SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - "Eu acho que não fiz minha biometria." Essa foi uma das frases ouvidas à exaustão por mesários nas eleições deste domingo (2). Marcado por novas regras, como a proibição do uso do celular na urna e a própria implementação da biometria, o pleito foi comentado pela lentidão e pelas filas.

É difícil, a esta altura, cravar um único motivo. Na seção em que esta repórter atuou como mesária na capital paulista --a segunda vez na função, após participar nas eleições de 2020--, tanto a confusão da novidade tecnológica quanto uma aparente maior adesão à disputa eleitoral pareceram aumentar o tempo de espera.

Eleitores comentavam, ao finalmente entrar na sala, que nunca haviam demorado tanto para conseguir votar.

Desde as 8h da manhã, quando os portões da escola Fiap, na avenida Lins de Vasconcelos (parte da zona eleitoral da Vila Mariana), se abriram para os eleitores, o fluxo de pessoas entrando e saindo da sala foi intenso.

A biometria foi, de longe, a maior fonte de confusão na seção. Eleitores ficavam surpresos quando solicitávamos as digitais e repetiam que não haviam feito o cadastro no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). O caderno de votação informava, no lugar dos que não tinham as fotos, que outros órgãos haviam fornecido a informação, caso dos departamentos de trânsito.

Na quarta eleitora do dia, por volta das 8h30, aconteceu a primeira falha na coleta. Ela era massagista e, pela profissão, disse, já esperava que a biometria não funcionasse.

Nesse caso, a urna obriga o eleitor a tentar quatro vezes, com o polegar ou o indicador. Em caso de negativa, pede a confirmação do ano de nascimento. Com a informação certa, é possível, então, ir à urna.

A diferença entre quem consegue usar a biometria e quem não consegue é que o segundo grupo precisa, obrigatoriamente, assinar o caderno de votação. Os que têm sucesso no uso da biometria podem passar sem assinar.

Pessoas dedicadas a trabalhos manuais e mais velhas foram as que mais vivenciaram dificuldades com a biometria. Por outro lado, alguns mais jovens, com títulos e documentos feitos durante a pandemia, nem sequer eram cadastrados e votavam usando apenas a assinatura no caderno.

Esse processo de tentativa e erro é demorado, e os eleitores se acumularam nas portas das salas. Mesários foram deslocados das seções originais para auxiliar em outras mais lotadas na mesma escola.

Na seção desta repórter, a urna funcionou normalmente. Várias vezes ao longo das nove horas de pleito, foi mostrado o sinal para que a cabine fosse verificada --a mensagem é exibida no terminal do mesário, que então é obrigado a ir até a urna checar o seu status.

Em todas, contudo, não havia interferência de santinhos, danos ao teclado ou qualquer problema digno de anotação na ata em que são registradas ocorrências.

O histórico de ataque às urnas eletrônicas pelo presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) criou a expectativa de que o clima fosse tenso. Na seção observada, porém, as teorias da conspiração de que as urnas estariam corrompidas ficaram restritas a comentários tímidos.

Uma eleitora, por exemplo, disse em tom irônico que o marido, em outra sala, precisou votar mais tarde porque a urna estava quebrada.

A polarização política, no entanto, não se provou um problema. Era até mesmo difícil constatar a preferência dos que ali passavam. Em sua maioria, os eleitores estavam com roupas neutras e evitavam comentários partidários explícitos.

Uma única eleitora apareceu com identificação explícita de apoio a Lula (PT): uma toalha pequena amarrada na bolsa. Adesivos de candidatas de esquerda ao Legislativo, como Sâmia Bomfim (PSOL) e Carina Vitral (PCdoB), complementavam o visual.

As camisas da seleção brasileira foram mais frequentes, mas, mesmo assim, não eram numerosas. A camisa "meu partido é o Brasil" foi mais vista na rua, durante o almoço, do que na seção em si.

Era mais fácil, portanto, perceber o voto de eleitores que, com descuido, deixavam suas colas à mostra ou, no caso dos que votaram acompanhados dos filhos, pelos sussurros com que instruíam os pequenos a apertarem cada número.

"Esse é o Bolsonaro?", disse uma criança, logo repreendida pelo pai.

"Agora aperta duas vezes esse... Parabéns, cara, você votou!", comemorou outro pai.

O clima tenso também deu lugar à emoção no caso dos votantes em trânsito --eleitores que avisaram previamente que gostariam de participar fora do domicílio eleitoral. Entre eles, a adesão foi quase total na seção. Alguns, inclusive, choraram ao usar a urna.

"Vim aqui para votar no homem, né?", disse um, orgulhoso e enigmático.


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