SALVADOR, BA, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) terá governadores aliados em 11 estados a partir de 2023, incluindo quatro governadores do PT, mas terá de lidar com nomes da oposição em 14 governos estaduais, especialmente no Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país.
Há também dois governadores eleitos que ficaram neutros: Eduardo Leite, no Rio Grande do Sul, e Raquel Lyra, em Pernambuco. Ambos são do PSDB.
Neste segundo turno, aliados de Lula venceram a disputa em cinco estados: Bahia, Paraíba, Alagoas, Sergipe e Espírito Santo.
A relação com os governadores deverá ser uma das bases do novo presidente para emplacar projetos de interesse do governo. Desde o início da campanha, Lula tem dito que pretende chamar governadores e prefeitos das capitais de todo o país, inclusive os partidos de oposição, para uma conversa nas primeiras semanas de governo.
Além de defender uma ação alinhada em projetos importantes, o futuro presidente deve definir com os gestores quais obras são prioridade de cada estado. O objetivo é fazer um contraponto a Bolsonaro que teve uma relação de rusgas com os governadores durante o seu mandato, especialmente os de estados do Nordeste.
Com 11,3 milhões de eleitores, a Bahia será o maior estado governado pela base lulista. O petista Jerônimo Rodrigues venceu o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil) por margem estreita, consolidando uma hegemonia do PT na Bahia que chega ao quinto mandato consecutivo.
No Espírito Santo e na Paraíba, foram reeleitos os governadores João Azevêdo e Renato Casagrande, ambos do PSB. Em Sergipe, o eleito foi o deputado federal Fábio Mitidieri, que faz parte da ala lulista do PSD, enquanto em Alagoas foi reeleito o governador Paulo Dantas (MDB).
No primeiro turno, Lula já havia visto vitórias de aliados no Amapá, Ceará, Maranhão, Pará, Piauí e Rio Grande do Norte.
Em outros 14 estados estarão governadores que apoiaram Jair Bolsonaro neste segundo turno. A principal derrota petista foi em São Paulo, onde Fernando Haddad (PT), que foi ministro da Educação no governo Lula e h avia disputado a Presidência pelo partido em 2018, não se elegeu.
A vitória de Tarcísio de Freitas (Republicanos) consolida um domínio do bolsonarismo no Sul e Sudeste. Nesta última, os governadores Cláudio Castro (PL), no Rio, e Romeu Zema (Novo), já haviam sido reeleitos em primeiro turno.
Maior colégio eleitoral do país com 34,6 milhões de eleitores, São Paulo será comandado por um governador do núcleo duro do bolsonarismo e deve atuar como uma espécie de contraponto ao governo petista.
No Sul, houve vitória bolsonarista em Santa Catarina, com Jorginho Mello (PL), e derrota no Rio Grande do Sul, onde Onyx Lorenzoni (PL) perdeu para Eduardo Leite. O presidente Bolsonaro é aliado também de Ratinho Júnior (PSD), eleito no Paraná no começo do mês.
No Norte do país, Bolsonaro teve mais duas vitórias neste domingo, com Wilson Lima (União Brasil) no Amazonas e Marcos Rocha (União Brasil) em Rondônia. Por outro lado, Pará e Amapá serão governados por aliados de Lula.
No Centro-Oeste, Mato Grosso do Sul também será governado por um aliado de Bolsonaro, o tucano Eduardo Riedel. No primeiro turno, a disputa para os governos de Mato Grosso e Goiás já havia sido vencida por partidos de direita.
No Rio Grande do Sul e em Pernambuco, os novos governadores ficaram neutros nesta segunda etapa da eleição presidencial. Eleito para um novo mandato, Eduardo Leite teve o apoio crítico do PT neste segundo turno e não terá dificuldade em construir pontes com o novo presidente.
Raquel Lyra também manteve a neutralidade contra Marília Arraes (Solidariedade), mas recebeu o apoio de uma pequena parcela do PT e de nomes da esquerda como o deputado federal Túlio Gadêlha (Rede).
A expectativa é que Lula busque construir pontes com governadores da oposição, incluindo nomes como Cláudio Castro e Romeu Zema.
Castro, que é do mesmo partido de Bolsonaro, teve uma postura dúbia durante parte do primeiro turno. Em setembro, cerca de uma semana antes da eleição, disse que não compartilhava da opinião do presidente sobre a ameaça que representaria uma eventual vitória de Lula à Presidência.
"Nessa época de campanha os nervos estão aflorados. No final das contas, Bolsonaro não fez aquilo que as pessoas falam, e o Lula não vai fazer aquilo que falam. É uma guerra política", disse ele à Folha de S.Paulo. Um dos principais interlocutores entre o presidente o governador deve ser André Ceciliano (PT), candidato derrotado para o Senado mas com boa relação com Castro.
O governador de Minas Gerais, por sua vez, se manteve neutro no primeiro turno e viu aliados estimularem o voto Luzema, com eleitores que votam tanto em Lula como em Romeu Zema. A estratégia deu certo e o governador se reelegeu no primeiro turno, mesmo com Lula prevalecendo em seu estado.
No segundo turno, Zema subiu no palanque de Bolsonaro e conclamou prefeitos aliados que fizessem o mesmo. Mas na última semana disse que está disposto a dialogar com o petista, caso ele seja eleito. Para isso, disse, Lula precisa apresentar propostas que façam "o Brasil avançar".
"Se for de retrocesso, da minha parte não terá diálogo não. Agora, se for para o Brasil avançar, nós estaremos totalmente abertos, eu tenho certeza", disse Zema em entrevista à CNN Brasil na última sexta-feira (28).
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