SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Diferentemente do cronograma anunciado em maio, o comando da campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu não divulgar um texto final do plano de governo no primeiro turno das eleições.
Integrantes da coordenação encarregada do programa de governo de Lula relatam que a estratégia chegou a ser discutida pela equipe. Mas, entre outros argumentos, prevaleceu a tese de que o detalhamento de compromissos poderia alimentar frustrações em caso de eleição.
Além disso, a busca de ampliação do arco de alianças, ainda que informais, impõe um diálogo permanente sobre o programa. Por isso, as propostas estão sendo divulgadas de acordo com a tática eleitoral.
Essa é a justificativa do prefeito de Araraquara, Edinho Silva, coordenador de comunicação da campanha de Lula.
"Não faz sentido a campanha publicar versão final do programa de governo se queremos atrair novos apoios que vão trazer novas ideias, novas propostas. Quem quer continuar dialogando não pode encerrar o processo", argumentou Edinho.
Segundo um integrante da equipe do programa de governo, há ainda receio de que, no exercício do cargo, o presidente Jair Bolsonaro (PL) implemente ("sequestre") propostas incluídas no programa de Lula.
Nas palavras de um integrante da coordenação do programa de governo, essa não é uma disputa convencional e o oponente não quer debater propostas.
Colaboradores da campanha de Lula chegam a lembrar a experiência de Marina Silva na disputa de 2014, quando apresentou um extenso plano de governo. O programa foi dissecado por aliados e opositores, sendo alvo de críticas ao longo de toda a campanha.
Segundo integrantes dessa coordenação, ainda nesta semana os responsáveis pela redação do programa vinham se reunindo com representantes de diferentes setores da economia.
Afirmam que o programa é vivo, tendo recebido mais de 13 mil propostas na plataforma digital, além da realização de mais de 50 mesas de diálogo com entidades da sociedade e do mercado. Ainda hoje, há pedidos para agendamento dessas reuniões.
Como a Folha mostrou, a campanha ainda não colocou no papel propostas que vêm sendo citadas nos discursos e programas de rádio e televisão do petista.
Segundo cronograma original divulgado pela campanha em 6 de junho, a expectativa era a de elaborar um "programa de governo aos moldes das candidaturas modernas, enxuto, didático e inovador, com cerca de 50 páginas" que seria consolidado até 10 de agosto para registro da candidatura junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) --o que, até o momento, não ocorreu.
A equipe petista apresentou ao tribunal um documento de 21 páginas com diretrizes sobre temas diversos. Nele, por exemplo, não consta a promessa já divulgada pelo próprio ex-presidente Lula da isenção do imposto de renda para o trabalhador que ganha até R$ 5.000.
O documento também não apresenta fonte de recursos para bancar acréscimo de R$ 150 por criança de até seis anos beneficiária do programa Auxílio Brasil, divulgado no horário eleitoral.
Ao falar sobre economia, Lula nega que esteja pedindo um cheque em branco sobre suas propostas de governo, afirmando que ele tem um legado de seus dois governos para apresentar à sociedade.
Em entrevista a uma rádio em maio, por exemplo, o petista afirmou que aprendeu com o ex-deputado Ulysses Guimarães que "não se fala muito de economia antes de chegar ao governo", porque se falar "nem ganha nem faz".
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