MONTES CLAROS, MG, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que é um "desmando" o presidente Jair Bolsonaro (PL) exigir que as Forças Armadas atuem como "fiscais das urnas eletrônicas" no processo eleitoral.

Lula voltou a dizer que o país precisa voltar à "normalidade" na relação entre os Poderes.

"Está tudo virado de ponta cabeça. Todo mundo pensa que manda em tudo e todo mundo sabe que não tem acontecido muita coisa nesse país, porque o desmando é muito grande", afirmou Lula à imprensa na tarde desta quinta-feira (15), em Montes Claros, Minas Gerais.

"Chegamos a um desmando tão grande que o presidente está a exigir que as Forças Armadas sejam fiscais das urnas eletrônicas. As Forças Armadas têm missões muito mais nobres para cumprir em defesa da nossa soberania, cuidar das nossas fronteiras para evitar qualquer problema de inimigo externo", continuou Lula.

O ex-presidente afirmou também que já foi vítima do voto útil e que não concorda com estratégias de "inibir" outras candidaturas.

Ao ser questionado sobre como estão as articulações para um eventual apoio do PDT à sua candidatura ainda no primeiro turno, Lula afirmou que está se esforçando para ganhar as eleições no dia 2 de outubro e que "o povo tem que ter liberdade para escolher os seus candidatos".

"Estou me esforçando para ganhar no primeiro turno, sempre me esforcei para ganhar no primeiro turno. Não sou favorável à teoria de inibir os outros a ser candidato. Eu já fui vítima do voto útil muitas vezes. Muitas vezes: 'Não, o Lula não pode ser candidato por causa do voto útil' e eu nunca aceitei isso. Acho que o povo tem que liberdade de escolher os seus candidatos", afirmou Lula.

Como a Folha de S.Paulo mostrou, o conceito de voto útil colocou em rota de colisão o candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, e a campanha de Lula, depois de uma ofensiva petista para atrair o eleitor do adversário e tentar liquidar a fatura do pleito nacional ainda no primeiro turno.

Ainda em sua fala à imprensa nesta quinta (15), o ex-presidente citou a ida de Bolsonaro ao funeral da rainha Elizabeth 2ª, em Londres, e criticou que o chefe do Executivo não compareceu ao velório de vítimas da Covid-19 no Brasil.

"Acho até louvável que o presidente tenha dito que vai ao velório da rainha da Inglaterra. Agora ele poderia ter ido no velório de uma das 680 mil vítimas que morreram de Covid. Poderia ter derramado uma lágrima por uma criança que ficou órfã. Tudo na vida dele é pensado no bem-estar dele. Ele acha que vai ganhar voto indo para lá, tocar a alma de alguém", afirmou o ex-presidente.

Lula afirmou ainda que Bolsonaro é uma "pessoa desaforada que não age com sentimentos" e que ele está "tentando dar uma de bonzinho" para diminuir sua rejeição.

"Agora, ele está tentando dar uma de bonzinho. 'Ah, se eu perder, vou entregar a faixa'. Você percebe que ele está tentando mudar. Estão dizendo para ele: 'Seja bonzinho para diminuir a sua rejeição'", disse o petista.

Lula afirmou ainda que Bolsonaro não conseguiu crescer nas pesquisas de intenção de voto, "mesmo ele dando o auxílio emergencial de R$ 600".

"A rejeição dele é maior que a aceitação. Ninguém pensa que engana o povo passando três anos e meio não fazendo nada e faltando seis meses da eleição ele vai fazer tudo."

O petista também criticou o ataque de Bolsonaro à imprensa, citou o ataque contra a jornalista Vera Magalhães no debate da TV Bandeirantes, sem mencionar o nome da jornalista, e afirmou que o atual presidente "não tem controle".

"Nós queremos paz. Vocês nunca vão ver a gente agredir jornalistas", disse o ex-presidente.

"Agora, vocês [jornalistas] precisam ir fazer entrevista com ele [Bolsonaro] com segurança, porque se não forem com segurança vocês poderão se agredidos. Outro dia no debate da Bandeirantes ele agrediu a repórter. Essa semana outra vez. Ele não tem controle. Ele me parece ser uma figura do mal. E nós precisamos governar para o povo de bem desse país."

À noite, Lula participou de comício na cidade mineira ao lado do ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD), candidato ao Governo de Minas, e de Alexandre Silveira (PSD), candidato ao Senado.

No início de sua fala, Lula afirmou que se considera um "homem abençoado por Deus" e lembrou de sua primeira mulher, Maria de Lourdes, que nasceu em Montes Claros, e da ex-primeira-dama Marisa Letícia da Silva, morta em fevereiro de 2017.

Ele, então, se declarou a Rosângela da Silva, a Janja, com quem é casado desde maio deste ano, afirmando que a presença dela em sua vida é uma "bênção de Deus" --levando a socióloga às lágrimas.

"Eu casei e ela [Lourdes] morreu no parto com dois anos de casado. A minha segunda mulher foi a Marisa com quem vivi por 43 anos e um AVC a levou dessa vida. Quando eu pensava que nada mais me importava, que a vida já estava no fim, aparece a minha querida Janja com quem eu me casei no dia 18 de maio."

"Posso dizer que quando eu digo que acredito em Deus é que depois de passar tudo o que eu passei, encontrar a Janja na minha vida é uma bênção de Deus", disse Lula.


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