MANAUS, AM, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Após ser alvo de desgaste por ter destacado uma ala "fascista" do agro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez referências ao segmento nesta quarta-feira (31), porém, em vez de ataques, fez menção à existência de fazendeiros responsáveis e conscientes da importância de não desmatar e de respeitar terras indígenas.

"A gente vai respeitar a nossa Amazônia, a nossa floresta. Não haverá mais garimpo ilegal nesse país. Não haverá mais desmatamento ilegal nesse país", disse Lula.

"O Brasil tem muita terra e quem tenta invadir a terra de vocês são os grileiros irresponsáveis. Porque um fazendeiro responsável que planta para exportar sabe que não pode invadir terra de índio, que não pode desmatar ou fazer queimadas, porque os gringos não vão comprar mais as coisas que ele produz", afirmou o ex-presidente.

"Vamos tratar com respeito as pessoas que sabem respeitar", continuou o petista. Lula participou de comício, na noite desta quarta-feira (31), em Manaus, no Amazonas.

Em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, na semana passada, Lula afirmou que há parte do agronegócio "fascista e direitista" que se coloca contra a preservação do meio ambiente -mas que ela não representa a totalidade do segmento.

Essa declaração de Lula se converteu em munição de bolsonaristas nas redes sociais.

O empresário Carlos Ernesto Augustin, umas das principais pontes da campanha do ex-presidente com o agronegócio, afirmou à Folha de S.Paulo que o petista errou nessa declaração no Jornal Nacional.

"Lula não precisava se referir ao agronegócio dessa maneira. Ele generalizou. Eu vou sugerir que ele peça desculpas, não devia ter feito isso. Não é a realidade geral", disse Augustin.

No comício desta quarta (31), Lula também agradeceu ao embaixador da Venezuela por ter mandado oxigênio a Manaus durante a pandemia da Covid-19 para "salvar vidas aqui".

"Apesar do presidente da República ofender tanto a Venezuela. Foram eles que mandaram oxigênio que o tenente não teve coragem de mandar, que o Ministério da Saúde não teve coragem de mandar", afirmou Lula.

O petista ainda aproveitou para criticar o presidente Jair Bolsonaro (PL). "Quero provar que se um tenente expulso do Exército não tem coragem de tratar o povo com respeito, o metalúrgico vai voltar para tratar o povo com a decência que ele merece."

Ele também criticou as motociatas realizadas pelo atual chefe do Executivo. "Sei que o atual presidente já veio aqui a Manaus, mas ele veio fazer motociata. Eu não venho fazer motociata. Fui visitar a fábrica onde os trabalhadores que produzem as motocicletas estão trabalhando."

O petista afirmou ainda que deverá fazer agendas em estados do Nordeste, além de Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. "Não vou parar até o dia 2 de outubro, até abrir as urnas."

Lula também citou Deus ao falar que pede a Ele que "nos ajude e nos dê força para enfrentar as mentiras que são contadas todos os dias pelos nossos adversários".

O petista estava acompanhado do senador Eduardo Braga (MDB), candidato a governador do Amazonas, de Anne Moura (PT), candidata a vice-governadora do estado, e do senador Omar Aziz (PSD), candidato à reeleição.

Também participaram do ato o ex-ministro Aloizio Mercadante, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Luciana Santos, presidente nacional do PC do B, o deputado federal Márcio Macedo (PT-SE) e a socióloga Rosângela da Silva, a Janja, casada com Lula.

Em seu discurso, Randolfe criticou Bolsonaro ao citar a condução do governo federal durante a pandemia da Covid-19. "Aqui em Manaus perderam a vida pela negligência do profeta da morte."

Ele afirmou ainda que Bolsonaro não "entende de Brasil". "Esses canalhas que estão aí até tentaram inviabilizar a Zona Franca de Manaus", disse.

Durante o discurso de Omar Aziz, o público puxou o grito "fora, Wilson Lima", contra o atual governador do estado e adversário de Eduardo Braga na corrida eleitoral. O senador, então, interrompeu sua fala e começou a gritar "fora, Bolsonaro". Ao final, Omar pediu voto para Eduardo Braga.

Para participar do comício, as pessoas tinham que passar por revista e precisavam deixar na entrada garrafas, canetas, alimentos e objetos de vidro. Bandeiras só eram permitidas sem mastro ou com mastro PVC.

À tarde, em ato para tratar do meio ambiente e da Amazônia, o ex-presidente Lula, ao ser questionado pela imprensa se ele iria buscar diálogo com Marina Silva (Rede-SP), afirmou que não tem "nenhum problema" em conversar com a ex-ministra do Meio Ambiente.

"Gosto da Marina, conheço ela há 40 anos (...) Ela fez uma opção política, ficou sete anos no meu governo. Ela saiu porque entendeu que deveria sair, tinha divergências com outras pessoas do governo. Mas não deixei o respeito e a admiração que eu tenho por ela", disse.

Ele também afirmou que descobriu que mora perto de Marina em São Paulo e que eles podem "se encontrar a qualquer momento".

Após anos rompida com o PT, partido ao qual foi filiada durante 30 anos, Marina vem sendo novamente cortejada por Lula.

O petista também visitou fábrica da Honda, na Zona Franca de Manaus, na manhã de quarta. À imprensa, Lula chamou Bolsonaro de cara de pau por negar a fome no Brasil e se comprometeu em manter as vantagens competitivas da Zona Franca de Manaus.

Mais cedo, em entrevista à rádio Clube de Belém, o ex-presidente criticou o uso da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, em propaganda do atual chefe do Executivo.

"Ontem no programa de TV dele, ele colocou a mulher para dizer que foi ele que levou água para o povo do Nordeste, para ajudar as mulheres pobres do Nordeste. Ele tem a desfaçatez de contar essa mentira sem nenhum critério de vergonha para o povo", disse Lula.

Nos próximos dias, o ex-presidente cumprirá agendas em Belém, no Pará, e em São Luís, no Maranhão.


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