SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - Os amigos de Leandro Lo, morto com um tiro na cabeça no último fim de semana, voltaram aos treinos no dia seguinte ao sepultamento do atleta. Para a maioria que esteve presente na academia na Liberdade, região central de São Paulo, pisar no tatame em que rolavam diariamente com o oito vezes campeão mundial de jiu-jítsu foi reconfortante.
Entre homenagens, orações e muito choro, os amigos mais próximos descarregaram as energias na última terça-feira (9). A sensação após o primeiro treinamento sem Lo era de que ali eles se despediam do amigo, assassinado em um show na zona sul de São Paulo, no último fim de semana.
"A gente colocou para tocar as músicas que ele gostava, Filipe Ret, ele curtia rap. Treinamos como conseguimos. Eu chorei bastante entre as lutas, tentei fazer posições que ele fazia, que ele me ensinou. Mas eu senti minha alma lavada, eu senti que a ficha caiu [sobre a morte]", contou à reportagem Pedro Henrique Elias, faixa preta de jiu-jítsu e amigo de Leandro Lo há quase 10 anos.
O lutador de 27 anos começou a treinar com o campeão mundial em 2014, quando ainda era faixa branca. Ele fez parte da criação da academia "NS Brotherhood", em 2015, e desde então estreitou os laços com o multicampeão.
"A gente se uniu e fez uma oração. Pedimos para que a passagem dele fosse bem feita, a gente sabe que ele está com Deus. Então a gente se uniu e deu força um para o outro", acrescentou Pedro Henrique Elias.
Rider Zuchi, também faixa preta, relatou que foi duro voltar aos treinos, mas que o jiu-jítsu serviu para os amigos voltarem a sorrir após a tragédia. "O primeiro treino sem o Leandro foi horrível. Foi muito ruim mesmo, parecia que ele ia chegar a qualquer momento. Foi um treino bem homenagem, foi muito difícil treinar, foi bem forçado. Mas no final foi gostoso, a galera voltou a rir, lembrar das histórias e rir. Foi bem emocionante e dolorido", disse o lutador de 26 anos.
Zuchi, que já comandava parte dos treinos na "NS Brotherhood", será um dos responsáveis pelas atividades a partir de agora. Ele dividirá a função com Welington Luiz, o Alemão, e explica que, embora tenham perdido a principal figura da academia, a transição será natural.
"Eu e o Alemão vamos assumir a coordenação dos treinos, algo que ele [Leandro] já tinha colocado. Esse ano inteiro, quem puxava os treinos era eu e o Alemão. O Leandro chegava na parte das lutas. Então a gente vai dar sequência, estava bem estruturado já", contou.
O principal suspeito de atirar contra o oito vezes campeão mundial é o policial militar Henrique Otávio Oliveira Velozo. De acordo com testemunhas ouvidas pela Polícia Civil no inquérito que investiga a morte do atleta, o tenente da PM provocou mais de uma vez o lutador antes de ser imobilizado. Em seguida, o PM teria retornado e disparado contra Leandro Lo.
Pedro Henrique Elias e Rider Zuchi eram próximos a Leandro Lo dentro e fora do tatame. Segundo os companheiros, o campeão mundial gostava de sair, festejar e dançar. Um de seus principais hobbies era falar de jiu-jítsu, mesmo em períodos de folga.
"A gente viajava, saía para comer, dava bastante rolê. Ele gostava para caramba de dançar. E fora do tatame era onde a gente mais parava para conversar de jiu-jítsu. Era o que ele mais gostava de fazer", afirmou Rider.
"A gente viajava bastante, andava de bicicleta, ia em parque. Exercícios. Ele gostava muito de apostar: no xadrez, apostar corrida. Não valendo dinheiro, mas para a gente se divertir. Ele era muito competitivo, mas de um jeito bom", acrescentou Pedro Elias.
Os amigos também contaram que Leandro Lo gostava de tirar fotos sem camisa após os treinos. Por isso, eles fizeram um registro de toda a equipe para se despedir do colega.
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