SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Desde a redemocratização, os presidentes eleitos deram prioridade à área econômica para anunciar o primeiro escalão do governo federal.
Lula, Dilma Rousseff e Jair Bolsonaro divulgaram seus ministros da Fazenda ou da Economia entre os primeiros nomes de suas equipes, durante ou após a eleição.
Nesta sexta-feira (9), o petista deve anunciar Fernando Haddad no comando do Ministério da Fazenda a partir de 1º de janeiro, além de outros quatro nomes de primeiro escalão.
FHC confirmou inicialmente a pasta da Previdência, após vazamento, e em seguida os titulares da Fazenda e do Banco Central, também após a informação ser antecipada pela Folha de S.Paulo.
Fernando Collor foi uma exceção: nomeou primeiro o ocupante da pasta da Justiça e depois os ministros militares no período de transição governamental, visto que o plano econômico para a contenção dos índices inflacionários ainda estava em preparação.
A ministra da Economia, Zélia Cardoso de Mello, só foi anunciada em 1º de março, apenas 15 dias antes da posse naquele ano.
Jair Bolsonaro (PL) indicou a nomeação de Paulo Guedes para a Economia, ministério que reuniu Planejamento e Fazenda, em 11 de outubro de 2018, dias após o primeiro turno das eleições, quando chegou à segunda rodada em primeiro lugar na disputa contra Fernando Haddad (PT).
No mesmo dia, ele disse em entrevista que também nomearia Onyx Lorenzoni (PL), seu colega na Câmara dos Deputados, para a Casa Civil, e o general da reserva Augusto Heleno para a Defesa -que, no entanto, acabou ocupando o GSI (Gabinete de Segurança Institucional).
Em 2010, após vencer José Serra (PSDB), Dilma Rousseff (PT) divulgou em 2 de dezembro seus primeiros ministros: Guido Mantega para a Fazenda, Miriam Belchior para o Planejamento e Alexandre Tombini para a presidência do Banco Central.
Em 2014, após derrotar Aécio Neves (PSDB) e com o desempenho ruim das contas públicas no ano, a petista anunciou em 27 de novembro Joaquim Levy para a Fazenda, além de manter Tombini no BC e escolher Nelson Barbosa para o Planejamento.
Levy e Barbosa tinham um perfil mais ortodoxo e objetivo de recuperar o superávit fiscal do governo, o que levou a críticas à Dilma pelos setores à esquerda, que preferiam opções mais heterodoxas.
Em 2002, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) venceu Serra e criou mistério para a composição ministerial após desconfianças do mercado com o futuro governo. Em 10 de dezembro, anunciou Antônio Palocci para a Fazenda e Marina Silva para o Meio Ambiente.
Dois dias depois, indicou Henrique Meirelles para o Banco Central, o que acalmou as expectativas econômicas e indicou ortodoxia na política monetária brasileira, com contenção da inflação e responsabilidade fiscal.
Reportagem da Folha mapeou o ritmo de nomeações do petista, que demorou mais de um mês para anunciar os primeiros nomes a compor seu ministério. Para o segundo mandato, Lula não mudou o ministério, alterando a Esplanada durante o governo.
Já Fernando Henrique Cardoso (PSDB), após derrotar Lula em 1994, afirmou que Paulo Renato Souza seria um de seus ministros, mas disse não saber em qual cargo estaria.
Na época se avaliava que poderia ser alocado no Planejamento, mas ele acabou na Educação.
FHC ainda tentou anunciar todos os titulares da Esplanada dos Ministérios ao mesmo tempo, mas os primeiros nomes acabaram vazando e foram confirmados pelo tucano.
O primeiro deles foi Reinhold Stephanes, para a pasta da Previdência. Em seguida, reportagem da Folha antecipou a nomeação de Pedro Malan para a Fazenda, o que foi confirmado pelo então presidente eleito.
A movimentação dos jornais irritou FHC, que passou a chamar as especulações e vazamentos de "ministério Gutenberg", em referência a Johannes Gutenberg, que inventou a prensa e viabilizou a produção de impressos.
O tucano não queria gerar conflitos entre Malan e o titular da área econômica no governo de Itamar Franco, Ciro Gomes --o economista era presidente do BC e respondia a Ciro, e o anúncio gerava mudança de influência entre o chefe e seu subordinado.
Mesmo assim, os nomes vazados pela mídia e confirmados por FHC foram bem-vistos pelo mercado e pela maioria das elites políticas, especialmente pela indicação de aprofundamento do Plano Real.
Já no segundo mandato, a estratégia deu certo, e Fernando Henrique anunciou todas as mudanças em seu primeiro escalão simultaneamente -foram poucos indicados, e a área econômica não foi alterada.
A nomeação de ministros serve de várias formas para um presidente eleito, como a sinalização a setores da sociedade e grupos de interesse, mas a velocidade da indicação depende também de alianças e da formação de uma coalizão para governar.
PRIMEIROS ANÚNCIOS DE MINISTROS (*)
FERNANDO COLLOR (1990-92) (**)
Bernardo Cabral (15.jan.1990), ministro da Justiça
Almirante Mário César Flores (18.jan.1990), ministro da Marinha
General Carlos Tinoco Ribeiro Gomes (18.jan.1990), ministro do Exército
Tenente-brigadeiro Sócrates da Costa Monteiro (18.jan.1990), ministro da Aeronáutica
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
Primeiro mandato (1995-98) (***):
Reinhold Stephanes (26.nov.1994), ministro da Previdência antecipado pela Folha e confirmado por FHC
Pedro Malan (4.dez.1994), ministro da Fazenda antecipado pela Folha e confirmado por FHC
José Serra (14.dez.1994), ministro do Planejamento antecipado pela Folha e confirmado por FHC
Segundo mandato (1999-2002): sem alterações na equipe econômica
Celso Lafer (22.dez.1998), ministro do Desenvolvimento
Luiz Carlos Bresser Pereira (23.dez.1998), ministro da Ciência e Tecnologia
Pimenta da Veiga (23.dez.1998), ministro das Comunicações
Francisco Dornelles (23.dez.1998), ministro do Trabalho
LULA
Primeiro mandato (2003-06):
Antonio Palocci (10.dez.2002), ministro da Fazenda
Marina Silva (10.dez.2002), ministra do Meio Ambiente
José Dirceu (12.dez.2002), ministro da Casa Civil
Henrique Meirelles (12.dez.2002), presidente do Banco Central
Segundo mandato (2007-2010): sem alterações antes da posse
DILMA ROUSSEFF
Primeiro mandato (2011-14):
Guido Mantega (2.dez.2010), ministro da Fazenda
Miriam Belchior (2.dez.2010), ministro do Planejamento
Alexandre Tombini (2.dez.2010), presidente do Banco Central
Segundo mandato (2015-16):
Joaquim Levy (27.nov.2014), ministro da Fazenda
Nelson Barbosa (27.nov.2014), ministro do Planejamento
Alexandre Tombini (27.nov.2014), presidente do Banco Central
BOLSONARO (2019-22)
Paulo Guedes (11.out.2018), ministro da Economia
Onyx Lorenzoni (11.out.2018), ministro da Casa Civil
General Augusto Heleno (11.out.2018), ministro da Defesa
(*) A posse de Fernando Collor ocorreu em 15.mar.1990; a dos demais, em 1º de janeiro
(**) A ministra da Economia, Zélia Cardoso de Mello, foi anunciada por Collor apenas em 1º de março de 1990
(***) Antes de anunciar os primeiros ministros, FHC chegou a dizer em 6.nov.1994 que Paulo Renato Souza estaria na Esplanada, porém sem definir seu cargo; em 21.dez.1994, ele foi nomeado ministro da Educação
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