SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Embora os paulistas tenham optado por renovação na eleição para governador, o movimento não se repetiu na votação para a Assembleia Legislativa: 55 vencedores no domingo (59% do total) foram deputados estaduais em busca de reeleição.

Assim, houve uma renovação em 39 assentos, ou 41% do total. Na última eleição, em 2018, os números foram quase ao contrário: naquele ano, foram 56 nomes estreantes e 38 reeleitos, e candidatos ligados ao hoje presidente Jair Bolsonaro (PL) tiveram votações expressivas.

"A eleição de 2018 foi um pleito de mudança revolucionária, e era natural ter uma grande renovação. O atual parece ser mais de continuidade da polarização já existente", analisa Leandro Consentino, cientista político e professor do Insper.

Dados históricos da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) mostram que 2018 foi um ponto fora da curva. Nas eleições de 2010 e 2014, houve também uma taxa elevada de reeleição, acima de 60%. O plenário paulista tem ao todo 94 assentos.

Na eleição atual, a lista de estreantes traz vários nomes bastante conhecidos na política. O maior exemplo é Eduardo Suplicy (PT), 81, que foi deputado estadual no fim dos anos 1970 e reassume o cargo quase 40 anos após deixá-lo.

Também pelo PT chegam dois ex-secretários municipais da gestão de Fernando Haddad (2013-16), Simão Pedro e Antonio Donato, que também já atuaram no Legislativo.

A renovação traz ainda familiares de políticos, como Capitão Telhada (PP), filho de Coronel Telhada (PP), ex-comandante da Rota que tentou ser deputado federal, mas não se elegeu, e Ana Carolina Serra (Cidadania), mulher do prefeito de Santo André, Orlando Serra (PSDB). E Bruna Furlan (PSDB), filha do prefeito de Barueri, Rubens Furlan (PSDB), será deputada estadual pela primeira vez, após dois mandatos como deputada federal.

"Há fundos eleitorais vultosos para parlamentares que estão em seus mandatos, cláusulas de desempenho e outras condições que favorecem nas disputas eleitorais quem já está no poder", avalia Consentino.

Entre os 55 reeleitos, há veteranos como Barros Munhoz (PSDB), que conquistou seu sétimo mandato na Alesp, Ênio Tatto (PT), que chegou ao sexto termo, e Carlos Giannazi (PSOL), que obteve o quinto período.

Já 25 deputados estaduais não conseguiram se reeleger. Entre eles, está Campos Machado, 82, que cumpriu oito mandatos seguidos e estava na Alesp havia 35 anos. Machado fez carreira no PTB, mas deixou o partido em 2020, por criticar a aproximação da legenda com Bolsonaro. Ele disputou --e perdeu-- a eleição pelo Avante.

Outro derrotado foi Fernando Cury (União Brasil), que somou 35 mil votos. Ele foi suspenso por seis meses após ser acusado de apalpar os seios da parlamentar Isa Penna (PC do B), em dezembro de 2020. Penna disputou o cargo de deputada federal, recebeu 31 mil votos e também não foi eleita.

Já entre os vencedores que assumem cargos eletivos primeira vez, há Bruno Zambelli (PL), irmão da deputada federal Carla Zambelli, que foi reeleita, e Tomé Abduch (Republicanos), coordenador do Movimento Nas Ruas, iniciativa de direita que ajudou a organizar vários atos em São Paulo, incluindo motociatas em apoio a Bolsonaro. Os dois tiveram votações acima de 200 mil e ficaram entre os mais votados no estado.

A nova configuração da Alesp terá 33 deputados da coligação de apoio a Tarcísio de Freitas (Republicanos) e 28 ligados a Haddad, do PT. Ambos disputam o segundo turno para o governo do estado. Outros 31 nomes faziam parte da coligação do governador Rodrigo Garcia (PSDB), que ficou em terceiro lugar e saiu da disputa pela reeleição.

Pela primeira vez desde 1995, o PSDB não terá o controle do governo estadual, e negociações nas próximas semanas definirão como os nomes veteranos da Casa se adaptarão a um novo partido no comando do estado.


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