SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A campanha eleitoral deste ano marcou um refluxo nos efeitos da Lava Jato sobre a política, mas os principais nomes ligados à operação que concorreram conseguiram se eleger.
A operação, que foi fator crucial para a onda antipolítica na eleição de 2018, teve desta vez relativamente pouca lembrança nos principais pleitos do país. A força-tarefa da investigação foi encerrada em 2021.
Ainda assim, o maior símbolo da investigação, o ex-juiz Sergio Moro, se elegeu senador pela União Brasil no Paraná, superando o bolsonarista Paulo Martins (PL) e seu antigo padrinho político, Alvaro Dias, do Podemos.
A mulher dele, Rosangela, também da União Brasil, foi eleita deputada federal em São Paulo. Em sua primeira disputa eleitoral, obteve 217 mil votos.
O resultado menos inesperado foi a eleição para a Câmara do ex-procurador Deltan Dallagnol, pelo Podemos do Paraná.
O ex-chefe da força-tarefa da operação, que pediu exoneração do Ministério Público no ano passado, foi o mais votado no estado, com 344 mil votos.
Outro símbolo da Lava Jato também se aventurou na política, mas não exatamente como candidato. O agente aposentado Newton Ishii, conhecido como Japonês da Federal, virou dirigente no Paraná do partido Agir (o antigo PTC) e participou ativamente da campanha de um policial civil chamado Fábio Nakashima.
Ex-chefe de escolta da PF em Curitiba, ele se tornou conhecido nacionalmente por aparecer em reportagens na TV e nos jornais conduzindo os presos da operação. Motivou a produção de máscaras de Carnaval em 2016, além de inspirar uma marchinha sobre seu papel na Lava Jato e de ter lançado uma biografia em livro.
O nome de urna do candidato à Câmara era "Japonês da Federal - Japa Civil", e a campanha nas ruas e na internet inclusive confundia, sob o mote do "mandato coletivo", quem era de fato a pessoa registrada na Justiça Eleitoral.
Ishii, nas redes, apelou ao bolsonarismo e ao antipetismo, apesar de o Agir integrar no plano federal a chapa do ex-presidente Lula. Acabou fazendo apenas 2.765 votos e não se elegeu.
O discurso anti-PT, aliás, ao lado da retórica sobre combate à corrupção, foi fartamente explorado pelos quatro candidatos mais ligados à operação. A estratégia foi conveniente sobretudo no Paraná, onde o bolsonarismo manteve a força na campanha deste ano.
Deltan, em meio à campanha, resolveu polemizar com o youtuber Felipe Neto sobre os processos do ex-presidente Lula. "Vai ler o processo, Felipe!", disse, em vídeo.
O ex-procurador também foi à sede do STF (Supremo Tribunal Federal) gravar uma peça crítica à corte, que motivou ordem da Justiça Eleitoral para a retirada do ar. O tribunal foi ao longo do mandato um dos principais alvos de apoiadores de Bolsonaro.
Por meio de vaquinha, o ex-procurador levantou R$ 270 mil para financiamento de sua campanha.
Deltan teve como sombra em sua candidatura, desde a pré-campanha, punição imposta pelo Tribunal de Contas da União por gastos com diárias de procuradores na Lava Jato, já que o procedimento poderia deixá-lo inelegível. O Tribunal Regional Eleitoral do Paraná ainda tinha na semana passada pedidos de adversários pendentes de análise.
Rosângela Moro também esteve às voltas com questionamentos sobre sua candidatura, em razão da transferência do domicílio eleitoral do Paraná para São Paulo, mas acabou conseguindo aval para concorrer.
O ex-juiz foi presença frequente em sua campanha, inclusive no horário eleitoral em São Paulo. Dizia ser um "marido orgulhoso" e que "ela representa os valores e princípios da Lava Jato".
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