SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O apoio do governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), a Tarcísio de Freitas (Republicanos), candidato ao governo do estado, e a Jair Bolsonaro (PL), à Presidência da República, pode ajudar a consolidar um domínio dos candidatos de direita sobre o estado.

Análise da Folha sobre os municípios onde o tucano teve melhor desempenho no primeiro turno mostra que Tarcísio e Bolsonaro dominaram também essas localidades, mas com votação um pouco abaixo da média estadual.

A avaliação compara todos os municípios de São Paulo aos locais onde Rodrigo teve 28,5% ou mais dos votos, que totalizam 161 cidades (equivalentes a 25% do estado). Nessas localidades estão as 52 onde ele ganhou.

O grupo representa uma pequena parte do eleitorado paulista, 1,2 milhão (3,4%) num universo de 34,7 milhões. Isso acontece porque o atual governador de São Paulo teve mais tração em cidades com poucos eleitores --em média, 7.339 no grupo analisado.

Comparando as duas duplas que ainda estão no páreo para governo federal e estadual, a proporção de cidades vencidas onde o atual governador se destacou foi mais favorável para os candidatos de direita.

As 37 cidades ganhas por Lula (PT) nessa fatia de São Paulo representam 23% do bolo, próximo dos 20% que ele teve no estado todo.

Houve um empate em Ribeirão do Sul, com 1.452 votos para os dois postulantes à Presidência, desconsiderado nessa análise.

Fernando Haddad (PT) foi o vencedor em 13 cidades desse bolo, equivalente a 13,5% das 96 levadas por Tarcísio. Olhando para o estado todo, o petista ganhou em 91 municípios, 18% dos 500 do ex-ministro da Infraestrutura.

Avaliar apenas o número de cidades, no entanto, não conta toda a história. Na média, vantagem de Bolsonaro e de Tarcísio no percentual de votos foi mais apertada nessas localidades.

Em média, Lula teve 38,9% dos votos em cada um dos municípios de São Paulo e 40,8% naqueles onde Rodrigo se destacou. Bolsonaro teve uma queda no percentual nesses lugares, de 53,3% para 51,8%.

Essa conta é diferente da totalização de votos no estado, onde Bolsonaro teve 47,7% e Lula teve 40,1%. Aqui, é considerada a média do percentual de votos em cada município.

Com Rodrigo abocanhando parte dos votos para governador, tanto Tarcísio quanto Haddad tiveram um percentual de votos menor que a média onde o tucano foi bem. A baixa, no entanto, é mais acentuada com o ex-ministro: de 45,1% para 37,5%, ante 29,5% para 26,1% do petista.

Para Glauco Peres da Silva, professor de ciência política da USP (Universidade de São Paulo), analisar apenas esse padrão nos votos não é o suficiente para cravar que Rodrigo Garcia roubou mais votos de Tarcísio do que de Haddad. A hipótese, no entanto, "faz sentido até por uma questão ideológica", diz.

A complexidade de analisar a eleição estadual se dá porque, na nacional, eram efetivamente dois candidatos disputando e, em São Paulo, três. "Se escolhi votar no Rodrigo eu não tenho uma correspondência para presidente", afirma Silva.

Com isso, avalia o professor, o apoio do governador é "boa notícia" para Bolsonaro e Tarcísio, mas isso não significa necessariamente uma transferência de votos. O palanque é um dos fatores que pode pesar na decisão.

"Esse eleitor que votou no Rodrigo Garcia é o mesmo que vai votar guiado pela rejeição ao PT, ou então é um que vai dizer 'tentei a terceira via e não deu certo, mas não quero a extrema direita", pondera Silva.

Por isso, antes de tentar prever o impacto nas urnas, é importante olhar para fatores além da votação e da declaração de apoio. Entre eles, os apoios de prefeitos e lideranças locais, além das pesquisas eleitorais indicando a segunda opção dos eleitores.

A última pesquisa Datafolha antes do primeiro turno, divulgada no dia 1º, mostrava Tarcísio (15%) e Haddad (14%) empatados tecnicamente na segunda opção de votos. No levantamento mais recente, publicado na sexta-feira (7), o instituto marcava o ex-ministro com 50% das intenções de votos, ante 40% do petista.

Na terça-feira (4), o governador de São Paulo, Rodrigo Garcia declarou seu apoio incondicional a Tarcísio de Freitas e a Jair Bolsonaro. A movimentação aconteceu após o PSDB liberar seus membros para apoiarem quem quiserem no segundo turno.

Rodrigo terminou o primeiro turno da eleição em terceiro lugar, com 18,4% dos votos válidos, numa derrota histórica para o PSDB em São Paulo.


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