SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Uma máxima muito ouvida nestes tempos é a de que todo e qualquer voto tem exatamente a mesma importância, não importa como seja ou onde viva. Dar rosto e voz às peças dessa multidão que vai às urnas escolher o presidente da República foi o que motivou a série de reportagens Raízes Presidenciais, que a Folha de S.Paulo começou a produzir em julho e publicará até depois do pleito.

No esforço para acompanhar os impactos da campanha fora das bolhas de redes sociais e longe das metrópoles, partimos para imersões em duas cidades diferentes entre si, mas ligadas por um fio: serem as terras de origem das principais figuras da disputa, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL).

O correspondente do jornal no Recife, José Matheus Santos, abraçou a missão de revelar o quadro em Garanhuns, no agreste pernambucano, onde nasceu o ex-presidente -Lula veio ao mundo em 1945 em Caetés, distrito de Garanhuns que depois viraria município- e este repórter assumiu a cobertura em Eldorado, no interior paulista, onde o atual mandatário passou o fim da infância e a juventude.

Garimpar personagens (o nome no jargão jornalístico para as pessoas escolhidas para representar os pontos de vista de uma história) nos levou a conhecer apoiadores de Lula e Bolsonaro em ambas as localidades que tanto confirmam quanto refutam estereótipos associados às respectivas militâncias.

Nada como sair à rua, tentar entender o universo dos entrevistados e buscar apresentá-los objetivamente e sem julgamentos, mas também sem perder de vista o compromisso com os fatos em meio às mentiras e distorções que proliferam nos grupos de WhatsApp e papos de esquina.

Foi assim que chegamos até moradores como Geraldo Magela, o lulista dono de bar em Garanhuns que compara o ex-presidente a Gandhi e cujo filho votou em Bolsonaro; a gari Narcisa, bolsonarista de prosa fácil que conta com orgulho memórias da convivência com o político em Eldorado e ecoa fielmente o discurso presidencial; ou Darwin, aposentado de barba branca que trabalha como Papai Noel nos fins de ano e que, como raro eleitor declarado de Lula na terra de Bolsonaro, defende os feitos do petista no governo, mas não bota a mão no fogo quando o assunto é corrupção.

São as perspectivas de brasileiros como esses que temos mostrado na série de reportagens publicada em Política, vídeos e em um documentário, lançado na sexta-feira (30), com imagens do jornalista da TV Folha Henrique Santana, também autor do roteiro, e da repórter-fotográfica Luara Olívia.

Com a complexidade desses personagens vem a compreensão de que nem todo bolsonarista necessariamente é estridente ou que um lulista pode se sentir confortável em apoiá-lo mesmo sem conseguir detalhar suas propostas de agora. Nas múltiplas razões que compõem um voto, os Brasis de Garanhuns e Eldorado mostram sua cara.