BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A atuação inédita das Forças Armadas na fiscalização das eleições que ocorrem neste domingo (2) foi utilizada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) para desacreditar o sistema eletrônico de votação e motivo para acirrar a crise entre o governo e o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Mesmo com toda a turbulência, generais ouvidos pela Folha afirmam que a atuação não busca promover uma ruptura institucional, por mais que Bolsonaro use os militares para fazer insinuações golpistas. Para eles, a tentativa é de auxiliar no aprimoramento do processo eleitoral, mesmo sem experiência no assunto.

No dia da votação, as Forças Armadas trabalharão em duas frentes. Como de costume, vão atuar em operações de Garantia de Votação e Apuração, cujo objetivo é auxiliar em questões logísticas e de segurança. Ao todo, 34 mil militares vão a 585 municípios em 11 estados para transporte de urnas e segurança de eleitores. O trabalho envolve ainda proteção aeroespacial e cibernética.

Em outra frente, as Forças Armadas vão trabalhar em três etapas da fiscalização. Na manhã de domingo, os militares vão checar a emissão da zerésima, boletim cujo objetivo é confirmar que as urnas não possuem votos antes do início da votação. Durante o pleito, representantes das Forças também vão acompanhar o teste de integridade --auditoria que confirma se as urnas registram corretamente os votos.

Newsletter Eleições 2022 Um resumo com o que de mais importante a Folha destaca sobre a eleição *** Após a votação, militares espalhados pelo país vão tirar fotos de 385 boletins de urna e enviá-las a técnicos das Forças Armadas em Brasília. O objetivo é conferir se os votos não sofrem mudanças ao chegar ao TSE. Essa última etapa, revelada pela Folha, causou mal-estar entre Defesa e tribunal.

Estimulado por integrantes da corte eleitoral, o TCU (Tribunal de Contas da União) também decidiu realizar uma checagem semelhante à dos militares no dia da eleição, para servir como uma salvaguarda contra possíveis questionamentos dos militares. Auxiliares da Defesa e generais do Alto Comando do Exército ouvidos pela Folha afirmam que o objetivo da fiscalização não é contestar o resultado do pleito.

Dizem, porém, que se encontrarem falhas no processo eleitoral que possam influenciar no resultado das eleições há caminhos previstos em resoluções do TSE para pedir a verificação dos sistemas eleitorais.

Os militares foram incluídos na discussão do processo eleitoral em setembro de 2021. Numa tentativa de frear os ataques de Bolsonaro às urnas, o então presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, criou a Comissão de Transparência Eleitoral e incluiu as Forças Armadas no colegiado. A ideia era trazer os militares para perto do processo e, assim, conseguir o respaldo deles na defesa do sistema de votação.

Em conversas reservadas, porém, magistrados avaliam que a tentativa de obter um antídoto teve o efeito contrário: em vez de aumentar a confiabilidade do pleito, forneceu uma ferramenta para as Forças Armadas inflarem ainda mais o discurso de Bolsonaro contra o sistema eleitoral brasileiro.

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