BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O deputado federal e candidato à reeleição André Janones (Avante-MG) afirmou que as eleições deste ano serão um plebiscito a favor da democracia e contra as ameaças do presidente Jair Bolsonaro (PL), e disse que não dá para ganhar a guerra entregando flores para o adversário.
"A gente vai ter que salvar a democracia primeiro e, infelizmente, para salvar a democracia, a gente tem que dar esse tom plebiscitário. Todos nós somos responsáveis em alguma medida pelo bolsonarismo, pelos ataques que o homem que está na Presidência vem promovendo contra a democracia. A gente deixou acontecer. As cartas são essas", disse.
"Não dá pra gente começar a debater propostas, não dá pra gente debater conteúdo programático, não dá pra gente aprofundar num debate econômico quando, do outro lado, a gente tem um cara que está postando vídeo comendo um espetinho derramando farinha no corpo e, com isso, ganhando 2 milhões de votos enquanto a gente está aqui discutindo o modelo econômico ideal."
A declaração de Janones foi dada nesta terça-feira (27) em participação no Spaces da Folha de S.Paulo no Twitter, espécie de programa de rádio veiculado na rede social.
Janones afirma que não há como ganhar uma guerra "entregando flores", argumentando ser necessário adotar tom mais belicoso nas redes sociais em determinados momentos. "Eu não queria usar essas armas, não. Mas a gente está em uma guerra. É por isso que eu tive algumas posturas e busquei elevar o tom no momento adequado."
Tratado como um ativo da campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pelo engajamento que consegue na internet, Janones passou a ser comparado com o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) e outros integrantes da tropa de choque bolsonarista por seu estilo nas redes.
O deputado afirma, no entanto, que a comparação entre ele e o filho 02 do presidente não faz sentido do ponto de vista de "caráter" e de "capacidade", e que a única semelhança entre os dois é que eles sabem usar as redes sociais.
"Eu não vejo nenhum tipo de semelhança entre a minha pessoa e a pessoa, por exemplo, de Carlos Bolsonaro. A única semelhança que a gente tem é que a gente sabe utilizar as ferramentas que as redes sociais dispõem, é isso que eu tento mostrar", afirmou.
"Pra mim, entra num ouvido, sai no outro. Eu sei quem eu sou, sei dos meus valores. [Isso] não me incomoda, mas eu sei também que essa comparação não faz qualquer sentido do ponto de vista de caráter, daquilo que a gente defende, que é absolutamente diferente. E também do nível de capacidade, porque o que eu consegui fazer com os filhos do Bolsonaro nessas eleições foi algo inacreditável."
As rusgas virtuais e também presenciais -Janones discutiu com o ex-ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro Ricardo Salles durante o primeiro debate-- renderam críticas até mesmo de aliados de Lula, que temiam que a virulência do deputado pudesse atrapalhar a empreitada do petista.
Janones, porém, nega ter percebido qualquer animosidade na campanha e assegura que Lula nunca pediu que ele mudasse a estratégia nas redes sociais.
O deputado também afirmou que, pela análise que faz nas redes sociais, Lula vencerá no primeiro turno e com boa vantagem, mas é preciso "ficar atento e responder rápido", principalmente de sexta até domingo -período chamado por ele e outros integrantes da campanha petista de ponto cego.
"Quando você termina na quinta-feira a comunicação institucional, os programas de televisão, aí começa a ser chamado ponto cego, de sexta a sábado, [período] que muitas das vezes os institutos de pesquisa não conseguem pegar", diz.
Ele cita, por exemplo, que fica difícil mensurar o efeito que um vídeo com fake news circulando no WhatsApp pode ter na campanha e, por isso, monitorar os movimentos do adversário, junto aos principais influenciadores das redes, e rebater quando necessário.
Para Janones, Bolsonaro dá o "jogo como perdido". "Atacar ministro do STF, como ele fez hoje [terça-feira] com o Alexandre de Moraes, [é] justamente porque ele sabe que já perdeu. Como se diz no popular: a vaca já foi para o brejo", diz, argumentando que a campanha do adversário pode partir para um contra-ataque.
Janones também negou que tenha havido negociação por cargos quando ele desistiu de disputar a Presidência da República, em agosto, para apoiar Lula. O deputado federal afirmou que se considera um bom deputado federal e que é preciso valorizar o trabalho da Câmara dos Deputados.
O Spaces da Folha de S.Paulo está sendo veiculado de segunda a sexta-feira às 21h15 no Twitter, com o comando dos jornalistas da sucursal de Brasília Thaísa Oliveira, Julianna Sofia e Ranier Bragon.
Da entrevista com Janones, participaram também os repórteres da Folha Julia Chaib e Thiago Resende.
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