SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - "Estamos na luta para ver isso?", pergunta um integrante de grupo da militância bolsonarista em mensagem por aplicativo após ver, pela transmissão da TV na tarde desta segunda-feira (28), o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-RJ) na plateia do jogo entre Brasil e Suíça na Copa do Mundo.
"Achei uma puta falta de respeito o Eduardo Bolsonaro estar no Qatar assistindo à Copa enquanto a gente fica implorando ajuda das FAA", "se o Eduardo largou de mão e foi para Copa, o problema é dele, eu vou continuar lutando pelo Brasil" e "Eduardo Bolsonaro tirando onda na Copa..." são algumas das várias mensagens desses grupos, que acusam o filho do presidente Jair Bolsonaro (PL) de abandonar a empreitada que pretende deslegitimar a eleição.
Eduardo aparece sorrindo para uma foto ao lado da mulher Heloísa Bolsonaro e de um homem fantasiado que segura uma réplica da taça. Em um vídeo que circula nos grupos, o frame da transmissão é colocado ao lado de dramática imagem de apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) protestando sob vento forte e chuva.
A aparição repentina de Eduardo na Copa, em meio ao longo período de reclusão do clã Bolsonaro após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), irritou os bolsonaristas mais radicais, que estão há 27 dias acampados em áreas militares de algumas cidades do Brasil, como São Paulo e Brasília.
Apesar da revolta, também surgiram nos grupos mensagens conspiracionistas de confiança no filho do presidente. Ele estaria no Qatar não apenas para assistir aos jogos, mas por alguma motivação política oculta, segundo sugeriu uma integrante de um grupo de "resistência civil".
Outra afirmou que não era para esquecer que Bolsonaro havia viajado à Rússia para comprar fertilizantes. Em seguida, ela escreve entre parênteses "armamento para as Forças", dando a entender que o presidente, na verdade, teria comprado arma para o Exército, e não insumos agrícolas, quando encontrou Vladimir Putin.
Alguns comentários, entretanto, parecem ser de infiltrados lulistas, como um que diz ser muito desanimador estar na frente do quartel. Esse tipo de conteúdo logo é denunciado pela patrulha que não quer deixar o clima nos grupos esfriar.
Outra pessoa relembrou que a família Bolsonaro não poderia comparecer aos atos, diante do cunho golpista, e que a relação principal da militância é com as Forças Armadas, que representariam um suposto poder moderador capaz de intervir contra a vitória de Lula.
Um militante disse que Eduardo Bolsonaro está rodando mundo para repassar as notícias do Brasil e trabalhando "junto com o argentino" nas pesquisas sobre as urnas. O argentino é o consultor político Fernando Cerimedo, o primeiro a aparecer com relatórios sobre fraude nas urnas e que se tornou um herói para bolsonaristas. Suas informações já foram refutadas por especialistas.
Outro membro escreveu que qualquer um que tente colocar Bolsonaro contra os atos antidemocráticos vem do "sistema". Integrantes dos grupos entendem por sistema um falso conluio que reuniria imprensa, Judiciário e PT.
Um militante respondeu que "o general" já foi claro ao passar o recado de que todos devem permanecer nos quartéis, mas não citou seu nome.
Qualquer suposto sinal emitido pelas Forças Armadas, como um membro do Exército filmando a manifestação de dentro do quartel, é interpretado como endosso à pauta golpista.
Um nome que aparece em grupos de Telegram como suposto apoiador, por exemplo, é o do Brigadeiro Baptista Jr., comandante da Força Aérea Brasileira, por este ter curtido publicações no Twitter como "SOS restabelecimento da Lei e da Ordem!", "SOS FAA" e "Forças Armadas, salvem o Brasil", o principal grito de guerra dos acampados.
Desde a derrota de Bolsonaro, vários grupos de conversa compartilham vídeos e trocam mensagens motivacionais diárias para a permanência nas ruas. Há pessoas acampadas há quase um mês, como no caso do Comando Militar do Sudeste, próximo ao Parque do Ibirapuera, em São Paulo.
Alguns grupos de Telegram e de WhatsApp foram derrubados por ordem de Alexandre de Moraes, presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), mas eles se realinham em outros espaços, com nomes não relacionados aos atos antidemocráticos.
Entre as principais recomendações dos grupos está a de não falar o nome de Bolsonaro nos atos. O silêncio do presidente também é interpretado como apoio à pauta.
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