BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) terá a difícil tarefa de ampliar o atual leque de alianças para conseguir uma base no Congresso que lhe possibilite o apoio de ao menos 60% dos deputados federais e dos senadores, número mínimo para aprovação de mudanças na Constituição.

Os deputados eleitos por sua coligação somam 122 das 513 cadeiras na Câmara, número que não chega nem perto da metade, mínimo para aprovação de um simples projeto em sessões com presença completa.

O número de parlamentares de todos os dez partidos de sua aliança é ligeiramente maior do que o do PL de Bolsonaro, que elegeu 99, tornando-se a maior bancada da nova legislatura. Apesar de o tamanho da esquerda ser insuficiente, Lula conta com o fato de que legendas de centro e de direita, como o PSD de Gilberto Kassab e o MDB, inclinam-se a apoiá-lo, assim como o PDT, que o apoiou no segundo turno.

Esses três partidos somam mais 101 cadeiras, o que, mesmo assim, deixaria a nova base lulista longe da metade da Casa (257). Assim, Lula terá de atrair siglas como o União Brasil (59), além de possíveis defecções no centrão de Bolsonaro, como Republicanos (41) e parlamentares avulsos de PL e PP.

Assim como todo presidente eleito, o novo ocupante do Palácio do Planalto chega ao cargo com uma força considerável de atração de parlamentares, que têm na relação com o Executivo a sua principal fonte de sobrevivência política via emendas orçamentárias e cargos na máquina federal.

O ponto central da relação com a Câmara passará ainda por uma nova eleição, a do novo comando da Casa, em fevereiro. A vitória de Lula enfraquece as pretensões de Arthur Lira (PP-AL), um dos principais aliados de Bolsonaro, de seguir no comando. Apesar disso, o líder do centrão vem articulando há muito tempo a sua reeleição, independentemente de quem saísse vitorioso neste domingo.

Aliados do petista apostam na chance concreta de as emendas de relator --que colocam na mão de Lira a distribuição de bilhões de reais do Orçamento a parlamentares-- serem declaradas inconstitucionais pelo STF (Supremo Tribunal Federal) até o final do ano. Assim, o petista poderia negociar de forma mais fácil um nome de consenso com outras forças de centro, como União Brasil, PSD, MDB e até mesmo Republicanos.

Nomes como o do presidente do União Brasil, Luciano Bivar (PE), da ex-governadora Roseana Sarney (MDB-MA), do presidente do MDB, Baleia Rossi (SP), do deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) e do presidente do Republicanos, Marcos Pereira (SP), são citados como potenciais candidatos de centro com condições viáveis de enfrentar o atual chefe do centrão. Antes de tomar uma decisão, porém, Lula terá que ponderar se terá força política para comprar briga com Lira, um inimigo a ser evitado no Congresso.

No Senado, o cenário é ligeiramente melhor para o petista, apesar de Bolsonaro ter emplacado vários ex-ministros, como Marcos Pontes (PL-SP) e Rogério Marinho (PL-RN), o que também tornou o PL a maior bancada. Isso se dá porque o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), tende a se inclinar ao lulismo, assim como o MDB de Renan Calheiros (AL) e Renan Filho (AL).

O resultado deste domingo reforça consideravelmente as chances de Pacheco ser reeleito para o comando do Senado em fevereiro. Com isso, uma possível base lulista reuniria 35 das 81 cadeiras.

Seria preciso ainda, assim como na Câmara, recorrer a outras siglas, como o União Brasil --fusão do PSL e do DEM--, que ficou neutro na eleição e abriga dirigentes inclinados tanto a Lula como a Bolsonaro. O partido comandado por Bivar, simpático a Lula, terá 11 cadeiras, a segunda maior bancada da Casa.

Para obter o mínimo de 49 votos para aprovação de mudanças na Constituição, seria preciso ir atrás do apoio avulso de integrantes do centrão.


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