SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Jair Bolsonaro (PL) tem em seu conselheiro e maior cabo eleitoral evangélico, o pastor Silas Malafaia, um escudo contra acusações de corrupção e golpismo.
Em entrevista à Folha, o amigo do presidente diz que Deus agirá para "essa tralha ser travada" se houver fraude eleitoral ?nunca constatada no Brasil desde a implantação das urnas eletrônicas, em 1996. Bolsonaro se elegeu cinco vezes deputado e uma vez presidente de lá para cá.
Malafaia refere-se ao sistema de contagem de votos. "Que Deus, com seu eterno poder, dê uma travada nisso por mais de oito horas. E se esse negócio travar por mais de oito horas na contagem, a casa vai cair."
O aliado afirma que Bolsonaro só não aceitará o resultado das urnas se tiver provas de adulteração nas urnas. "Ele é algum maluco?"
Conta ainda que, enquanto esperava a noiva Michelle num casamento que seria celebrado por ele, o então deputado lhe confidenciou: queria disputar a Presidência do Brasil. "Falei: você tá louco."
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PERGUNTA- O presidente o considera um conselheiro. Daria qual conselho para esta reta final da campanha?
SILAS MALAFAIA - Acredito que o acerto é reafirmar que Lula é o governo mais corrupto da história do Brasil. A verdade absoluta: ministros presos, líderes partidários presos, o próprio Lula preso. Tenho dito: desce a ripa na corrupção. Acho até que o presidente deu muito refresco para ele nessa área.
P - O sr. já disse que o governo Bolsonaro não teve corrupção. Vemos casos nos ministérios da Educação e do Turismo, o centrão com o orçamento secreto, as suspeitas que envolvem a família do presidente.
SM - É uma tentativa da imprensa ativista política de nivelar Bolsonaro com a corrupção dos governos do PT. Nenhum governo tem o poder de controlar toda uma máquina, imagina controlar todo o Brasil. Dizer que não houve nenhuma corrupção? Não sei, tenho minhas dúvidas.
Agora, onde tem corrupção envolvendo alto escalão, o presidente? Que conversa é essa de que Bolsonaro comprou com os filhos 51 imóveis? Reuniram 17 membros da família Bolsonaro. Ex-mulher é parente? Ex-cunhado é parente? Isso é uma vergonha.
A imprensa não falou nada do filho de Lula que recebeu quase R$ 100 milhões da Oi. Não preciso reunir a família de Lula, pego só o filhinho dele, que era limpador de bosta de zoológico e hoje ficou milionário às custas do pai no governo [a Justiça arquivou inquérito que investiga Fabio Luis, ex-monitor do zoo de SP, por supostos repasses ilegais da Oi].
P - Por que evangélicos são tão importantes nesta campanha?
SM - Pela grandeza numérica. [Passa a falar sobre levantamentos que dão maioria, mas não esmagadora, a Bolsonaro no segmento]. As pesquisas estão erradas. Quer saber o que os operários pensam? Faz pesquisa na porta de fábrica. O que evangélicos pensam? Vai pra porta das igrejas. A cada 5 votos evangélicos, são 4 pra Bolsonaro e 1 em Lula.
P - Fala isso com base empírica ou estatística?
SM - Falo porque entendo o mundo evangélico, sou amigo da liderança evangélica e tenho uma rede social com mais de 10 milhões de seguidores, que é um termômetro violento em questões políticas.
P - Queria falar sobre o 'Datapovo'. A diretora do Datafolha oferece uma imagem interessante: se um torcedor desavisado for ver Santos vs. Flamengo no estádio do Santos, pode sair de lá com a impressão de que a maior torcida do país é a santista. Não há dúvida de que Bolsonaro tem alto poder de mobilização popular. Mas por que isso necessariamente refletiria a maioria do eleitorado?
SM - Desculpa meu jeito franco: manda a diretora plantar batata que ela não tá lidando com otário com esse argumentozinho frágil. Quer dizer que as manifestações de 7 de Setembro em todo o país são só de bolsonaristas? Claro que não, é reação do povo. Postei um vídeo agora, de Lula em Madureira, zona norte do Rio, lugar de povão. Tinha 4.000 pessoas no máximo. É vergonhosa a imagem de Lula lá fora. Parecia que estava mamado, mas isso é outro assunto. Meia dúzia de gente. Como um cara desses que tá em primeiro lugar tem medo do povo?
P - Como começou sua amizade com Bolsonaro?
SM - A partir de 2004, comecei a ser convidado para audiência públicas no Congresso falando de aborto, casamento gay. Bolsonaro [então deputado] fazia dobradinha comigo. Depois a Michelle foi pra nossa igreja. Bolsonaro ia, gostava de me ouvir. Eles já tinham filho [a caçula Laura]. Um dia eu disse: ô cara, que falta pra casar com essa mulher? Ele virou com esse jeitão dele: você faz meu casamento? Esperando a noiva, ele me disse: Malafaia, vou ser candidato a presidente. Só tem um jeito de peitar a esquerda antes que esses caras explodam o país. Falei: você tá louco.
P - Por que Bolsonaro, um católico, tem tanto apreço dos evangélicos?
SM - Já passou a época de gente em campanha com Bíblia na mão, dando a paz de Cristo, levantando mãozinha de adoração, como a esquerda faz. Redes sociais acabaram com essa malandragem. O que ele trouxe de afinidade? Os fundamentos de crenças e valores de Bolsonaro são os mesmos de evangélicos. Ele vem construindo isso naturalmente há anos, sem forçar a barra. Nunca precisou dizer que é evangélico.
P - O sr. gostaria de ver um presidente evangélico?
SM - Não estou preocupado com isso. Se naturalmente alguém que conquista o eleitorado é evangélico, ok. Agora, por ser evangélico vai ser presidente? Não concordo.
P - Em 2002, Anthony Garotinho angariou muitos votos se apresentando como crente.
SM - Você me fez ter uma lembrança top. Garotinho era evangélico mesmo, e por que não teve a capilaridade que Bolsonaro tem? Porque ele não incorporou os fundamentos de nossas crenças e valores. Tinha viés de esquerda.
P - Em 1989 e em 2002, o sr. apoiou o petista Lula. O que o fez mudar de ideia?
SM - Sou psicólogo, aprendi com psicologia social que ser humano é um eterno vir a ser. Se diz a mesma coisa o tempo todo é porque você é um tremendo ignorante. Pensei: o cara é pobre, veio do Nordeste, pode resgatar o país. Não havia denúncia de corrupção, a pauta de costumes aberta por eles. Ignorante seria eu apoiar Lula sabendo tudo o que PT fez.
P - O sr. diz que pagou R$ 35 mil pelo trio onde Bolsonaro discursou no 7 de Setembro carioca. Por quê?
SM - Tenho recurso para pagar por esse e tantos trios que eu quiser. Fiz isso porque sou apoiador de Bolsonaro. O presidente não podia fazer discurso em palanque montado pela prefeitura. Aí fui e paguei o trio.
P - Neste 7 de Setembro, Bolsonaro voltou a evocar 1964. Sabemos que ele é um defensor da ditadura. O sr. já disse que não concorda. Sente algum incômodo com essa posição dele?
SM - Ele é militar. Acredito que primeiro os militares fizeram uma revolução para o Brasil não cair na mão de comunistas, porque a esquerda não queria democracia. Aí continuaram no poder, e eu sou contra. Mas me diga um "a" antidemocrático de Bolsonaro. Ele foi eleito sempre no voto. Isso é um pensamento dele que eu discordo, e não há problema nenhum. Não apoio candidato a Deus, apoio seres humanos.
P - O sr. lembrou que Bolsonaro é eleito democraticamente desde 1988. E o sr. já disse que oraria para que o sistema trave se houver fraude eleitoral. Por que desconfia disso, se não há prova de fraudes desde que as urnas eletrônicas foram implantadas, em 1996?
SM - Não sou leviano, não faço acusações a ministros do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), isso transcende eles. Quer dizer que os hackers invadem o sistema mais seguro do mundo, do Pentágono, e aí não podem invadir as urnas do Brasil? Ha-ha-ha, tenho que rir. Quem vai me convencer disso? Se o sistema é tão seguro e tão bom, por que americanos, canadenses, alemães, israelenses não usam? Nós somos modelo de tecnologia? Isso é piada.
P - Se Bolsonaro perder no domingo (2), acha que será por fraude?
SM - Não tô fazendo acusação, tô falando de possibilidades. Se tentarem fraudar ?não estou perguntando pra quem? estas eleições, que Deus, com seu eterno poder, dê uma travada nisso por mais de oito horas. E se esse negócio travar por mais de oito horas na contagem, a casa vai cair. Aí não peça pra gente aceitar.
Permita-me, já que fala de processo eleitoral. Nunca na história do Brasil tivemos ministros do TSE e do Supremo Tribunal Federal ativistas. Fachin foi cabo eleitoral de Dilma, livrou a cara de Lula. Barroso, ativista de esquerda antigo. Cereja do bolo: Alexandre de Moraes. Único cara que saiu de partido, do PSDB, pra ser ministro. Que moral e isenção esses caras têm?
P - Múltiplas instituições afirmam que o discurso da fraude é golpista e pode ser usado como desculpa para Bolsonaro não aceitar o resultado das urnas, caso ele perca. Estará ao lado dele se acontecer?
SM - Primeiro que ele vai ganhar. Segundo, essa historinha de conversa fiada de [falar que] Bolsonaro não vai aceitar. Ele não vai aceitar se houver prova de fraude. Ele é algum maluco? Se mostrar fatos, vai ter apoio do povo. Se tentarem fraudar, essa tralha vai ser travada. A vontade soberana de um povo tem que se estabelecer.
P - Já ouvi pastor dizer que teme não apoiar Bolsonaro porque o sr. parte para cima nas redes sociais, e que essa campanha de desmoralização assusta.
SM - Quem fala isso é covarde, e covarde não merece crédito. O que eles têm que dizer, minha querida, é que eles têm medo do povo deles. Porque a grande maioria do povo evangélico vota em Bolsonaro. Ah, tá: virei a palmatória do mundo, a última Coca-Cola do deserto, blá-blá-blá, mimimi.
P - O PT impulsionou um vídeo em que o sr. fala contra as armas, bandeira cara a Bolsonaro.
SM - Nunca vou ter uma arma nem incentivar ninguém a usar uma. Agora, o referendo de 2005 [com maioria contra o Estatuto do Desarmamento, que continuou a vigorar] era a vontade soberana do povo.
P - Em 2015, o sr. pediu para deputados evangélicos votarem contra a revisão do Estatuto do Desarmamento.
SM - Porque sou contra armas.
P - Mas a vontade do povo, segundo o sr., não é soberana?
SM - Como tinha a discussão, tinha que me posicionar. Então vou ficar calado? Já que não respeitaram a posição do povo em 2005, então voltei à carga, estou sendo coerente com meus princípios. O PT, que é cretino, manipula vídeo. São tão otários que esse assunto não define voto evangélico. Até quem é contra a arma não deixa de votar em Bolsonaro.
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