BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) afirmou que não vê crime na reunião entre seu pai, Jair Bolsonaro (PL), seu colega, Marcos do Val (Podemos-ES), e o ex-deputado preso, Daniel Silveira, na qual foi abordado um plano para realizar um grampo ilegal contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).

Do Val, por sua vez, disse que, após a revelação do caso e sua divulgação de que sairia da política, recebeu diversas ligações de outros parlamentares pedindo para que ele não renunciasse o seu mandato, inclusive do filho do ex-presidente --que o teria convidado para seu partido.

[Uma dessas ligações foi dele, me] chamando para ir para o PL e pedindo para eu não sair, que o país precisava do meu trabalho. E o senador [Rogério] Marinho [PL] a mesma coisa, pegou o telefone e reforçou isso, 'não saia'", disse o capixaba.

Ele afirmou ainda que recebeu ligações não só de Flávio, mas também de Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), Rodrigo Pacheco (PSD-MG), Weverton (PSD-MA), Sergio Moro (União Brasil-PR) e Eliziane Gama (PSD-MA).

No plenário do Senado, Flávio Bolsonaro confirmou a reunião entre Do Val, seu pai, Jair Bolsonaro, e Daniel Silveira, na qual o ex-deputado propôs um plano para gravar ilegalmente Alexandre de Moraes e conseguir uma confissão de que ele teria desrespeitado a Constituição e seus julgamentos.

O senador carioca afirmou que o caso precisa ser esclarecido, mas disse não ver crime.

"Ele já havia me relatado o que tinha acontecido, que isso iria ser trazido à público. Contudo, numa linha de que essa reunião que aconteceu seria uma tentativa de um parlamentar [Silveira] de demover as pessoas que estavam reunião de fazer algo absolutamente inaceitável, absurdo e ilegal. Então o que eu peço aqui é que todos os esclarecimentos sejam feitos", afirmou.

"E eu não digo nem abertura de inquérito, porque a situação que foi narrada não configura nenhuma espécie de crime. Mas que todos os esclarecimentos sejam feitos para que não fiquem narrativas em cima de narrativas no intuito de superar os fatos. Fato é que, no dia 31 de dezembro, o presidente Bolsonaro deixou a presidência", completou.

O caso foi citado por diversos senadores antibolsonaristas no contexto dos atos golpistas de 8 de janeiro e da minuta encontrada na casa do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, atualmente preso.

Humberto Costa (PT) disse que, caso comprovado, este seria o mais grave caso deste contexto.

"Se for verdadeira essa informação trazida por Marcos do Val, [...] nós temos aí indícios muito fortes da participação direta do presidente da República [Jair Bolsonaro, na tentativa de golpe]", afirmou.

"[O caso] traz os elementos que faltam para pedir o indiciamento do ex-presidente da República por atentar contra o Estado. Por isso, iremos propor que seja recolhido o depoimento do senador no inquérito dos atos antidemocráticos", disse, por sua vez, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), afirmou nesta quinta-feira (2) que tomou um "susto" quando viu as notícias relacionadas a Marcos do Val e defendeu que este tema não tem nada a ver com o governo e que cabe à Justiça analisar a situação.

Uma mensagem atribuída ao ex-deputado federal Daniel Silveira, preso nesta quinta pela Polícia Federal por ordem do STF, sugere um plano golpista para gravar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. A mensagem teria sido enviada ao senador Marcos do Val (Podemos-ES).

"Como tivemos pouco tempo, não passei o que entendo como diretriz para que você adapte da sua maneira. Contudo, já tenho escutas usadas pelas operações especiais. Tenho veículo receptor que pode imediatamente reproduzir além da gravação e essa operação ficar restrita a um círculo de 5 pessoas. Três estavam sentados hoje conversando juntos. Se aceitar a missão, parafraseando o 01, salvamos o Brasil", diz o texto da mensagem atribuída a Silveira.

Do Val afirmou à Folha de S.Paulo que recebeu a mensagem depois de uma conversa com Silveira e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O parlamentar não sabe dizer a data, mas afirma que ocorreu após o resultado das eleições e antes da diplomação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no dia 12 de dezembro.

Do Val relata que estava no plenário do Senado quando Silveira o chamou do lado de fora e disse que o ex-presidente Bolsonaro queria falar com ele. O senador, então, conta que Bolsonaro perguntou se os dois poderiam se encontrar pessoalmente --o que ocorreu, segundo ele, alguns dias depois.

O senador afirma que, nesse encontro diante de Bolsonaro, Silveira propôs que ele gravasse o ministro do Supremo e tentasse arrancar dele alguma contradição que pudesse, depois, prendê-lo. O plano, segundo ele, desencadearia uma ruptura a ponto de Lula não assumir a Presidência.

Nesta quinta-feira, durante a madrugada, Do Val fez uma transmissão ao vivo pelas redes sociais afirmando que a revista Veja publicaria uma reportagem mostrando que Bolsonaro tentou coagi-lo a "dar um golpe de Estado junto com ele".

À Folha de S.Paulo o senador dá outra versão. Do Val afirma que Bolsonaro ouviu a proposta, mas ficou em silêncio e se manifestou apenas ao final do encontro, dizendo que iria pensar.

"[Bolsonaro] só ouviu junto comigo, aí eu fiz os questionamentos. A questão da legalidade, e por quê. Aí, na hora de ir embora, a única coisa que o presidente falou foi o seguinte: Vamos pensar", disse à reportagem.


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