SINOP E SORRISO, MT, E BRASÍLIA DF (FOLHAPRESS) - Em um tour por cidades do agronegócio, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) conseguiu, em questão de poucas horas, impulsionar as doações para a campanha à reeleição de Jair Bolsonaro (PL).
Na semana passada, Flávio, que coordena a campanha e assumiu a linha de frente da arrecadação, esteve em pelo menos seis municípios de Mato Grosso.
Os encontros foram marcados pela equipe do senador, que, na maioria dos casos, procurou os sindicatos e associações rurais de cada município.
O giro de mais de 1.600 km no estado foi para consolidar o apoio dos ruralistas e conseguir recursos para a campanha eleitoral.
O resultado veio rápido. A visita a centros rurais do país ocorreu entre 23 e 25 de agosto. Já no dia 26, a campanha de Bolsonaro recebeu R$ 390 mil em doações. No dia 29, foram mais R$ 110 mil.
Antes da viagem de Flávio, Mato Grosso havia contribuído com R$ 20 mil para as atividades eleitorais de Bolsonaro.
A estratégia dele foi reunir um grupo mais restrito de empresários, produtores rurais e líderes locais.
Segundo membros da campanha bolsonarista e participantes desses encontros, a ideia foi reforçar a necessidade de articulação no setor do agronegócio para fortalecer o plano de reeleição de Bolsonaro, seja por mobilização da base eleitoral do presidente ou por meio de doações.
A ofensiva ocorre a um mês das eleições e no momento em que os dirigentes partidários estão mais preocupados com a falta de recursos para a reeleição do presidente.
Segundo integrantes da campanha, os quase R$ 270 milhões de fundo eleitoral a que o PL tem direito já foram gastos. Desses valores, apenas R$ 10 milhões abasteceram o projeto de reeleição de Bolsonaro.
Mato Grosso despertou o interesse da campanha de Bolsonaro não apenas pelos votos (o presidente obteve 66% dos votos no segundo turno em 2018), mas principalmente por causa do potencial financeiro.
O senador começou o tour por Sinop e Sorriso. Flávio se encontrou com 12 líderes do agronegócio na região. Entre eles, o presidente do sindicato rural de Sinop, Ilson José Redivo, além dos empresários Édson Melozzi, Agenor Vicente Pelissa e Zeca Chiarello.
Chiarello é agricultor e proprietário de armazéns. Ele doou R$ 40 mil para a campanha no dia 26 de agosto -dois dias após o encontro.
Sorriso é conhecida como a capital do agronegócio. A prefeitura diz que o título se deve à área de mais de 600 mil hectares de área plantada, transformando o município em um dos maiores produtores de soja do mundo.
A visita do senador foi anterior à ida do candidato a vice na chapa do presidente Bolsonaro, o general Walter Braga Netto (PL), que também esteve nas duas cidades na última terça-feira (30).
Além de Sinop e Sorriso, Flávio passou por Lucas do Rio Verde, Nova Mutum, Água Boa e Campos Novo dos Parecis.
Nos encontros, ele reforçou a importância do segmento para a economia, disse que fazer campanha é caro e reclamou do baixo valor recebido do fundo eleitoral pelo presidente --apesar de Bolsonaro ter feito discursos contra o recorde da verba aprovada pelo Congresso para o fundo que financia as campanhas eleitorais.
"Ele [Flávio] falou que precisamos nos organizar e que não podemos deixar a eleição correr solta. Nós temos que trabalhar, fazer nosso papel de soldado e ganhar voto. E disse que quem quiser fazer doações, como todos os outros partidos, o PL também está aberto. E contribuições são bem vindas. Mas não foi esse o foco da conversa", disse Redivo, do sindicato rural de Sinop.
Nas conversas entre empresários do estado sobre a corrida eleitoral, fala-se sobre a disparidade entre a verba prevista para a campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em relação aos recursos disponíveis para Bolsonaro.
Apesar de o presidente ser o candidato ao Planalto que mais arrecadou dinheiro com doações até agora, o PL reservou menos dinheiro do fundo eleitoral para Bolsonaro -na comparação com a verba do PT dada a Lula.
O PT tem direito a R$ 499,6 milhões do fundo e destinou R$ 66,7 milhões desses recursos para o ex-presidente.
Aliados de Bolsonaro esperam que a viagem de Flávio continue rendendo recursos à campanha ainda nas próximas semanas, pois a ideia é que os produtores mais influentes incentivem outros empresários a darem dinheiro para o comitê de Bolsonaro.
"Eu quero agradecer de coração o empenho de cada um; todo mundo que está se propondo a ajudar, da maneira que for possível, da maneira que for do coração de cada um. Então, a todo pessoal aqui também da região do entorno de Lucas do Rio Verde eu peço que também nos apoiem", disse o filho de Bolsonaro em um dos vídeos gravados por ele e que circulam entre empresários da região.
Um dos maiores doadores da campanha bolsonarista foi Alessandro Nicoli. Ele repassou R$ 100 mil no dia 29 de agosto.
Ele é dono do Grupo Nicoli que atua no cultivo de soja, milho, arroz e pastagens nas cidades de Cláudia, Itaúba, Santa Carmem e Nova Canãa do Norte, em Mato Grosso.
O grupo entrou com pedido de recuperação judicial em fevereiro de 2019. A dívida somava, na época, cerca de R$ 135 milhões. Esse valor então passou a ser negociado com os credores.
Ex-prefeito de Santa Carmem (cidade a 40 km de Sinop), Nicoli não respondeu aos questionamentos sobre a doação.
Em Água Boa, Flávio se encontrou com o ex-prefeito e agropecuarista Maurício Tonhá, do ramo de leilão de gado e que chegou a ser citado na Lava Jato, e mais 40 empresários da região.
"Ele [o senador] pediu mais mobilização. Contra o mal temos que fazer todo o esforço [possível]", disse Tonhá, que desde o início do ano tem se empenhado em arrecadar recursos para a campanha de Bolsonaro.
Com a investida de Flávio, Mato Grosso representa, até o momento, 11,3% dos R$ 4,6 milhões de doações de pessoas físicas declaradas pela campanha de Bolsonaro -sendo que, no total, há repasses bastante altos, como o do ex-piloto de F-1 Nelson Piquet, que doou R$ 500 mil.
Nesta semana, Flávio deu declarações a jornalistas sobre o tour no estado. "[Estive lá] Pedindo a vários empresários do agronegócio que fizessem doações para a campanha do Bolsonaro, que a gente está passando por dificuldade de recursos".
"A gente realmente não tem dinheiro para fazer campanha razoável em todos os estados", declarou. O PL tem investido em candidaturas estaduais, com foco em eleger uma bancada forte no Congresso.
Samoel Ivanoff é empresário em Querência, região próxima de Água Boa, e doou R$ 50 mil no dia 26 de agosto.
"Eu fiz a doação e pedi doação para alguns amigos. Flávio Bolsonaro veio aqui, conversamos, trocamos ideia, e resolvemos fazer algumas doações. Eu sou da opinião seguinte: ou Jair ou já era, me desculpe os imbecis que votam no Lula. Não tenho raiva dos petistas, tenho pena deles. Eu sou uma pessoa que trabalha e o dinheiro que tenho é meu, pago os meus impostos", disse.
O PT tenta reduzir a vantagem de Bolsonaro no segmento ruralista. Para isso, Lula conta com a ajuda de um grupo de parlamentares de Mato Grosso e da família Maggi, inclusive do ex-ministro Blairo Maggi.
Candidato a vice na chapa de Lula, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) pretende visitar o estado para encontros com líderes do agronegócio. No entanto, a viagem segue sem data prevista.
Na campanha de reeleição de Bolsonaro, há uma pressão para que se consiga arrecadar o máximo possível, em especial com integrantes do agronegócio. Mas a entrada de recursos tem sido considerada lenta.
Desde o princípio, Bolsonaro e seu entorno sabem que a eleição deste ano será diferente da de 2018 e dependerá de mais recursos.
Coordenador, Flávio tem centralizado as conversas sobre doações. Segundo relatos, Bolsonaro tem resistência em participar dessas conversas, por isso escalou o filho 01. O vice, Braga Netto, também evita pedir diretamente recursos.
Além das idas de Flávio a Mato Grosso, Bolsonaro esteve num jantar em Curitiba na quarta-feira (31), com líderes do agronegócio. Em seguida, participou da Expointer (Exposição Internacional de Animais), principal feira do segmento no Rio Grande do Sul.
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