BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - As campanhas de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) comemoraram o desempenho de seus candidatos e apontaram erros dos adversários no debate da TV Globo, último antes do primeiro turno.

Aliados de Bolsonaro avaliaram como muito negativo para Lula o bate-boca do petista com o candidato Padre Kelmon (PTB), nanico eleitoral que fez dobradinhas com o presidente. A ríspida discussão entre os dois levou o apresentador William Bonner a interromper o debate por alguns instantes.

Os microfones foram cortados e as câmeras da TV Globo não mostraram a cena do bate-boca de Lula com Kelmon. O petista demonstrou irritação e reagiu a provocações do petebista sobre corrupção, chamando-o de "candidato laranja".

O bloco foi iniciado com Bolsonaro, que escolheu Luiz Felipe D'Ávila (Novo) para perguntar, sendo que poderia ter selecionado Lula. Dessa forma, o confronto entre Kelmon e Lula ocorreu de caso pensado, segundo aliados do mandatário, sendo uma "casca de banana" jogada por Bolsonaro para o petista. Lula caiu, segundo integrantes do time bolsonarista.

Para o entorno do chefe do Executivo, o bate-boca pode criar rejeição para Lula, que também foi alvo de outros candidatos, principalmente no tema corrupção.

"[Lula] Foi humilhado e rebateu com o fígado. Foi o grande derrotado da noite. Perdeu completamente a forma", disse nas redes sociais o ministro da Secretaria-Geral, Luiz Eduardo Ramos.

Também foi muito replicado nas redes bolsonaristas o momento em que Lula disse que vai voltar a ser presidente e Kelmon rebate: "Não vai, não".

Aliados de Lula, por sua vez, admitiram que ele caiu em uma armadilha ao subir o tom na resposta a Padre Kelmon. No entanto, eles minimizaram os danos que o episódio pode causar.

A campanha do petista diz que, segundo suas pesquisas qualitativas, embora tenha havido a percepção de parte dos eleitores de que Lula se excedeu, o ex-presidente foi foi visto pela maioria como vítima de um impostor.

Ainda assim, alguns integrantes do núcleo de Lula avaliaram que o bate-boca não repercute bem ao demonstrar agressividade. Eles temem como vídeos do episódio serão usados por adversários em recortes propagados nas redes sociais.

Como vacina, aliados de Lula já começaram a divulgar fotos e um vídeo em que Bolsonaro aparece conversando com Kelmon, para argumentar que o candidato do PTB estava fazendo dobradinha com o presidente da República.

Ao final do encontro, Lula foi questionado sobre o embate com Kelmon. "Quando eu fui... engrossei, eu não perdi as estribeiras. Era preciso alguém dizer alguma coisa desse cidadão. Esse cidadão aparece desconhecidamente e se coloca como candidato; e faz o papel de um candidato laranja de forma vergonhosa", afirmou.

Em outra frente, pesquisas qualitativas feitas pela campanha petista mostraram que Bolsonaro se saiu mal entre eleitores indecisos. A avaliação deles é que o ex-presidente venceu a queda de braço com o atual chefe do Executivo. De acordo com aliados de Lula, Bolsonaro soou agressivo, pouco propositivo e falou para a própria bolha.

No primeiro bloco, Bolsonaro manteve uma postura similar à de 2018, mais radicalizada, focando ataques a Lula e ao PT. Nos demais, conseguiu tratar de outros temas.

Os marqueteiros da campanha de Bolsonaro não o acompanharam no debate. O presidente levou em sua comitiva os ministros Fábio Faria (Comunicação) e Ciro Nogueira (Casa Civil), além de dois de seus filhos: o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).

Antes de começar o programa, o presidente rezou um Pai Nosso com seus aliados e seguranças no camarim. O vídeo foi divulgado nas redes sociais.

O fato de Bolsonaro não ter tido episódios de descontrole com as candidatas Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União Brasil) também foi comemorado pela campanha. Na avaliação de interlocutores, ele se saiu bem por não cometer grosserias como as do primeiro debate, no final de agosto, quando ofendeu a jornalista Vera Magalhães. Aliados têm destacado que o presidente precisa ter melhor desempenho entre o eleitorado feminino.

De acordo com o Datafolha divulgado horas antes do debate, Lula tem 50% dos votos válidos contra 36% do mandatário. O levantamento reforça a possibilidade de uma eventual vitória no primeiro turno para o petista.

A campanha de Lula comemorou o que considerou uma melhora considerável de Lula em relação ao debate da TV Band.

A avaliação é a de que o ex-presidente conseguiu ser incisivo nas declarações e respondeu bem a provocações de adversários.

Segundo auxiliares, Lula conseguiu dar respostas mais efetivas quando questionado sobre corrupção e conseguiu se defender e apontar suspeitas que pairam sobre Bolsonaro e sua família.

Tebet também foi bem avaliada entre os petistas. Ciro foi considerado apagado.

A expectativa da campanha do candidato do PT é que o debate tenha impacto sobre indecisos e que Lula consiga se beneficiar na reta final.

"Acho ao final que o Lula foi bem. Foi atacado o tempo todo e só teve chance de se defender. O fato de ter se indisposto com o padre de festa junina [forma como Kelmon foi chamado pela candidata Soraya Thronicke] não tira votos dele. O padre que não é padre seguiu sendo um idiota, apenas", avaliou o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

A campanha de Tebet afirmou que ela novamente teve o melhor desempenho nos debates, sendo "firme" nas respostas e centrando sua fala em questões mais ligadas aos eleitores.

No entanto, alguns aliados disseram que, embora se destacando, o destaque para Tebet foi menor por causa das circunstâncias. Afirmaram que o debate da TV Globo foi mais marcado por bate-boca e questões folclóricas, enquanto os demais foram centrados em temas mais relevantes.

Uma avaliação da campanha de Tebet, com base em dados do interesse dos internautas ao longo do tempo, mostrou que ela teve picos de interesse em todos os blocos. Um de seus principais momentos se deu quando rebateu Bolsonaro, que pretendia usá-la para atacar Lula no caso Celso Daniel.

Um dos objetivos internos da campanha de Tebet, não discutido publicamente, é reunir apoio na reta final da campanha para tentar que ela termine as eleições à frente de Ciro Gomes.


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