SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Hutukara Associação Yanomami, que tem como principal liderança Davi Kopenawa, publicou nesta segunda-feira (30) uma nota em que repudia as falas do governador de Roraima, Antonio Denarium (PP), em entrevista ao Painel.
O governador disse que a crise que afeta os yanomamis não é exclusiva do estado, é restrita a alguns grupos e acontece há décadas da mesma forma. Ele também afirmou que não considera possível vincular o garimpo à situação dos indígenas e defendeu que eles se aculturem, ou seja, se integrem aos grandes centros urbanos.
"Tenho 260 escolas em comunidades indígenas. Eles querem ser advogados, professores, médicos. Eu acho correto. Eles [indígenas] têm que se aculturar, não podem mais ficar no meio da mata, parecendo bicho. Eles têm que estar lá com condição, com estrada, escola, posto de saúde, fazendo agricultura deles, produzindo macaxeira, farinha", disse Denarium.
Segundo a associação yanomami, falas do tipo denunciam o grau de preconceito e discriminação a que os indígenas estão sujeitos.
"Nossos modos de vida nos são negados como se fôssemos primitivos, incapazes, inumanos. Longe de se limitar ao discurso político, esse pensamento se refletiu em políticas de tendência genocida que foram implementadas sistematicamente nos últimos anos para inviabilizar a manutenção da vida dos yanomami", afirma o texto.
Denarium é descrito na nota como "cúmplice da tragédia" por promover a atividade garimpeira na região. Segundo a atual ministra da Saúde, Nísia Trindade, o garimpo é a principal causa da crise sanitária dos indígenas de Roraima.
A nota diz ser necessário repudiar a visão colonizadora sobre os povos indígenas que os reduz a "animais, incapazes, ou qualquer subcategoria de sujeitos que devam se submeter aos modos de vida da cidade".
"O povo Yanomami é um dos mais populosos povos indígenas de recente contato no mundo, e detentores de grande conhecimento ancestral sobre a floresta onde vivem. É nosso direito viver na floresta viva segundo nossos costumes, com saúde e vida", conclui.
O governo Lula (PT) declarou emergência em saúde pública no último dia 20, após o presidente receber imagens de indígenas com quadro de desnutrição grave. Ele fez uma visita a Roraima no dia seguinte, o que deu visibilidade à explosão de casos de desnutrição, doenças associadas à fome (como diarreia e infecções respiratórias) e malária no território yanomami.
O ministro Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal), determinou que a PGR (Procuradoria-Geral da República) investigue suspeitas da prática de genocídio e de outros crimes por parte de autoridades do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
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