BARRETOS, SP (FOLHAPRESS) - Num dia que começou com palavrões em encontro com empresários e duas longas entrevistas, o presidente Jair Bolsonaro (PL) encerrou esta sexta-feira (26) em um autêntico comício na Festa do Peão de Barretos, no interior de São Paulo, que contou com jingle de campanha, xingamentos ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e discurso no palco.
Bolsonaro chegou ao estádio de rodeios às 22h30, acompanhado de uma comitiva que incluía o empresário Luciano Hang, um de seus seguidores mais próximos, e o candidato ao governo paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Enquanto era apresentado pelo locutor Cuiabano Lima como um misto de herói e salvador, Bolsonaro estava o tempo todo ao lado de Jeronimo Luiz Muzetti, presidente de Os Independentes, associação que organiza a festa.
Cuiabano puxou um Pai Nosso com Bolsonaro no centro da arena e terminou citando que "a gente se encontra pelo Brasil no dia 7 de setembro".
Na arena, o presidente também andou a cavalo. A visita de Bolsonaro ao evento, a quarta seguida, confirmou Barretos como um polo do bolsonarismo no maior evento sertanejo do país.
A flexibilização da legislação sobre os rodeios, a instituição do Dia Nacional do Rodeio --ambas assinadas por Bolsonaro-- e uma postura do presidente que, na avaliação de membros da organização, contribui para afugentar entidades de proteção animal da maior festa do gênero no país ajudam a explicar a relação.
Desde o início do festa, retomada no último dia 18 após dois anos devido à pandemia, várias manifestações nesse sentido foram vistas no Parque do Peão.
Logo no primeiro dia, o ex-ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente) foi recebido como uma "visita muito especial" e, ao usar o microfone no estádio de rodeios, elogiou o agronegócio e Braga Netto (PL), candidato a vice de Bolsonaro, e qualificou o presidente como "insubstituível".
No mesmo dia, sobrou até para o STF (Supremo Tribunal Federal). Ao comentar uma montaria, Emílio Carlos dos Santos, o Cacá, ex-presidente de Os Independentes, disse sobre um touro: "Mais complicado que algumas decisões do STF".
Deputado federal e filho de Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro (PL-SP) esteve no Parque do Peão no último sábado (20) e gravou vídeo sugerindo que o ex-presidente Lula participe do evento.
"Lula quero ver você vir para cá e abraçar esses 47% que o Datafolha está te dando. Vem para cá, o povo te adora, vai te receber muito bem, pode ter certeza. Aqui só tem produtor rural", disse, se equivocando sobre o público padrão do evento.
A relação de Bolsonaro com o principal evento sertanejo do país antecede sua eleição à Presidência da República, em 2018.
No ano anterior, ele discursou na arena, onde defendeu o agronegócio e disse que era um soldado dos produtores rurais.
Em 2018, ele deu duas voltas montado num cavalo no estádio de rodeios da Festa do Peão de Barretos, mas não conseguiu falar com o público.
Entre aplausos, gritos de "mito" e algumas vaias, o então chegou ao Parque do Peão às 21h e ficou cerca de 50 minutos no estádio.
Após passear a cavalo, Bolsonaro ficou num local próximo ao palco, dentro da arena, enquanto um membro de Os Independentes buscava um microfone para falar com ele.
Pouco depois, a organização pediu que todos desocupassem a arena. Bolsonaro deixou o local e foi para a feira comercial, onde subiu num touro em exposição.
A última participação de Bolsonaro no evento foi em 2019, último ano no formato presencial antes da pandemia, em que Bolsonaro assinou o decreto que flexibilizava a legislação sobre rodeios no país.
Era o que bastava para conquistar parte da associação Os Independentes que ainda tinha um pé atrás com o presidente.
Nas duas últimas edições, graças à nova lei, praticamente desapareceram queixas de supostos maus-tratos aos animais.
O anúncio do afrouxamento da legislação foi feito dentro do estádio de rodeios. Com o decreto, ficou definido que compete ao Ministério da Agricultura avaliar os protocolos de bem-estar animal elaborados por entidades promotoras desse tipo de evento e, com a mudança, também será possível a realização de provas não disputadas em alguns lugares.
Em Barretos, por exemplo, uma lei municipal impedia a prova do laço, que, como o nome diz, consistia em um competidor laçar um animal. Outra prova, bulldog, foi suspensa após a morte de um bezerro, em 2011.
A partir do decreto, ambas poderiam ocorrer em Barretos, desde que seguidas normas definidas pelo ministério.
"Esse momento em que tantos criticam as festas de peões ou as vaquejadas quero dizer que, com muito orgulho, estou com vocês. Para nós, não existe o politicamente correto, faremos o que tem de ser feito", disse Bolsonaro ao assinar a flexibilização.
Após o discurso, ele deu duas voltas na arena montado num cavalo, ao lado do então presidente da festa e do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil). No mesmo dia, foi anunciado o relançamento da frente parlamentar dos rodeios, vaquejadas e provas equestres de todo o país.
A visita do presidente foi marcada por uma série de homenagens, desde elogios do locutor Cuiabano Lima à exibição de um vídeo sobre Bolsonaro nos telões do estádio antes da entrada dele ao palco.
Também houve a execução da música "Eu te amo, meu Brasil", da dupla Dom & Ravel, dos anos 1970, considerado um hino ufanista do regime militar.
Mas não ficou nisso. Os elos ficaram mais fortes naquele ano quando, em dezembro, Bolsonaro publicou no Diário Oficial da União a sanção à lei que instituiu a partir de 2020 o Dia Nacional do Rodeio no país.
A data marcada para a celebração é 4 de outubro, Dia de São Francisco de Assis, padroeiro dos animais. Os rodeios são alvo de críticas de entidades de proteção animal, que apontam supostos maus-tratos em touros e cavalos.
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