BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O governo federal fracassou na tentativa de desmobilizar os acampamentos montados por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em frente ao quartel-general do Exército, em Brasília. Manifestantes se mobilizam em frente a prédios militares desde a vitória eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e pedem um golpe contra o petista.

Na última quarta-feira (4), o ministro da Justiça, Flávio Dino, havia afirmado que "até sexta-feira", 6 de janeiro, as mobilizações bolsonaristas seriam resolvidas.

"A condução que eu tenho com o [José] Múcio [ministro da Defesa] é de que estará resolvido até sexta", disse.

No entanto, o que se viu foi o oposto. Além de não ter conseguido expulsar os manifestantes, o governo teve que acionar a Força Nacional para reforçar a segurança da Esplanada dos Ministérios.

Os militantes bolsonaristas reforçaram na última semana a convocação para que Brasília fosse "invadida".

A mobilização funcionou e diversos ônibus com manifestantes contra o PT desembarcaram na capital neste fim de semana. Eles realizam neste domingo um protesto na Esplanada. Por isso, Dino acionou a Força Nacional para atuar no local de sábado (7) até segunda (9).

O ministro afirmou que tomou a decisão "em face de ameaças veiculadas contra a democracia".

Neste domingo (8), o ministro da Justiça disse que tem mantido diálogo com os estados e que bolsonaristas só conseguirão retomar o poder se vencerem a próxima eleição nacional, em 2026.

"Ontem conversei com governadores, inclusive que não são do nosso campo político. Queremos que a lei prevaleça e não haja crimes. Estou em Brasília, espero que não ocorram atos violentos e que a polícia não precise atuar", escreveu nas redes sociais.

A expectativa de integrantes do governo Lula era que houvesse uma desmobilização voluntária após a posse de Lula no último dia 1º. A avaliação era que a decepção com Bolsonaro por não ter tentado fazer uma intervenção militar e o fato de o petista ter assumido o poder acabasse com os acampamentos naturalmente.

No entanto, apesar de ter diminuído o número de manifestantes, parte deles segue nos arredores do quartel-general do Exército em Brasília e em frente a outros prédios militares pelo país. Neste fim de semana, alguns deles entoavam gritos de "agora é tudo ou nada" em referência a possibilidade de tirar Lula da presidência da República.

A Esplanada dos Ministérios está fechada para carros desde sábado (7). Neste domingo, centenas de bolsonaristas seguem para o local com o objetivo de protestar contra o governo e a posse de Lula. A Polícia Militar tem feito a revista das pessoas que querem entrar na área que fica entre os edifícios dos ministérios e a Praça dos Três Poderes.

A rua em frente ao quartel-general do Exército foi fechada e o trânsito nos arredores foi controlado pela Polícia Militar, que fechou algumas faixas de vias no entorno.

A Folha questionou os ministérios da Defesa e da Justiça e a Secretaria de Segurança Pública sobre as mobilizações em frente a quarteis do Exército.

A assessoria da pasta comandada por Dino afirmou que "as conversas com manifestantes antidemocráticos para desmobilização de acampamentos são mantidas pelo Ministério da Defesa".

Os outros dois órgãos não responderam aos questionamentos. Desde que foram indicados para compor o governo Lula, há um claro descompasso entre Dino e Múcio.

Enquanto Múcio já classificou os protestos como "manifestação da democracia" e disse inclusive ter amigos nos acampamentos, Dino diz que "não há base legal" para a ocupação em frente à sede do Exército e usa palavras duras para criticar as manifestações.

No fim do ano passado, uma ação para retirar a manifestação em frente ao quartel de Brasília não teve sucesso.

O governo do Distrito Federal e o Exército fizeram uma operação conjunta para desmontar estruturas vazias para tentar, com isso, incentivar a desmobilização de manifestantes que estão no local desde o fim das eleições.

Bolsonaristas acampados se juntaram no local para evitar o desmonte e xingavam integrantes do governo do DF. Pedras foram jogadas, e pessoas chutaram alguns carros. A operação foi abortada logo em seguida.


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