SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) - O candidatos Jerônimo Rodrigues (PT) e ACM Neto (União Brasil) estão em empate técnico na disputa pelo governo da Bahia na véspera do segundo turno. Pesquisa Ipec divulgada neste sábado (29) aponta que o petista tem 51% das intenções de votos válidos contra 49% de seu adversário.

Nos votos totais, Jerônimo tem 48% contra 47% de ACM Neto. Brancos e nulos somam 2%, enquanto os indecisos são 3%. A pesquisa, registrada com o número BA-02006/2022, ouviu 2.000 eleitores entre 23 e 29 de outubro e tem margem de erro de pois pontos para mais ou para menos, considerando um nível de confiança de 95%.

Caso Jerônimo prevaleça nas urnas, a Bahia terá o quinto governo consecutivo do PT, indicando um ciclo de aos menos 20 anos de governos do partido no estado.

O petista, que disputa sua primeira eleição, chegou ao segundo turno na condição de favorito. Teve 49,45% dos votos válidos no primeiro turno contra 40,80% de ACM Neto no primeiro turno e ficou a menos de 50 mil votos da vitória ainda em 2 de outubro.

O ex-prefeito de Salvador, por sua vez, conseguiu atrair para si a maior parte do eleitorado bolsonarista que no primeiro turno votou em João Roma (PL), ex-ministro de Bolsonaro que terminou o primeiro turno com 9,08%.

Neste segundo turno, Jerônimo dobrou a aposta na nacionalização da campanha e intensificou sua associação com o candidato a Presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que veio à Bahia e liderou um ato de campanha em clima de Carnaval em Salvador com público estimado em 100 mil pessoas.

O petista decidiu que a melhor estratégia no segundo turno era jogar parado e evitar confrontos com seu adversário. Enquanto no primeiro turno foi ACM Neto que faltou a dois dos três debates televisivos, no segundo turno a situação se inverteu e foi Jerônimo quem não compareceu aos quatro confrontos promovidos por emissoras de televisão locais.

"É inaceitável e inacreditável que um candidato ao governo do estado, no segundo turno fuja de encarar o seu adversário frente a frente. A verdade é que ele quer esconder quem ele é", disse ACM Neto em uma rede social.

Com um bom desempenho no primeiro turno, prefeitos, deputados e líderes políticos que haviam apoiado o ex-prefeito de Salvador aderiram ao petista. As alianças incluíram até um movimento "JeroNaro" liderado pelo PSC, com voto casado em Jerônimo e no presidente Jair Bolsonaro (PL).

Em sabatina à Folha de S.Paulo e ao UOL, o petista prometeu diálogo seja qual for o presidente eleito no próximo domingo (30), mas enfatizou a importância de trabalhar pela eleição de Lula no segundo turno, dizendo que "a Bahia tem lado".

ACM Neto decidiu manter no segundo turno a estratégia de neutralidade em relação à eleição, evitando se posicionar entre Lula e Jair Bolsonaro. Nos programa de rádio e televisão, repetiu que estaria preparado para governar com qualquer presidente.

Na corda-bamba entre lulistas e bolsonaristas, foi chamado pelos adversários como o "candidato do tanto faz" e fustigado pelos dois lados.

"O ex-prefeito está dizendo aqui que tanto faz. Não é tanto faz. Se nós tivermos o Lula presidente é um desenho. Se não tivermos, é outro que não nos interessa", disse Jerônimo.

Apesar da neutralidade, ACM Neto se aproximou de líderes bolsonaristas no segundo turno. Deputados próximos a ele como Elmar Nascimento e Arthur Maia, ambos do União Brasil, se engajaram na campanha de Bolsonaro. Também aderiu ao presidente o vice-governador da Bahia João Leão, que já havia rompido com o PT da Bahia em março deste ano.

Derrotado no primeiro turno, João Roma deu um apoio tímido e evitou participar de eventos junto com o ex-prefeito de Salvador. Os dois foram amigos por mais de 20 anos, romperam em 2021, quando Roma aceitou ser ministro de Bolsonaro.

No primeiro turno, as diferenças no campo pessoal ganharam relevo durante o último debate, quando Roma disse querer distância de ACM Neto, que lembrou ao antigo aliado que era padrinho da filha dele.

Bolsonaro, por sua vez declarou seu apoio ao ex-prefeito de Salvador em visita à Guanambi (680 km de Salvador) nesta terça-feira (25): "Aqui na Bahia, nós temos posição: o lado oposto ao PT. Por isso peço aos meus amigos da Bahia, para que votem em ACM Neto", disse.

O apoio foi explorado pelos adversários, que passaram a tentar colar em ACM Neto a pecha de "candidato de Bolsonaro". O ex-prefeito de Salvador, contudo, informou que nada muda em relação à sua neutralidade.

Sem os debates, ACM Neto apostou na vitrine de entrevistas na televisão para criticar seu adversário e pedir que os eleitores façam uma comparação entre trajetórias, realizações e currículos entre os dois candidatos.

Mirou suas baterias nas áreas de segurança pública, destacando que a Bahia lidera em número de homicídios, e na educação, área que foi comandada por Jerônimo de 2019 a 2022 e que registrou o quarto pior desempenho no Ideb para o ensino médio em 2021 entre os estados brasileiros.

Jerônimo contra-atacou com críticas aos reajustes no IPTU, ao crescimento da arrecadação da prefeitura com multas e ao baixo patamar de cobertura da atenção básica de saúde na gestão ACM Neto.

Entre os aliados do petista, o discurso é de pé no chão mesmo com o favoritismo. O principal desafio será a mobilizar as bases de apoiadores neste segundo turno, para, além e eleger jerônimo, ampliar a votação de Lula na Bahia.

Ainda assim, Jerônimo evitou uma reaproximação com parte dos prefeitos que eram aliados do PT, mas apoiaram ACM Neto. Em entrevista, disse ser difícil manter o diálogo com alguns prefeitos que "criaram uma situação de ingratidão ao governador Rui Costa".

Além da campanha nas ruas, a internet foi um campo de batalha entre os dois candidatos. Um dos focos de desgaste de ACM Neto foi a autodeclaração racial como pardo na Justiça Eleitoral, que lhe rendeu críticas e memes.

Ao longo da campanha, o petista ganhou engajamento nas redes sociais ancorado pela militância petista e passou a liderar o Índice de Popularidade Digital (IPD), calculado diariamente pela Quaest e publicado pela Folha que mede o desempenho dos candidatos nas redes sociais.


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