SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - No dia que antecede o primeiro turno da eleição brasileira, grupos bolsonaristas difundiram mensagens de convocação para motociatas e de uso de roupas com as cores verde e amarela no dia da votação.

Também celebraram o apoio de artistas a Jair Bolsonaro (PL) e engrossaram o coro de vitória no primeiro turno, cenário improvável segundo as principais pesquisas. As críticas ao PT e às urnas apareceram com conteúdos requentados, com a exceção de novas tentativas de contagem paralela de votos.

As mensagens sobre o endosso público do cantor Gusttavo Lima e da dupla sertaneja Bruno e Marrone ao atual presidente e candidato à reeleição estiveram entre as mais virais durante o dia, com mais de 200 encaminhamentos em grupos no Telegram. O pedido para que os eleitores usem peças em verde e amarelo no domingo (2) dominou os grupos de WhatsApp, com centenas de compartilhamentos.

O cenário foi detectado pelo Observador Folha/Quaest, que monitora 465 grupos de conversa no Telegram e 1.346 grupos públicos no WhatsApp, de 0h até as 16h deste sábado (1º). Da amostra, 176 são grupos bolsonaristas de Telegram, e 511, de WhatsApp. Os outros são lulistas ou não determinados.

O vídeo "Marrone e Gusttavo Lima declaram apoio a Bolsonaro -para desespero da esquerda", de Gustavo Gayer (PL), candidato a deputado federal por Goiás, foi um dos mais publicados sobre o assunto.

As transmissões ao vivo da motociata de Bolsonaro em São Paulo também estiveram entre os links mais compartilhados nos grupos de conversa. As duas lives mais populares, do canal Francisco Mello, e do Foco do Brasil, geraram, juntas, mais de meio milhão de visualizações.

A reta final da campanha imprimiu tom otimista nos grupos, muitas vezes ocupados em atacar o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e adversários. As pesquisas que colocam Bolsonaro à frente de Lula ajudaram a impulsionar mensagens de vitória neste domingo, o que o próprio presidente tem repetido em comícios.

Levantamento da Brasmarket divulgado na sexta (30) mostra 45,4% das intenções de voto para Bolsonaro, e 30,9%, para Lula (PT). A pesquisa foi compartilhada mais de 130 vezes em grupos de WhatsApp neste sábado. O resultado é muito divergente dos de institutos como o Datafolha e o Ipec, que divulgaram levantamentos na véspera do dia da votação. Segundo o Datafolha, Lula tem 50% dos votos válidos, ante 36% de Bolsonaro. Já a do Ipec mostra o petista com 51% dos votos válidos, e Bolsonaro, com 37%.

Neste sábado, a desconfiança sobre o sistema eleitoral não apareceu em forma de ataques diretos, mas concentrada na disseminação de um vídeo de 2014 do Projeto Você Fiscal, apresentado pelo pesquisador Diego Aranha, então professor do Instituto de Computação da Unicamp.

O material estimula os eleitores a fotografar boletins de urna das portas das seções após as 17h e a enviar as imagens a um aplicativo para fiscalização. O projeto não está válido nesta eleição, então a viralização não terá efeito prático para os eleitores bolsonaristas. Desde que o Você Fiscal foi lançado, a auditoria por meio do boletim de urna evoluiu. O TSE incluiu um QR Code e criou um aplicativo para permitir a leitura e a coleta dos comprovantes para posterior comparação. O tribunal também disponibiliza informações técnicas para entidades que quiserem criar seu próprio aplicativo de fiscalização.

O vídeo começou a viralizar na sexta-feira e foi encaminhado centenas de vezes, chegando a mais de 200 grupos de conversa. "Agora sim! Com esse vídeo viralizando até as 0h de sábado, duvido o TSE fraudar as urnas. Mas o vídeo tem que viralizar. Senta o dedo, rapaziada!", diz uma mensagem que o acompanha.

Além do vídeo antigo de Aranha, outra tentativa de contagem paralela de votos começou a ganhar tração. Cerca de 94 mil pessoas se inscreveram em um grupo de Telegram para tentar fiscalizar os votos.

"Voto secreto é coisa de petista que quer fraudar as eleições, como já vem fraudando há 16 anos", afirma a mensagem. O texto pede que os eleitores tirem foto do comprovante do voto, escrevam que votaram em Bolsonaro e compartilhem as imagens em grupos estaduais. "Tire uma foto do comprovante e envie no grupo do seu estado, que será liberado para postagem no dia 02/10/2022."

Áudios de caminhoneiros convocando para uma paralisação caso Bolsonaro seja derrotado começaram a ser espalhados em diversos grupos de conversa, embora não haja nenhum tipo de coordenação nacional.


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