BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Um mês após a derrota na eleição presidencial para Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o presidente Jair Bolsonaro (PL) tem saído discretamente do isolamento a que se impôs desde o anúncio do resultado das urnas.
De acordo com o seu entorno, o mandatário já está menos deprimido com a derrota, mas ainda quer se manter recluso. Aos poucos, ele tem retomado uma agenda de reuniões fora do Palácio da Alvorada, a residência oficial.
A reclusão do mandatário, as poucas palavras ditas em público no último mês e a ação golpista de seu partido, o PL, para questionar o resultado eleitoral acabaram sendo vistos como um estímulo velado a atos antidemocráticos de apoiadores em frente a quartéis.
Durante sua reclusão pós-derrota eleitoral, Bolsonaro se ocupou em acomodar aliados e a discutir temas do futuro do seu grupo político na oposição. Entre eles, a disputa para a presidência do Senado.
Todas as conversas têm sido a portas fechadas e, em sua maioria, no Palácio da Alvorada. Na semana passada, ele recebeu senadores aliados cotados para disputar a presidência da Casa: Tereza Cristina (PP-MS), Rogério Marinho (PL-RN), Eduardo Gomes (PL-TO) e Carlos Portinho (PL-RJ). Seu filho mais velho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), participou da reunião.
De acordo com interlocutores do chefe do Executivo, sua preferência hoje é pelo nome de Marinho na disputa. O senador foi seu ministro de Desenvolvimento Regional e é visto como alguém com bom trânsito no Congresso.
Caso se lance na corrida pelo comando do Senado, Marinho deve enfrentar o atual presidente, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
De acordo com aliados, na semana passada Bolsonaro trabalhou para garantir que dois juízes federais indicados para o STJ (Superior Tribunal de Justiça), Messod Azulay Neto e Paulo Sérgio Domingues, fossem aprovados no Senado.
Integrantes do Judiciário e aliados de Lula queriam deixar a votação para o ano que vem, mas os indicados foram chancelados pelos senadores.
Por outro lado, Bolsonaro também indicou aliados para agências reguladoras e para a Comissão de Ética da Presidência da República.
Na semana passada, ele nomeou para a Comissão de Ética Pública da Presidência seu ministro da Secretaria de Governo e braço direito, Célio Faria Jr. Trata-se de um dos auxiliares mais próximos do mandatário e um dos que mais tem estado com Bolsonaro durante seu período de reclusão no Alvorada.
Outro indicado para compor o colegiado é o assessor especial da Presidência João Henrique Nascimento de Freitas.
As nomeações foram publicadas em edição extra do Diário Oficial da União na sexta-feira (18). Os cargos funcionam com mandatos --portanto, são indemissíveis e integrarão o colegiado durante boa parte do terceiro mandato de Lula.
Além deles, Bolsonaro indicou para a ouvidoria da Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários) Luciana Lauria Lopes, que é assessora especial da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE). Ela também é esposa de Freitas, indicado por Bolsonaro para a Comissão de Ética.
No mesmo Diário Oficial de 18 de novembro, Bolsonaro indicou Edgar Ribeiro Dias para ouvidor da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Ele é chefe de gabinete de Célio Faria Jr.
Outros três nomes foram indicados pelo chefe do Executivo para agências reguladoras no mesmo dia. Todos deverão passar pelo crivo do Senado.
Desde a última quarta-feira (23), o presidente deixou por três vezes a residência oficial, o Palácio do Alvorada, para ir ao seu local de trabalho, o Palácio do Planalto.
Em todas as ocasiões, ele não chegou a passar mais de cinco horas no local.
Neste período de um mês após a derrota, Bolsonaro evitou discursos e declarações públicas. Falou à imprensa apenas uma vez, dois dias depois do resultado do segundo turno --quando pediu desbloqueio de rodovias por apoiadores, mas disse que outras manifestações eram bem-vindas.
Ele deixou de lado a tradição de fazer transmissões ao vivo, as chamadas lives, como vinha fazendo desde o início do mandato.
Nas redes sociais Bolsonaro reduziu suas atividades de forma geral. Em uma das raras publicações, ele publicou nesta terça uma foto sua acima do brasão da República.
O presidente completou nesta terça-feira (29) um mês sem realizar motociatas --eventos que marcaram seu mandato antes da derrota para Lula nas eleições deste ano.
A última vez em que Bolsonaro esteve em uma manifestação e andou de moto com simpatizantes foi no dia 29 de outubro, um sábado, em Belo Horizonte, na véspera da votação.
Após a derrota eleitoral, seus apoiadores mais radicalizados se concentraram nas portas de quartéis para pedir um golpe militar. Ao mesmo tempo, o PL tem sido utilizado para questionar a legitimidade das eleições, embora sem apontar nenhum indício nem prova de fraude.
A tentativa rendeu ao presidente do PL, Valdemar Costa Neto, investigação em inquérito do STF (Supremo Tribunal Federal) e uma multa contra o partido de quase R$ 23 milhões.
Nesta terça-feira (29), Bolsonaro se reuniu no Planalto com o presidente da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro), Eduardo Eugênio Vieira, e com Valdemar.
Além das agendas no Planalto, ele e a primeira-dama Michelle Bolsonaro receberam cerca de 60 crianças para uma cantata de Natal no Alvorada.
O evento foi organizado pelo programa Pátria Voluntária, coordenado por Michelle. Não foram divulgadas fotos oficiais do encontro.
No último sábado (26), o presidente também viajou ao estado do Rio para participar de seu primeiro evento público após a derrota, uma cerimônia militar na cidade de Resende.
Ele permaneceu em silêncio no evento. O vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos) foi visto na cerimônia conversando com Bolsonaro, mas o presidente reagiu de forma apática.
"Falei para ele que tinha aquela porção de gente querendo tirar foto com ele, pedi para ele ir lá tirar foto com o povo, mas ele estava meio triste", disse Mourão nesta terça, sobre a conversa que teve com Bolsonaro.
No período de maior reclusão de Bolsonaro, o próprio Mourão havia dado outra explicação para o sumiço do presidente. Tanto o vice como outros aliados explicaram que Bolsonaro se recuperava de um quadro de infecção bacteriana nas pernas.
Mourão também assumiu um papel institucional que normalmente é de responsabilidade do presidente da República. Ele recebeu no último mês, por exemplo, cartas credenciais de embaixadores estrangeiros que irão atuar no Brasil.
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