BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Deputados federais do PL têm reclamado de falta de recursos para suas campanhas de reeleição e dizem que precisaram mudar a estratégia na reta final para cortar gastos.

A legenda mais que dobrou de tamanho na janela partidária depois que deputados bolsonaristas decidiram seguir o presidente Jair Bolsonaro (PL). Ele se filiou em novembro ao partido com a expectativa de que pudesse ter uma boa estrutura para disputar as eleições.

Aliados que tentam continuar na Câmara afirmam que têm enfrentado dificuldades para conseguir mais recursos.

Parte dos deputados do PL diz que, antes da campanha, a direção do partido sinalizou que daria R$ 1 milhão do fundo eleitoral para cada candidato à reeleição. O valor poderia aumentar, no entanto, para nomes estratégicos e com potencial de puxar votos para a legenda.

Apesar da sinalização da direção do PL, 30 dos 69 deputados que tentam a reeleição receberam menos de R$ 1 milhão. É o caso do deputado federal Capitão Augusto (PL-SP), que conseguiu R$ 500 mil do fundão.

Em 2018, o deputado teve mais de R$ 2 milhões do partido para fazer campanha.

Com o fundo eleitoral proporcionalmente mais enxuto neste ano, Capitão Augusto decidiu mudar a estratégia na última semana antes da eleição. Para conter os custos, ele conta que interrompeu as viagens pelo estado de São Paulo e priorizou publicações nas redes sociais.

"É a primeira vez que estou passando [a campanha] no vermelho. Até o começo do mês, havia a expectativa de que viessem mais recursos. Mas a campanha não pode parar", afirma.

O deputado federal Domingos Sávio (PL-MG) foi um dos que migrou para o PL durante a janela partidária depois de 34 anos no PSDB.

Ele admite que esperava mais recursos do fundão para a campanha em Minas Gerais, mas recebeu R$ 850 mil --quase o mesmo valor depositado pelo PSDB quatro anos atrás, de R$ 900 mil.

"A minha expectativa, como a de todos os demais, era de que a gente pudesse receber ao menos R$ 1 milhão. Sabendo que os outros partidos poderiam oferecer inclusive mais", diz Sávio, apontando que as trocas partidárias acabaram gerando distorções na distribuição dos recursos públicos.

"A gente tinha uma expectativa, mas infelizmente a gente também tem uma realidade. É uma campanha difícil de ser feita. Hoje não pode ter doação de empresa, não existe muita tradição de pessoa física fazer doação."

Vice-presidente da Câmara, o deputado Lincoln Portela (PL-MG) também diz ter recebido menos que o esperado. Com os R$ 500 mil depositados pelo partido para a campanha, ele gastou a maior parte com cabos eleitorais e impressão de material, como adesivos e santinhos.

"Mesmo sem receber o que precisaria, eu não parei [a campanha]. Fechei os olhos e fui. Agora, evidentemente, empurrando as contas dentro da legalidade. O TSE [Tribunal Superior Eleitoral] permite que você entregue as contas com dívidas de campanha devidamente registradas. Vai ser o meu caso", diz Portela, eleito em 2018 com R$ 1,6 milhão de recursos do partido.

Outro deputado federal, que preferiu não se identificar, afirma que fez uma dívida de mais de R$ 1 milhão com a expectativa de que fosse receber mais recursos do partido. Ele diz que havia negociado ao menos o dobro do que tinha sido prometido para aqueles que tentam a reeleição.

Ele conta, no entanto, que procurou o presidente nacional da legenda, Valdemar Costa Neto, e ouviu que não haveria nova remessa de dinheiro. Diante disso, o parlamentar relata que também precisou cancelar as viagens que faria na reta final da campanha e focar nas redes sociais.

O deputado federal Coronel Tadeu (PL-SP) diz que o partido ficou em uma "situação muito difícil" com o aumento do número de deputados federais que disputam a reeleição. Ele recebeu R$ 500 mil do fundo eleitoral, mas afirma que nunca ouviu nenhuma promessa.

"O PL hoje é a maior bancada, mas com o fundo eleitoral de 2018. O partido não aguenta mesmo. E as doações que a gente achou que poderiam vir acabaram não vindo. O caixa ficou magro mesmo para fazer campanha. É só fazer conta."

Apesar da falta de recursos para alguns candidatos, outros tiveram investimentos maiores nesta eleição. Deputados considerados puxadores de votos, como Bia Kicis (PL-DF), Marco Feliciano (PL-SP) e Carla Zambelli (PL-SP), receberam R$ 2 milhões cada para fazer campanha.

De acordo com a prestação de contas parcial enviada ao TSE na terça-feira (27), cinco candidatos abriram mão dos recursos públicos e quase metade dos parlamentares (34) recebeu mais de R$ 1 milhão.

No partido, 19 candidatos à reeleição na Câmara tiveram R$ 2 milhões ou mais do diretório nacional do PL para bancar a candidatura. Oito das nove mulheres que receberam recursos da legenda estão nessa lista.

Pela lei eleitoral, os partidos precisam investir, no mínimo, 30% do fundo eleitoral em candidaturas femininas. Neste ano, as siglas ainda conseguiram mais dinheiro para gastar do que na eleição passada -são R$ 4,9 bilhões de fundo eleitoral contra R$ 1,7 bilhão em 2018, valor que, corrigido pela inflação do período, seria equivalente a R$ 2,9 bilhões.

A direção do PL foi procurada, mas não se manifestou. Em meio às reclamações sobre a falta de recursos para campanha, Valdemar Costa Neto enviou um vídeo para os filiados ao partido com uma prestação de contas no início de setembro.

Na gravação, o dirigente explica que os recursos ficaram escassos por causa do aumento da bancada do Partido Liberal na última janela partidária. A quantidade de deputados do partido saltou de 33, em 2019, para 76 neste ano, e a legenda teve R$ 268 milhões para gastar.

Como a divisão dos recursos do fundo eleitoral considera o tamanho das bancadas no início da legislatura, a capacidade de investimento na reeleição de deputados do PL foi praticamente reduzida pela metade.

"Nós temos esse quadro hoje, a dificuldade é muito grande. Se não tivermos doações, vamos passar por um aperto muito grande porque não temos capacidade para atender 1.600 candidatos a [deputados] federais, [deputados] estaduais e senadores", disse Valdemar no vídeo.

"O dinheiro que vem do fundo não é suficiente. O nosso pessoal está pagando muito caro. Por isso, nós temos que lutar para que a gente tenha mais aportes, mais doações, para que a gente possa fazer uma eleição que possa dar uma margem de trabalho com segurança para esses deputados".


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