BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Aliados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) avaliam que uma provável aliança com Simone Tebet (MDB) no segundo turno deverá ampliar o apoio de ruralistas ao petista.
Tebet é senadora do Mato Grosso do Sul e ligada ao agronegócio. Ela obteve quase 5 milhões de votos -pouco mais de 4% dos votos válidos.
No primeiro turno, Lula conseguiu 48,4% dos votos válidos e vai enfrentar o presidente Jair Bolsonaro (PL) no dia 30 de outubro.
A senadora, que concorreu à eleição presidencial pela primeira vez, afirmou a senadores próximos a ela que deve apoiar Lula no segundo turno. Tebet adotou postura de enfrentamento a Bolsonaro na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Pandemia, o que deu projeção a ela.
Além da aliança política com Tebet, os responsáveis pela aproximação de Lula com os ruralistas planejam intensificar reuniões com empresários do setor.
"Precisamos fazer isso não apenas no Mato Grosso, mas no interior do estado de São Paulo, na Bahia, onde a votação do Lula já foi boa, e também em setores específicos, como do algodão e do etanol", disse o senador Carlos Fávaro (PSD-MT).
Além de Fávaro, a equipe de Lula para reduzir a resistência no agronegócio é formada pelo empresário Carlos Augustin e por Neri Geller (PP-MT), deputado federal e ex-ministro de Dilma Rousseff (PT).
Os três devem se reunir com os coordenadores da campanha de Lula, em São Paulo, para discutirem a estratégia para o segundo turno.
"Não dá para subestimar o Bolsonaro. Apresentar propostas para o setor é uma das saídas para continuar trabalhando nesse segundo turno", afirmou Geller.
Para Augustin, a resistência do setor à candidatura de Lula deverá mudar. "O agro historicamente nunca foi politizado assim. A bancada ruralista [no Congresso] é pragmática e vai querer se aproximar [se Lula ganhar]".
O ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), candidato a vice na chapa com o petista, foi escalado para fazer a ponte com ruralistas e atrair votos no terreno de forte tendência bolsonarista.
Membros da bancada ruralista e empresários listam uma série de medidas adotadas no governo Bolsonaro que ampliaram a avaliação positiva da atual gestão no campo, apesar dos percalços relacionados à imagem do país no exterior devido à questão ambiental.
Bolsonaristas comemoram o resultado apertado no primeiro turno e criticam pesquisas de intenção de voto, que mostravam uma tendência de descolamento maior entre os dois principais candidatos.
Aliados de Lula afirmam que, por causa da consolidada ligação do bolsonarismo com o agronegócio, a campanha petista, até o primeiro turno, não se aproximou tanto do setor.
Alckmin cancelou uma viagem a Mato Grosso, no fim de setembro, após informações de que apoiadores de Bolsonaro se organizavam para tumultuar as agendas dele em Cuiabá.
Por outro lado, grandes empresários do agronegócio entraram de vez na campanha bolsonarista.
Em um tour por cidades do agronegócio, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) conseguiu, em questão de poucas horas, impulsionar as doações para a campanha à reeleição de Bolsonaro. Representantes do setor em outros estados, como Rio Grande do Sul, também figuram entre os grandes doadores.
"Temos que intensificar a campanha neste segundo turno. Agora é hora de trabalhar. Vence quem trabalha mais", disse o presidente do sindicato rural de Sinop, Ilson José Redivo.
O Movimento Brasil Verde e Amarelo, que reúne quase 200 entidades do setor, articulou o desfile de tratores e levou carros de som para a Esplanada dos Ministérios nas comemorações do 7 de Setembro, além de bancar outdoors a favor de Bolsonaro e financiar a ida de apoiadores do presidente a Brasília.
O grupo foi criado por empresários do agronegócio em 2017 com foco na defesa de pautas do setor, principalmente para resolver o problema da dívida bilionária com o Funrural (Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural).
Após a eleição de Bolsonaro, o grupo começou a promover eventos em Brasília e em outros estados em apoio a agendas do governo e ao próprio presidente.
Mas alguns integrantes decidiram entrar para a política e se lançaram candidatos na eleição de 2022. Um deles é o ex-presidente da Aprosoja (Associação Brasileira dos Produtores de Soja), Antonio Galvan, que se licenciou do cargo para se dedicar à campanha ao Senado pelo Mato Grosso. Ele não conseguiu se eleger.
Galvan perdeu para o senador Wellington Fagundes (PL), que foi reeleito e pretende agora se dedicar mais à campanha do presidente.
No Congresso, a bancada ruralista, uma das mais influentes e que reúne cerca de 300 parlamentares, faz parte da base de apoio de Bolsonaro.
Para esses líderes ruralistas, a resistência atual à chapa petista foca principalmente a figura de Lula e seus discursos voltados à militância, mas extrapolam para o entorno radical do ex-presidente -como PSOL e Rede-, que emite duras críticas ao setor.
A preocupação com a invasão de terras é um dos principais motivos citados por lideranças rurais para manterem o apoio à reeleição de Bolsonaro. A campanha do atual presidente tem usado esse ponto para tentar neutralizar a tentativa de aproximação de Lula do setor agropecuário e a ideia é reforçar essa estratégia no segundo turno.
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