BRASÍLIA, DF, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em feito inédito, duas mulheres trans ocuparão cadeiras na Câmara dos Deputados a partir de 2023. Erika Hilton (PSOL-SP) e Duda Salabert (PDT-MG) se tornaram neste domingo (2) as primeiras parlamentares transgênero da história do Congresso Nacional.
Vereadora da cidade de São Paulo (SP), Hilton recebeu quase 257 mil votos. Ela foi a nona parlamentar mais votada no estado e a mulher mais votada entre as candidatas do PSOL.
Salabert, que é vereadora em Belo Horizonte (MG), teve pouco mais de 208 mil votos e terminou em terceiro na disputa estadual, ficando atrás apenas de Nikolas Ferreira (PL) e André Janones (Avante).
A primeira travesti em cargo político no Brasil foi Kátia Tapety, vereadora em Colônia do Piauí (PI), em 1992. As candidaturas, porém, vêm ganhando força nos últimos ciclos eleitorais. Em 2018, São Paulo elegeu Erica Malunguinho (PSOL), a primeira deputada estadual travesti do país. O Legislativo federal, porém, seguia sem representantes do grupo.
A Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) contabilizou 38 candidaturas para o Congresso neste ano. Destas, apenas duas são de pessoas identificadas como não-binárias -ou seja, que não se encaixam nos gêneros homem e mulher- e duas de homens transexuais.
As demais candidatas se identificam como mulheres trans ou travestis. E, apesar de não eleitas, outras candidaturas tiveram votações expressivas. É o caso da co-deputada estadual Robeyoncé Lima (PSOL-PE), que recebeu mais de 80 mil votos, mas não entrou na bancada pernambucana.
No Rio Grande do Norte, a vereadora de Carnaúba dos Dantas, Thábatta Pimenta (PSB), recebeu cerca de 40 mil votos, mas também ficou de fora da bancada final. No Distrito Federal, a drag queen Ruth Venceremos (PT) recebeu 31 mil votos, mas não foi eleita.
Ex-estudante de gerontologia da UFSCar e "codeputada" na Bancada Ativista da Assembleia Legislativa de São Paulo, Erika Hilton comemorou a eleição em uma live nas redes sociais.
"A gente está com emoções dúbias, estava com a esperança de chegar eleita e com Lula ganhando no primeiro turno. Não foi isso que isso aconteceu, mas a gente segue atuando, lutando, comemorando, porque a gente precisa celebrar cada passo que a gente dá", afirmou a deputada.
"Vão ser mais 15 dias de batalha para enfrentar o bolsonarismo, mas também serão mais quatro anos de batalha dentro da Câmara", disse.
Em entrevista à Folha de S.Paulo em março deste ano, Hilton prometeu levar à capital federal uma agenda voltada para eixos temáticos como direitos humanos e cultura. Na Câmara Municipal de São Paulo, a parlamentar é a presidente da Comissão de Direitos Humanos, e uma das mais vocais opositoras do prefeito Ricardo Nunes (MDB).
"Brasília vai ser a possibilidade de dar continuidade ao que começamos na Câmara", disse. "Quero federalizar o debate sobre o programa Transcidadania."
Criado durante a gestão de Fernando Haddad (PT) na prefeitura de São Paulo, o programa Transcidadania foca na educação básica da população transgênero e em capacitação profissional.
Salabert também comemorou o resultado em suas redes sociais. "Mesmo com ataques de setores da esquerda, ataques dos ciristas, ameaças de morte da ultradireita, vencemos! Muito obrigada, MG!", escreveu.
Neste domingo, a candidata compareceu à seção de votação, em Belo Horizonte, vestindo um colete à prova de balas. O uso foi recomendação das forças de segurança que fazem escolta da vereadora. Segundo contas de sua assessoria, Salabert recebeu nove ameaças com conteúdo transfóbico ao longo da campanha.
As ameaças partiram de grupos neonazistas, segundo a assessoria da parlamentar. Parte foi feita por carta, em que a pedetista é tratada no masculino e chamada de "perigo para a sociedade".
Candidatas e eleitas trans são alvos constantes de violência política de gênero.
Hilton também foi alvo de ameaças depois de eleita. Em um dos episódios, ocorrido em 2021, um homem que teria se identificado como "garçom reaça" foi até o gabinete da vereadora e tentou encontrá-la, mas foi impedido pela equipe da parlamentar.
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