SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Candidatos sem redes sociais e tempo de TV apostam no contato com o eleitor, panfletos e passeatas como principal forma de pleitear vagas em cargos do Legislativo e Executivo nas eleições deste ano.

A falta de instrumentos para propagação da campanha em maior escala, porém, afeta o crescimento dos candidatos -eles não se tornam conhecidos, dificultando a projeção de suas propostas, e perdem espaço para os candidatos que possuem mais recursos, tanto tecnológicos quanto financeiros.

Segundo Deysi Cioccari, doutora em ciência política pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), as candidaturas precisam das redes sociais para se impulsionar e se tornarem conhecidas, especialmente no caso dos candidatos novatos, que estão na disputa pela primeira vez e precisam se projetar.

O sistema eleitoral brasileiro também dificulta a entrada de novatos na concorrência, segundo ela. O sistema proporcional de lista aberta, usado no Brasil para a eleição de deputados federais, estaduais e vereadores, gera competitividade dentro dos próprios partidos, onde os candidatos lutam para obter mais recursos.

Sem espaço significante e de influência nos canais digitais e sem tempo de propaganda eleitoral, a candidatura fica praticamente inviabilizada, com pequenas chances de eleição.

Cioccari diz que a política do "boca a boca" é importante, especialmente em pleitos para prefeitura e vereador de cidades pequenas, mas em campanhas para deputado federal ou estadual, o efeito é limitado.

No pleito deste ano, são 45% os concorrentes que declararam usufruir de redes sociais para a candidatura, o equivalente a 12.673 políticos. Em 2020, foram 25%, segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

O Instagram ultrapassou o Facebook nas redes sociais mais usadas por candidatos, com 39,5% dos postulantes. Somente 46 candidatos registraram perfis no Gettr e 7, no Parler, redes alternativas utilizadas por bolsonaristas.

Entre os partidos que mais utilizam as redes sociais para promover campanhas está o Novo, com 96%, seguido por PCB, PSOL e PSB. Entre os que menos usam, estão o PCO, DC, PRTB e PMN.

Já o candidato a deputado federal Agnaldo Oliveira (PSD-SP), estreante nas disputas eleitorais, diz que tanto a TV quanto as mídias sociais são importantes e estão interligadas, essenciais para conseguir ser alçado a algum cargo. Apesar do papel das redes sociais no pleito geral passado, Oliveira afirma que a TV voltou a ter destaque no cenário político brasileiro.

Ele não declarou nenhuma rede social no sistema do TSE e afirmou que não usar as redes gerou maiores desafios para alavancar a candidatura, o que ele diz compensar com maior presença no rádio, TV e em eventos com a população. Oliveira também notou que alguns candidatos aparecem mais do que os outros, refletindo nas chances de eleição daqueles que possuem menos cobertura.

Já em relação à propaganda na televisão, influem tanto a distribuição do TSE do tempo por partidos e coligação com base no desempenho na eleição anterior, quanto a distribuição do tempo da própria legenda para cada candidato a deputado federal, estadual ou distrital.

As coligações com maior tempo na televisão são a do PT e mais nove partidos -que lança Lula (PT) à Presidência, seguida da que lança Jair Bolsonaro (PL) à reeleição, envolvendo o partido do presidente, PP e Republicanos. Juntas, elas representam mais de 6 minutos do tempo total de propaganda eleitoral obrigatória para os presidenciáveis, com mais de 400 inserções.

Ficaram de fora da propaganda eleitoral quatro candidatos à Presidência da República de pequenos partidos: Vera Lúcia (PSTU), Sofia Manzano (PCB), Leonardo Péricles (UP) e Eymael (DC), por não cumprirem a cláusula de desempenho brasileira.

Leonardo Péricles (UP), candidato estreante na corrida presidencial em um partido recém-criado, disse ser muito maior o desafio de tornar uma candidatura conhecida sem tempo de TV. Afirmou ainda que a falta de representação em debates também gera dificuldades para expor propostas em larga escala, especialmente para postulantes de minorias étnico-sociais.

Com isso, ressaltou ele, as redes sociais tomam um papel importante na candidatura, além do contato com os eleitores e seus problemas cotidianos, panfletagens e passeatas nas diversas regiões do país.

Em alguns países, há a cláusula de barreira, que impede a atuação parlamentar de um partido caso ele não obtenha um percentual mínimo de candidatos eleitos.

A Constituição brasileira, porém, declara ser ilegal a restrição da atuação de agremiações partidárias, proibindo que qualquer legislação impeça, por exemplo, a indicação por partidos de titulares para comissões, ou até mesmo o direito à liderança e cargos na mesa diretora das casas legislativas.

Na Alemanha, por exemplo, se um determinado partido não atinge um mínimo de 5% de votos, não perde os mandatos, mas deixa de ser um bloco partidário, perdendo força no parlamento.

Há no Brasil, porém, uma cláusula de desempenho, que não impede a atuação parlamentar das legendas minoritárias, mas não distribui recursos do Fundo Partidário, do Fundo Eleitoral e o tempo de TV a elas --o que, na prática, estrangula a atuação dos partidos, sem extingui-los.


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