine é, portanto, uma protagonista inusitada no gênero, mas o tropo narrativo da heroína virginal já foi subvertido outras vezes, como em "Pânico" ou "O Segredo da Cabana".
Cena do filme 'X - A Marca da Morte', dirigido por Ti West Christopher Moss/Divulgação Cena do filme 'X - A Marca da Morte', dirigido por Ti West **** Com o selo da prestigiada produtora A24, que revelou autores como Ari Aster e Robert Eggers, o terror de Ti West ganha um verniz de sofisticação que o filme nunca faz por merecer. Tirando a metalinguagem irônica, o que sobra é uma premissa boba que só pode assustar crianças. Por que devemos sentir nojo da velhice? Por que o desejo sexual de uma mulher idosa é assustador?
Após um punhado de mortes sanguinolentas, uma cena de sexo entre um casal idoso é tratada pelo diretor como o ápice da repugnância. Assim, "X - A Marca da Morte" --que já tem uma prequel anunciada-- deve agradar gerações mais novas, que apreciam o visual retrô do século 20, mas passam longe de qualquer pessoa nascida antes dos anos 1990.
X - A MARCA DA MORTE
Quando: Estreia nesta quinta (11) nos cinemas
Classificação: 18 anos
Elenco: Jenna Ortega, Brittany Snow, Mia Goth
Produção: EUA, 2022
Direção: Ti West
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