BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL) dizem que se surpreenderam com o tom do discurso do ministro Alexandre de Moraes na posse como presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), considerado por eles como inflamado e hostil ao mandatário. Apesar disso, interlocutores no Palácio do Planalto dizem que já esperavam uma fala em defesa das urnas eletrônicas.
Já entre militares, a fala do ministro foi criticada reservadamente por, segundo eles, não contribuir para reduzir a temperatura da crise entre os Poderes.
Segundo integrantes da campanha e do governo, Bolsonaro escolheu acompanhar a posse de Moraes porque sua ausência passaria um sinal de isolamento ou de desrespeito às instituições. O evento contou com a presença das principais autoridades dos Três Poderes, entre eles os presidentes do STF (Supremo Tribunal Federal), Luiz Fux, da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
No dia seguinte ao ato, em que a defesa do sistema eletrônico de votação foi longamente aplaudida pelos presentes, com a exceção de Bolsonaro, o entorno do presidente tenta minimizar os impactos do discurso do novo presidente do TSE. Reservadamente, dizem que o ministro estava cumprindo seu papel e que isso não afetará a tentativa de apaziguamento que ocorre nos bastidores.
Já entre ministros de tribunais superiores, a avaliação é que a posse de Moraes teve cada detalhe calculado para demonstrar a força do TSE semanas antes do primeiro turno, marcado para 2 de outubro. Aliados de Moraes avaliam que o tom do discurso foi certeiro para sinalizar a Bolsonaro e seus apoiadores que o tribunal irá agir para combater as fake news.
Além dos recados dados por Moraes em defesa das urnas eletrônicas, integrantes do próprio tribunal eleitoral, do STF e do STJ (Superior Tribunal de Justiça) presentes na solenidade chamaram atenção para a participação de embaixadas no evento. Compareceram representantes de cerca de 50 países.
Moraes usou suas redes sociais nesta quarta-feira (17) para afirmar que a cerimônia simbolizou o respeito pelas instituições e a força da democracia.
"A cerimônia do TSE simbolizou o respeito pelas instituições, como único caminho de crescimento e fortalecimento da República e a força da democracia, como único regime político onde todo o poder emana do povo e que deve ser exercido pelo bem do povo", escreveu o ministro.
Na mesma linha, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), disse que a cerimônia foi um evento marcado pela "reafirmação da confiança na Justiça Eleitoral" e na "democracia brasileira".
"A posse do novo presidente do TSE foi um momento importante para o país e contou com a presença significativa de representantes da política, do Judiciário e da sociedade", afirmou o senador mineiro.
"O evento foi marcado pela reafirmação da confiança na Justiça Eleitoral, que é uma justiça especializada e tem a isenção para conduzir o processo eleitoral, e na democracia brasileira como único caminho para o desenvolvimento econômico e social", completou.
Apesar de a cerimônia ter mostrado um Bolsonaro isolado, aliados do mandatário argumentam ainda que o discurso de Moraes foi positivo para a campanha. Isso porque ?segundo esses interlocutores? ajudou a organizar a militância bolsonarista em torno do presidente e contra o magistrado. Ainda assim, para esses aliados, o discurso de Moraes não significa que o diálogo entre o magistrado e o governo irá piorar.
Ainda que Bolsonaro ataque sistematicamente as urnas, o seu entorno tem se empenhado em tentar melhorar a relação com a corte eleitoral sob o comando de Moraes.
O magistrado é relator de inquéritos que têm o presidente e seus aliados como alvo, mas é considerado por assessores de Bolsonaro como alguém disposto a dialogar nos bastidores. O ministro Edson Fachin, agora ex-presidente do TSE, tem menos interlocução com o governo.
A posse no TSE também foi acompanhada por 22 governadores e por prefeitos de capitais.
Ao encerrar o primeiro discurso à frente da corte eleitoral, Moraes disse que todas as presenças demonstraram que "é tempo de união, confiança no futuro e, principalmente, tempo de respeito, defesa, fortalecimento e consagração da democracia".
Um ministro de Bolsonaro que acompanhou a posse classificou como positiva a presença do mandatário. Ele afirmou que é "parte da democracia" a decisão de não aplaudir o discurso de Moraes. Esse mesmo ministro disse que havia receio no governo de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ser ovacionado quando chamado pelo cerimonial da posse, o que não ocorreu.
Aliados de Bolsonaro também destacam as menções a Bolsonaro feitas durante o discurso de Moraes, ainda que outras autoridades, inclusive o ex-presidente Lula, também tenham sido citadas nominalmente.
O evento no TSE marcou ainda o primeiro encontro durante a campanha eleitoral de Lula com Bolsonaro, líder e vice-líder da pesquisa Datafolha divulgada no último dia 28.
Apesar dos recados de Moraes durante a posse, o entorno de Bolsonaro avalia que chefe do Executivo e o ministro já deram sinais de trégua. Entre eles, a entrega a Bolsonaro do convite para a cerimônia no TSE, na semana passada, quando Moraes e o ministro Ricardo Lewandowski foram ao Palácio do Planalto.
O encontro durou quase uma hora e o presidente deu de presente para Moraes uma camisa do Corinthians, time do magistrado.
Na posse, o ministro exaltou o fato de o TSE ser capaz de divulgar o resultado das eleições no mesmo dia em que os eleitores vão aos colégios eleitorais devido às urnas eletrônicas e foi amplamente aplaudido de pé pelo público presente, incluindo as principais autoridades dos Três Poderes.
"Somos a única democracia do mundo que apura e divulga os resultados eleitorais no mesmo dia, com agilidade, segurança, competência e transparência. Isso é motivo de orgulho nacional", disse Moraes, enquanto Bolsonaro se manteve sério, sem aplaudir.
Em conversas reservadas, as declarações de Moraes viraram alvo de críticas no Ministério da Defesa.
Generais próximos ao ministro Paulo Sérgio Nogueira argumentam que o discurso foi acima do tom, com indiretas para o governo Bolsonaro.
A avaliação do entorno de Nogueira é que, mesmo sem citar as Forças Armadas, Moraes tocou em pontos desnecessários que não ajudam a baixar a temperatura da crise institucional, como fake news e eventuais alterações nas urnas eletrônicas.
Mesmo com os ruídos causados pelo discurso de posse no TSE, auxiliares do ministro da Defesa e generais do Alto Comando do Exército esperam que Moraes melhore a interlocução entre a corte e as Forças Armadas, para avançar em discussões sobre mudanças no processo eleitoral.
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