SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O bispo Samuel Ferreira, da igreja evangélica Assembleia de Deus, indicou nesta terça-feira (4) que a imprensa não era bem-vinda em culto que fez parte de agenda de campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Antes de Bolsonaro subir ao púlpito para falar aos fiéis que lotavam a igreja no bairro do Brás, na zona central de São Paulo, o bispo ameaçou de processo veículos de comunicação que registrassem o culto sem autorização.

"Receberemos aqui algumas autoridades que foram convidadas por nós. Somente esses e membros da igreja podem permanecer aqui", afirmou o bispo.

"Se algum órgão de imprensa não autorizado estiver presente saiba que está atrapalhando o bom andamento desta assembleia e saiba que pode ser processado por atrapalhar o culto em local que é guardado pela Constituição. [...] Esse é um assunto de família", completou.

No momento em que Bolsonaro subiu ao púlpito, seguranças da igreja pediram aos fiéis que desligassem os celulares.

Uma fotojornalista da agência Reuters foi expulsa do culto. Depois, uma equipe da Globo foi vaiada por apoiadores de Bolsonaro e teve de deixar o local escoltada por seguranças.

Mais cedo, em outro culto na unidade Belém da Assembleia de Deus, onde Bolsonaro também discursou, parte da imprensa foi impedida de entrar pelos seguranças da igreja. A justificava é que se tratava de um evento fechado.

Participaram dos cultos a primeira-dama Michelle Bolsonaro, o senador recém-eleito Marcos Pontes (PL), a senadora recém-eleita Damares Alves (Republicanos), o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL), além do candidato ao Governo de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos) e da deputada federal Carla Zambelli (PL).

Diante de centenas de fiéis, Bolsonaro lembrou seu batizado nas águas do rio Jordão, em 2016, em Israel, pelo Pastor Everaldo, que chegou a ser preso em 2020 em uma operação da Polícia Federal.

"Não é o momento de falar sobre outras coisas aqui hoje, mas [...] não é novidade que eu sou católico, [que a] a minha esposa é evangélica. Eu fui batizado, [...] eu estava lá no rio Jordão e o pastor me convidou", disse o candidato à reeleição.

A recordação foi compartilhada no mesmo dia em que um vídeo de Bolsonaro discursando em um templo maçônico viralizou nas redes sociais. O conteúdo que sugere ligação de Bolsonaro com a organização foi reprovado por grupos bolsonaristas.

Em 1983, o então cardeal Joseph Ratzinger, que depois se tornou o Papa Bento 16, assinou documento em nome da Santa Sé reforçando "o parecer negativo da igreja a respeito das associações maçônicas".

Segundo Bolsonaro, o batismo no rio Jordão foi um "testemunho público da crença". "E eu respeito qualquer religião e até quem não tem religião, que porventura, pode um dia se descobrir, aceitar, passar a respeitar, se integrar cada vez mais a nossa sociedade", afirmou o presidente, sem mencionar o vídeo em que aparece no templo maçônico.

Além das reminiscências do batismo simbólico, o discurso foi marcado também por ataques ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seu adversário na disputa à Presidência. O atual mandatário foi aplaudido quando disse que "lugar de bandido é na cadeia", em referência ao petista.

Ele voltou a dizer que "certas mudanças podem vir para pior". "Não adianta termos uma Ferrari em casa se o motorista gosta de tomar uma cachacinha de vez em quando. Ele vai capotar a Ferrari."

Em relação à votação no domingo (2), quando obteve 43,2% dos votos válidos, Bolsonaro chamou o resultado de um "milagre".

"Estavam todos contra mim, [...] a grande imprensa, os institutos de pesquisa, parte dos magistrados togados lá da praça dos Três Poderes [em Brasília], outros países de esquerda que querem voltar ao poder", disse Bolsonaro, que ficou atrás de Lula --o ex-presidente teve 48,43% dos votos.

Para virar a eleição no segundo turno, Bolsonaro pediu para as pessoas irem às urnas e citou a abstenção como fator determinante para a vitória do presidente Gabriel Boric, de esquerda, no Chile. "Lá, quem decidiu as eleições não foi quem foi as urnas, foi quem não foi as urnas", disse.

O presidente e pastores também pediram que os fiéis foquem em buscar votos de eleitores nordestinos no segundo turno. "A culpa não é do povo nordestino", disse o presidente no culto. "Lá eles foram administrados por muito tempo por pessoas desse partido político", completou.

Após peregrinar entre os evangélicos, Bolsonaro foi ao Hospital das Clínicas, por volta das 22h, visitar dois policiais militares baleados em uma seção eleitoral no domingo.

Bolsonaro desistiu de utilizar a entrada principal, onde o esquema de segurança o aguardava. A comitiva do presidente tomou a medida diante da presença de um grupo que protestava contra o presidente.

Dezenas de profissionais da saúde e estudantes exibiram cartaz no qual dizia 700 mil mortes. Uma alusão aos óbitos em decorrência da Covid-19.

Dentro do hospital, apoiadores e críticos cercaram Bolsonaro. O presidente conversou com os familiares dos policiais. O HC não informa o estado de saúde dos policiais.

O crime ocorreu na Escola Estadual Deputado Aurélio Campos, no bairro Cidade Dutra, zona sul da capital. Uma PM foi atingida no abdômen, enquanto seu colega foi atingido na cabeça e no ombro.


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