SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Frente Inter-religiosa Dom Paulo Evaristo Arns por Justiça e Paz elaborou nesta terça-feira (9) uma nota em que expressa preocupação com declarações de caráter religioso feitas pela primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Segundo a articulação, sua falas ferem o Estado democrático de Direito, violam a legislação eleitoral e promovem a cultura do ódio por meio da "demonização do diferente".
"Em nome do respeito à fé, pedimos que a primeira-dama se retrate imediatamente, dentro dos princípios cristãos de amor ao próximo que afirma professar e aja em conformidade com as leis que regem nosso país, a fim de que seja verdadeiramente uma pátria para todos os brasileiros e brasileiras, indistintamente de opção religiosa ou política", diz o documento.
Na segunda-feira (8), a primeira-dama compartilhou uma publicação que afirma que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) "entregou sua alma para vencer essa eleição". O texto é acompanhado por um vídeo que exibe encontros do petista com lideranças de religiões de matriz africana.
"Isso pode, né! Eu falar de Deus, não!", escreveu a esposa do presidente Jair Bolsonaro (PL) ao compartilhar uma postagem da vereadora Sonaira Fernandes (Republicanos).
"Não lutamos contra a carne nem o sangue, mas contra os principados e potestades das trevas", escreveu a parlamentar da cidade de São Paulo, que foi endossada por Michelle.
"O cristão tem que ter a coragem de falar de política hoje, para não ser proibido de falar de Jesus amanhã", afirmou Sonaira.
Em um culto religioso em Belo Horizonte no domingo (7), Michelle afirmou que e antes o Palácio do Planalto era "consagrado a demônios", mas hoje é "consagrado ao Senhor". Na ocasião, ela estava ao lado do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Segundo a Frente Inter-religiosa Dom Paulo Evaristo Arns por Justiça e Paz, Michelle Bolsonaro estaria fazendo uso de "um maniqueísmo fundamentalista e perigoso, característico de regimes fascistas".
"Essa mesma estratégia foi utilizada no passado para legitimar perseguições religiosas destrutivas e promotoras de mortes. O resultado dessas declarações não pode ser outro senão fomentar a desagregação da sociedade através do medo e colocar em risco a luta internacional de mais de um século por diálogo e cooperação inter-religiosa e ecumênica", afirma a nota de repúdio.
A frente ainda destaca que a Presidência da República é uma instituição republicana em um país laico, que tem como seu dever constitucional governar para toda a população nacional, independentemente de credo ou escolha partidária.
Como mostrou o jornal Folha de S.Paulo, Michelle Bolsonaro tem intensificado sua participação em atos a favor do marido como forma de melhorar a imagem do presidente juntos às mulheres.
A primeira-dama tem recorrido com frequência a discursos religiosos durante esses eventos. Foi assim na convenção que sagrou Bolsonaro candidato pelo PL, há duas semanas.
A estratégia pode estar tendo efeito nas pesquisas. No último levantamento do Datafolha, o presidente viu crescer sua intenção de votos entre o público feminino, um dos mais vitais e impermeáveis a ele na corrida eleitoral de 2022.
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