BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Um dos alvos de teorias da conspiração do presidente Jair Bolsonaro (PL), a sala de totalização de votos e divulgação dos resultados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) não é secreta.

O espaço pode receber, nos dias de votação, representantes de partidos, além de fiscais das eleições, incluindo as Forças Armadas.

No setor trabalham 20 funcionários do tribunal que desenvolvem e monitoram os sistemas que recebem os dados de boletins de urna para a totalização dos votos. Ao contrário do que também afirma Bolsonaro, esses servidores não interferem no resultado do pleito.

Para reagir às falas do chefe do Executivo, o TSE convidou candidatos a presidente para visitarem o local nesta quarta-feira (28).

O espaço localizado no terceiro andar do tribunal é preenchido por estações de trabalho com mesas e computadores, cenário comum de empresas e repartições públicas.

A totalização é feita sem a interferência dos funcionários, por um computador que fica em outro local, no centro de processamento de dados da corte. Esta sala fica restrita a poucos servidores que fazem a manutenção do equipamento.

Terminada a votação, são gerados boletins de urna com os resultados de cada seção eleitoral. Cópias desses documentos são coladas nas portas dos locais de votação e entregues para fiscais de partidos e à Justiça Eleitoral.

Os dados digitais com os resultados das urnas, retirados de uma espécie de pen drive que fica no equipamento, são enviados ao TSE para a totalização por meio de uma rede privada e criptografada.

É comum que partidos façam uma checagem paralela dos resultados dos boletins de urna que são colados nas portas das seções eleitorais com os dados que chegam ao TSE. Neste ano, o tribunal vai divulgar os boletins em tempo real após o fim da votação.

Como mostrou a Folha, as Forças Armadas planejam checar as informações de 385 boletins de urna.

O próprio TSE convidou os militares para fiscalizar todas as etapas dos pleitos, mas os questionamentos apresentados pelo Ministério da Defesa têm servido de combustível para as insinuações golpistas de Bolsonaro.

O TCU também deve avaliar 4.161 urnas, número que representa 1% do total de aparelhos usados nas eleições.

Na última quinta (22), Bolsonaro disse que as Forças Armadas pretendem "colocar técnicos" dentro da "sala-cofre" do TSE. "Uma sala que ninguém sabe o que acontece lá dentro", declarou o presidente.

Bolsonaro já havia chamado o setor de totalização do TSE como "sala-cofre" ou "sala secreta" em outras ocasiões, com o objetivo de atacar o sistema eleitoral.

"As Forças Armadas foram convidadas [pelo TSE] e eu sou o chefe supremo das Forças Armadas. Então nós aceitamos e vamos participar da primeira à última fase, do código-fonte à sala secreta", disse ele em fevereiro.

Em abril, quando promoveu evento no Palácio do Planalto para atacar o STF (Supremo Tribunal Federal) e o TSE, o presidente também levantou a falsa teoria de que a apuração é secreta.

"Quando encerra eleições e os dados chegam pela internet, tem um cabo que alimenta a 'sala secreta do TSE'. Dá para acreditar nisso? Sala secreta, onde meia dúzia de técnicos diz 'quem ganhou foi esse'", disse Bolsonaro.

As entidades que fiscalizam as eleições têm reforçado que não há indícios de fraude na totalização dos votos.

Em relatório elaborado sobre o pleito de 2020, a OEA (Organização dos Estados Americanos) descreveu que acompanhou dentro do TSE a totalização.

"Apesar do atraso [na divulgação do resultado naquele pleito] , a missão observou que em nenhum momento o processo de transmissão dos boletins de urna e totalização dos resultados foi interrompido ou prejudicado", escreveu a OEA.

Uma auditoria contratada pelo PSDB sobre as eleições de 2014 avaliou outros 8.207 boletins. "Não foram encontradas divergências entre os BU [boletins de urna] impressos obtidos e os respectivos valores registrados na base de dados do TSE", afirma o relatório do partido.


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