SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Líder em votos na eleição a deputado federal por São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL) afirma que, apesar do avanço da direita, a esquerda também teve vitórias importantes no Congresso.

Ele cita a eleição de deputadas transexuais, indígenas e a expressividade da própria votação comparando-a com a de Eduardo Bolsonaro (PL). No Congresso, o novo parlamentar afirma que pretende reeditar em forma de lei políticas adotadas pelo movimento sem-teto.

Membro da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o psolista também afirmou que o apoio de Ciro Gomes à campanha de Lula é importante e minimizou o impacto da adesão de Rodrigo Garcia a Bolsonaro.

Agora, diz, é importante dialogar com o eleitor da terceira via e com quem não foi votar no primeiro turno.

PERGUNTA - Qual a avaliação do impacto nacional e no estado após Rodrigo Garcia anunciar apoio incondicional a Tarcísio e Bolsonaro?

GUILHERME BOULOS - O Rodrigo Garcia reeditou a farsa do BolsoDoria que nós tínhamos visto já há quatro anos. É lamentável que não entenda os riscos para a democracia. Agora está sofrendo questionamentos dentro do seu próprio partido, imagina do eleitorado. Não acredito que o eleitorado que votou no Rodrigo vá acompanhar essa decisão desastrosa.

P. - Ciro Gomes, por sua vez, anunciou seguir a decisão do PDT de apoiar Lula, sem citar o nome dele e de forma tímida. Esse tipo de apoio ajuda?

GB - O Ciro declarou apoio ao Lula. E o PDT declarou apoio ao Lula. Isso é muito importante. Não apenas o Ciro, mas o partido que está capilarizado em nível nacional.

Acredito que houve uma antecipação de voto útil que diferencia as pesquisas de vésperas e as urnas. Quem era eleitor do Ciro ou da Simone [Tebet] propenso a votar no eleitorado já votou. Eu acredito que a maior parte do eleitorado de Ciro e Simone virá para o Lula.

P. - Houve algum erro na campanha de Lula que tenha causado uma performance melhor de Jair Bolsonaro (PL) do que se esperava e há algo a se mudar?

GB - Eu entendo o nó na garganta e o sentimento das pessoas de frustração por não ter uma vitória no primeiro turno. Mas vamos lembrar que a esquerda nunca ganhou uma eleição no primeiro turno na eleição presidencial, mesmo quando o Lula saiu do governo com mais de 80% de aprovação. A campanha conquistou 57 milhões de votos, que foi a maior votação de um candidato em primeiro turno. O Lula está seis milhões de votos à frente do Bolsonaro. Então não acho que seja o caso de correções de rota.

Eu acho que a nossa campanha vai ter que dialogar com eleitores que apostaram numa terceira via. Uma parte importante desses eleitores, embora não tenha Lula como primeira opção, rejeita Bolsonaro pelo governo trágico. E fazer um diálogo com eleitores que não foram votar. Uma parte expressiva da abstenção foi em regiões onde o Lula tem votação maior.

P. - Bolsonaro também conseguiu apoios, incluindo do governador Romeu Zema (Novo), de Minas. Qual é o impacto desses apoios? -

GBApoio do Zema e Cláudio Castro surpreende um total zero de pessoas. Ambos já estavam articulados com Bolsonaro desde o primeiro turno. Para não ter problema nos estados, não tinham declarado de maneira pública porque queriam puxar o eleitorado do Lula. Agora tanto o Cláudio Castro como o Zema já eram do time do Bolsonaro, isso não é nenhum apoio novo.

P. - No estado, como avalia a estratégia de Haddad de centrar críticas em Rodrigo Garcia. Isso não ajudou Tarcísio?

GB - Quem está no governo é o Rodrigo Garcia. O Haddad é candidato de oposição. Não faz sentido fazer campanha sem questionar o governo do Doria e Rodrigo Garcia. Agora, o Haddad não poupou o Tarcísio, teve embates duros nos debates de televisão.

P. - Existe alguma pauta do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) que o senhor pretende encampar prioritariamente como deputado?

GB - O centro do mandato que vou ter na Câmara vai ser combate à desigualdade, que é o maior drama brasileiro. Tem duas iniciativas que são muito importantes que o MTST já desenvolveu e eu quero levar para transformar em projetos de lei.

Uma é a política de cozinhas solidárias, movimento fez isso sem ter a caneta na mão, com apoio, doações, que está matando a fome milhares de pessoas pelo Brasil. A segunda é um programa de moradia popular, Bolsonaro acabou com o Minha Casa Minha Vida.

P. - Movimentos de moradia tinham algumas críticas ao programa por excluir parte da população pobre e lançamentos para faixas salariais mais altas. Vale voltar o programa ou é preciso criar outro?

GB - Um novo programa de habitação tem que aprender com acertos e erros do programa anterior. Minha Casa Minha Vida construiu 5 milhões de casas, colocou subsídio para as famílias que mais precisavam.

Agora, a experiência que teve inclusive dentro do Minha Casa Minha Vida, que é o de entidades, movimentos sociais fazendo gestão direta das obras, em regime de mutirão, os futuros moradores poderem construir sua própria casa, é uma experiência que eu vou trabalhar para que seja valorizada.

P. - A direita cresceu no Congresso nestas eleições, incluindo pessoas ligadas ao presidente. As pautas de esquerda defendidas pelo senhor não podem ficar inviabilizadas com essa composição?

GB - Não, se você olhar a bancada bolsonarista é minoritária no Congresso. É verdade que a direita elegeu nomes para o Parlamento, mas também é verdade que a esquerda teve vitórias importantes.

P. - Quem imaginaria que um líder do movimento sem-teto, muito estigmatizado, seria o deputado mais votado de São Paulo, acima do filho do presidente?

GB - Quem imaginaria que se elegeria uma mulher negra trans ou duas mulheres indígenas, um pastor negro de esquerda? Então, eu não acho que a eleição para o parlamento significou somente uma força da direita, significou também uma força do elemento de renovação da esquerda.

P. - O partido do senhor, o PSOL chegou a se dividir sobre o apoio a Lula, do mesmo campo ideológico. O senhor acha que o partido estaria disposto a negociar com o centrão em nome da governabilidade caso Lula seja eleito?

GB - O PSOL decidiu por uma maioria significativa o apoio ao Lula. Entrou de corpo e alma na campanha do Lula. Eu coordeno a campanha do Lula em São Paulo. O PSOL entrou na campanha do Fernando Haddad, apontando a unidade necessária para derrotar o bolsonarismo.

Certamente o PSOL vai estar comprometido com reconstrução do Brasil, que seja popular, que avance nos direitos sociais, mantendo a coerência com o que sempre defendemos, um projeto que sirva maioria a mais pobre. O programa do Lula propõe do teto de gastos, revogação da reforma trabalhista, uma reforma tributária com taxação das grandes fortunas.

P. - Em nome de aliança mais ampla com a direita, essas políticas não podem acabar escanteadas?

GB - Eu não acho, porque hoje precisamos criar a frente democrática mais ampla para derrotar o pior governo da nossa história. O Lula também sabe perfeitamente que vai ser preciso uma resposta à situação de miséria que o Bolsonaro deixou o Brasil, com 33 milhões com fome, com desemprego alto, inflação, e tenho certeza que o Lula será presidente para cumprir esses compromissos.

P. - A Câmara teve eleição de mulheres trans e indígenas, grupos que são alvo de violência, incluindo violência política. O senhor acha que esse tipo de situação pode se repetir no Congresso?

GB - O bolsonarismo forjou um ambiente de violência política muito preocupante no Brasil. Isso acontece nos espaços de poder, no Parlamento, isso acontece nas ruas, vimos três pessoas serem assassinadas durante a campanha por serem de esquerda. O primeiro passo para inibir a violência política é derrotar o Bolsonaro.

P. - Durante um ato de campanha do senhor, um adolescente do MBL foi agredido por militantes. Uma reação assim não alimenta o clima de violência política?

GB - Eu não defendo nenhuma forma de agressão. Deixei isso muito claro quando aconteceu o episódio. Também ficou claro que houve uma armação por um grupo que usa táticas bolsonaristas como é o MBL de infiltrar uma pessoa se utilizando de um menor de idade para ir fazer provocação à nossa campanha e depois querendo criar um fato político junto com um policial militar bolsonarista.

P. - Há um acordo para que o senhor seja candidato com apoio do PT à Prefeitura de São Paulo. Como o apoio de Rodrigo Garcia a Bolsonaro e uma eventual aliança do prefeito paulistano Ricardo Nunes (MDB) com esse grupo pode afetar o quadro para 2024?

GB - Meu foco está voltado em eleger o Lula e o Haddad. Agora é inacreditável a postura do Ricardo Nunes, um prefeito que a maior parte da cidade não conhece, por isso se utiliza desse desconhecimento fazendo uma gestão trágica e ainda se associando ao bolsonarismo ao lado do Rodrigo Garcia por um cálculo eleitoral mesquinho, antecipado de 2024.


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